Números de suicídio em Angola preocupam psicólogos
Marina Oliveto
31 de janeiro de 2020
Profissionais de saúde alertam que número de casos registados pode ser inferior à realidade e apontam a falta de perspetiva económica e a pressão social como fatores que podem causar perturbações mentais e suicídios.
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As autoridades angolanas receberam mais 2,5 mil notificações de casos de suicídio em Angola nos últimos quatro anos. Os dados foram divulgados pelo Serviço de Investigação Criminal e revelam a necessidade de um olhar mais cauteloso para a depressão no país.
Especialistas angolanos relacionam a incidência de casos de suicídio com a crise económica. O psicólogo e jornalista Fernando Guelengue parece convicto quando sugere que a crise económica e social de Angola está a influenciar o crescimento dos índices de suicídio desde 2014.
"Se de 2013 a 2018 houve um aumento de mais de 2,5 mil casos de suicídio divulgados pelas autoridades isso significa que a crise que começou potencialmente em 2013 - e deu sinais mais evidentes em 2014 - é um dos grandes problemas que estão na origem dos suicídios em Angola", avalia.
Os reflexos do aumento do número de pacientes a procurar ajuda para tratar doenças mentais também pode ser verificado junto aos consultórios de atendimento especializado. O psicólogo Nvunda Tonet diz que o número de pacientes com perturbações mentais tem vindo a aumentar nos últimos cinco anos, tal como o número de consultas.
Tonet afirma que o relatório do hospital psiquiátrico de Luanda em 2019 regista que os casos de perturbações mentais ultrapassam 8 mil anualmente. "Isso nos mostra a necessidade que há de se investir de forma séria em Angola nos cuidados de saúde mental”, sugere.
Quem é mais vulnerável
Para o psicólogo, as pessoas em idade produtiva e as mulheres mais jovens têm perfil mais propenso a cometer o suicídio, justamente por estarem mais expostas à pressão verificada hoje na sociedade angolana.
"Esse ano o Produto Interno Bruto (PIB) não vai crescer mais do que 1%, o que significa que o nível de dificuldades económicas vai continuar o mesmo, as dificuldades da população vão continuar", calcula Tonet.
Número de suicídios em Angola preocupa psicólogos
Diante das diretrizes da Organização Mundial da Saúde, é necessário um trabalho de prevenção para reduzir as taxas de suicídio em 10% ao longo dos próximos anos. Guelengue defende a implementação de políticas públicas, um Plano Nacional para Prevenir e Reduzir os números crescentes de doenças mentais, como medida fundamental.
"Para a saída desse problema, é necessário um plano nacional de prevenção ao suicídio que envolva os ministérios", aponta.
Números podem ser maiores
Guelengue vê a dificuldade de obteção de dados reais sobre o número de mortes por suicídio como um grande desafio em Angola, uma vez que nem sempre os casos são notificados para as autoridades. O psicólogo sugere que número de casos pode ser ainda maior do que o divulgado.
"Ainda não há controle efetivo, intuições de sondagem, instituições de pesquisas, que trabalhem para movimentar muitas informações e recolher dados sobre o suicídio em Angola.
Esses números não são poucos, são números elevados pois existem comunidades longínquas onde se passam problemas de suicídio que não chegam nos órgãos de comunicação social”.
No interior do hospital de campanha de Macurungo na Beira
As estruturas do centro de saúde que é referência no atendimento de cerca de 35 mil pessoas na região foram severamente danificadas com a passagem do ciclone Idai. Hospital de campanha já atendeu dois mil pacientes.
Foto: DW/F. Forner
A rotina
O hospital de campanha nos arredores do centro de saúde Macurungo, na Beira, está a funcionar desde 24 de março. "Montamos um centro médico avançado com uma tenda para cirurgia e consultas, além de mais duas tendas para avaliação pós-parto das mães", descreve a médica infectologista Telma Susana Vieira Azevedo, que liderou por dois meses a equipa da Cruz Vermelha em Macurungo.
