Momade busca apoio para contestar resultados eleitorais
Lusa | cvt
7 de dezembro de 2019
Líder da RENAMO pediu à comunidade internacional que impeça a "ditadura monopartidária" em Moçambique. Ossufo Momade terminou uma visita à Holanda, este sábado (07.12), a apontar o dedo ao Governo da FRELIMO.
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De acordo com os resultados preliminares das eleições moçambicanas de 15 de outubro, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) ganhou com maioria qualificada no parlamento e o atual Presidente, Filipe Nyusi, foi reeleito, resultados que a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) não reconhece, assegurando ter provas de fraude.
Caso o Conselho Constitucional confirme os resultados, o maior partido da oposição moçambicana irá reunir "os órgãos do partido: a comissão política nacional e o conselho nacional", porque a decisão de tomar posse dos lugares eleitos não pode resultar de "um posicionamento apenas do presidente", disse Momade à agência Lusa, numa entrevista por telefone.
Em dezembro, "os órgãos vão reunir e vão decidir qual vai ser a decisão do partido", explicou o líder da RENAMO, que terminou hoje uma visita à Holanda.
Provas de fraude na mala
Na viagem, Ossufo Momade levou uma caixa com "boletins que estão fora do circuito da Comissão Nacional Eleitoral (CNE)" e que estão pré-preenchidos com uma cruz nos candidatos da FRELIMO.
"Desta vez, nós trazemos elementos que provam fraude eleitoral", disse Momade, considerando que os observadores internacionais "não podem ficar calados" perante "evidências tão claras".
"Em Moçambique, está instalado um regime que não quer abandonar o poder e, para não sair do poder, usa a polícia" contra a oposição, afirmou, acrescentando: "É uma coligação: polícia, a CNE, o STAE [Secretariado Técnico de Administração Eleitoral] para manietar a RENAMO".
Na Holanda, Ossumo Momade reuniu-se com parceiros internacionais do seu partido, entre os quais o Instituto Holandês para a Democracia Multipartidária.
"Nós temos confiança na comunidade internacional na medida em que não gostaríamos que voltássemos aos erros do passado", em que o país viveu uma situação de guerra civil, disse à Lusa.
"A democracia está tremida" em Moçambique, afirmou o líder do maior partido da oposição no país.
"Não gostaríamos de voltar para o monopartidarismo", mas vive-se "uma situação muito alarmante, na medida em que as eleições não foram justas livres e transparentes", acrescentou.
Ataques no centro do país
Ossufo Momade classificou de "desertor" Mariano Nhongo, líder da autoproclamada Junta militar da RENAMO, e acusou-o de estar a promover ataques a civis no centro do país.
"Nós nos distanciámos logo da Junta Militar", afirmou.
O líder da RENAMO aponta o dedo à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) ao acusar o Governo de ter permitido o crescimento deste grupo dissidente armado no centro do país.
"O Estado não tomou precauções no início porque queria prejudicar politicamente a RENAMO", acentuando a divisão, e hoje está a deparar-se com vários ataques nas vias do centro do país, considerou Momade.
O dirigente da RENAMO afirmou que quem apontar responsabilidades ao seu partido nesses ataques "está errado": "Nunca violámos as regras do nosso antigo e saudoso presidente [Afonso] Dhlakama [líder histórico da RENAMO]."
Ossufo Momade faz comício após derrota eleitoral da RENAMO
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Mais falhas do Governo
Ossufo Momade acusou ainda o Governo de Moçambique de ter falhado ao contratar mercenários russos para liquidar insurgentes islâmicos no norte do país, ignorando o real problema das populações.
"O Governo de Moçambique foi à Rússia e trouxe de lá mercenários", mas "esses que fizeram a intervenção militar hoje já não estão lá" porque "viram que alguma coisa está errada", não conseguindo resolver os problemas, que "têm razões profundas" e mostram as divisões sociais e económicas daquela região, afirmou Ossufo Momade.
"O envolvimento dos estrangeiros está a diluir aquilo que é o pensamento dos moçambicanos" sobre os conflitos sociais e religiosos que estão na origem dos ataques a alvos civis ou ligados ao setor petrolífero, que está a fazer fortes investimentos na província de Cabo Delgado, considerou.
O dirigente da RENAMO disse também que "a primeira coisa" que "queria que o Governo fizesse era apresentar o caso do conflito de Cabo Delgado na Assembleia da República", promovendo a discussão sobre o melhor modo de resolver os problemas, "mas ainda não fez".
Estima-se que haja centenas de mortos vítimas dos ataques e, para lidar com esses problemas, a "União Europeia tinha um outro pensamento", que previa investimentos sociais e económicos junto das comunidades para obter "um bom resultado em Cabo Delgado", destacou Momade.
"Nós não concordamos com uma intervenção militar", acrescentou Momade.
"Cada dia que passa, moçambicanos morrem, as suas residências são destruídas, mas ninguém sabe o que se está a passar em Cabo Delgado" e "esta situação está a alastrar-se para outros distritos", concluiu.
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.