Foto: DW/F. Forner
Um passeio pelas tendas em Macurungo
Um enfermeiro da equipa da Cruz Vermelha caminha pelas tendas de lona do hospital de campanha gerido em parceria com a ONG Médicos do Mundo. Já foram realizadas mais de duas mil consultas, além de uma média de sete partos diários. Este hospital é referência no atendimento de 35 mil pessoas na região, onde as condições habitacionais ficaram muito debilitadas após a passagem do ciclone Idai.
Foto: DW/F. Forner
No interior do hospital destruído
A noite de 14 de março na Beira foi marcada pelos fortes ventos que arrancaram telhas, chapas e coberturas das casas e edifícios públicos. O hospital de Macurungo sofreu sérios danos estruturais. Mesmo assim, algumas áreas do edifício continuam a ser utilizadas. “Nosso objetivo é conseguir reconstruir o centro de saúde e só depois deixar a Beira”, diz a médica Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Balanço pós-Idai
Segundo dados do fundo de redução de desastres do Banco Mundial (GFDRR), Moçambique ocupa a terceira posição no ranking de países africanos mais expostos a múltiplos riscos associados às mudanças climáticas, como ciclones periódicos, secas, inundações e epidemias. Esta foto mostra o coração do hospital de campanha montado em um dos bairros que mais carecem de atenção à saúde.
Foto: DW/F. Forner
Os grandes desafios de Beira
Esta é uma foto aérea do hospital de campanha em Macurungo na Beira. Além da reestruturação de hospitais, as cidades afetadas pelo ciclone Idai também encaram os desafios de reconstrução de moradias, escolas e das infraestruturas urbanas. A ONU estima que o país necessite de pelo menos 200 milhões de dólares de ajuda internacional nestes três primeiros meses pós-ciclone.
Foto: DW/F. Forner
O estoque de medicamentos
Além de servirem como consultórios e locais de operação, algumas tendas do hospital de campanha foram construídas para armazenar equipamentos, medicamentos e demais suprimentos médicos. Nesta foto, o médico Luís Canelas opera um dos computadores que realiza exames de ultrassonografia. O hospital de campanha também realiza exames laboratoriais, como exames de sangue e testes de malária.
Foto: DW/F. Forner
Apoio à população
Em momento de descanso, o enfermeiro da Cruz Vermelha de Cabo Verde Mariano Delgado brinca com uma das pacientes no pátio externo. Estima-se que cerca de 400 mil crianças foram afetadas. "Precisamos fazer um trabalho mais ativo de equipas móveis para ir às populações deslocadas", diz Michel Le Pechoux, representante adjunto do UNICEF em Moçambique.
Foto: DW/F. Forner
Pulverização contra a malária
Homens uniformizados com luvas e protetores fazem a pulverização contra a malária em casas nas ruas de Búzi, a 150 km ao sul da Beira. Os casos de malária aumentaram e um mutirão tenta conter a proliferação do mosquito transmissor.
Foto: DW/F. Forner
Cadastro de pacientes
Esta é a tenda de triagem onde os pacientes são recebidos para a marcação de consultas. "Recebemos pacientes com doenças crónicas, hipertensão, doenças cardiovasculares e parasitárias, bem como pacientes que sofrem de desnutrição e portadores do VIH/SIDA", explica a infectologista da Cruz Vermelha portuguesa Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
À espera de consultas
As salas de espera no centro de saúde Macurungo ficam diariamente superlotadas com pacientes que sofrem das mais variadas doenças. O cólera está sob controle, mas os casos de malária estão a ser acima do habitual. "As chuvas fazem com que haja poças d’água que são óptimas para a proliferação dos mosquitos havendo mais vetores para transmitir a doença", diz a infectologista Telma Susana Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Atendimento
Esta é uma das tendas do hospital de campanha Macurungo destinada às consultas médicas e atendimento aos pacientes. Nesta foto, o doutor Miguel e o enfermeiro de Cabo Verde Mariano Delgado dividem o espaço realizando atendimentos e curativos.
Foto: DW/F. Forner
Nos bastidores
Num momento de descanso após o almoço, estes três profissionais de saúde aproveitam a pausa no início da tarde antes de continuar com os atendimentos. Esta sala com macas também serve de refeitório e sala de reuniões. As equipas de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio técnico trabalham diariamente sem cessar e se revezam a cada três semanas.