João Lourenço pede mais apoio internacional à paz na RCA
Lusa
23 de junho de 2021
PR angolano apelou no Conselho de Segurança a mais apoio à paz e segurança na República Centro-Africana, neutralização das forças dissisdentes no país, respeito do cessar-fogo e suspensão do embargo de armas em Bangui.
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Esta quarta-feira (23.06), João Lourenço fez uma intervenção em língua portuguesa numa reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, sobre a República Centro-Africana (RCA), na qualidade de presidente da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL).
"O Governo de Angola reconhece que o apoio internacional é cada vez mais importante agora para contribuir nos esforços tendentes a garantir a paz e a estabilidade na República Centro-Africana", declarou Lourenço.
Segundo o chefe de Estado angolano, a "situação de segurança na região dos Grandes Lagos, particularmente na República Centro-Africana, é caracterizada pela presença ativa de grupos armados", que se comprometeram com o acordo político de 6 de fevereiro de 2019 para cessação das hostilidades.
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O presidente da CIRGL sublinhou também ser importante "que as autoridades centro-africanas trabalhem no sentido de neutralizar as forças internas que apostam em deteriorar as boas relações com as Nações Unidas e com influentes membros do Conselho de Segurança".
Levantamento do embargo de armas
O responsável voltou a defender o levantamento do embargo de armas imposto pelo Conselho de Segurança da ONU à RCA, "que impossibilita o Governo centro-africano de adquirir armas", considerando que a medida já não é apropriada à atual conjuntura e nega o "direito inalienável" de todos os Estados a "criar capacidade própria de se defender de ameaças internas e externas".
O Presidente angolano pediu ainda ao Conselho de Segurança que passe a olhar para o dossiê do embargo de armas, decretado em 2013, "com outros olhos e com mais justiça".
Para o líder da CIRGL, a comunidade internacional e as Nações Unidas passam "uma mensagem errada" ao "impedir a construção de verdadeiras forças armadas, à altura dos desafios do país e da conturbada região".
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África, "novo" epicentro do terrorismo
O chefe de Estado alertou que o "epicentro" do terrorismo internacional foi transferido do Médio Oriente para África e considerou que a situação pode exacerbar a proliferação do terrorismo e incrementar a ameaça à paz e a estabilidade.
Sublinhando a importância da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização na República Centro-Africana (Minusca), o líder angolano declarou que "é altura de se ajudar a República Centro-Africana a formar as suas tropas e equipar com armamento e equipamentos as Forças Armadas, para que comece a caminhar com as suas próprias pernas e esteja em condições de garantir sua própria defesa e segurança".
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Ao referir diversas reuniões oficiais de alto nível na CIRGL, com liderança de Angola, João Lourenço voltou a reiterar que os grupos armados na RCA assumiram o compromisso de "abandonar a luta armada e aderir ao programa de desarmamento, desmobilização, reintegração e repatriamento".
Nesse sentido, congratulou-se com a proposta de "roteiro conjunto para a paz na RCA", que "define as atividades principais a serem desenvolvidas", construído em maio e junho entre ministros dos Negócios Estrangeiros da República Centro-Africana, de Angola e do Ruanda depois de várias reuniões na capital centro-africana, Bangui.
E declarou ao Conselho de Segurança da ONU que na segunda cimeira sobre a situação política de segurança na RCA, em 20 de abril, a CIRGL instou "os grupos armados a não realizarem ações que ponham em causa um cessar-fogo".
Paz e reconciliação na região
O Presidente angolano repetiu também o apelo feito pelos chefes de Estado e de Governo à comunidade internacional, em particular à ONU, "para encorajar os esforços regionais com vista a revitalizar o acordo político para a paz e a reconciliação".
Classificada pela ONU como o segundo país menos desenvolvido do mundo, a República Centro-Africana enfrenta uma guerra civil desde 2013, que, no entanto, diminuiu consideravelmente de intensidade desde 2018.
Portugal tem atualmente 241 militares na RCA, dos quais 183 integram a Minusca. Os restantes 58 militares portugueses participam na missão de treino, promovida pela União Europeia, até setembro deste ano.
Antigas crianças-soldado lutam agora contra o coronavírus
A guerra civil na República Centro-Africana (RCA) envolveu milhares de crianças em grupos armados. Aquelas que tiveram a sorte de escapar estão agora a ajudar vizinhos a protegerem-se da pandemia de Covid-19.
Foto: Jack Losh
Coronavírus: Um novo inimigo
Uma equipa de antigas crianças-soldados e crianças de rua cava um poço para beneficiar moradores de um bairro pobre na capital da República Centro-Africana, Bangui. Os jovens ajudam a melhorar a higiene em áreas onde moradores vivem amontoados. O projeto da UNICEF instalou poços para 25 mil pessoas e começou antes de o coronavírus chegar à região. Agora ajuda a RCA a lutar contra a pandemia.
Foto: Jack Losh
Perfuração pela paz
Um jovem pressiona um mecanismo que os seus companheiros giram manualmente para perfurar um poço. O projeto da UNICEF é também uma forma de reabilitação social, porque oferece aos adolescentes um trabalho remunerado enquanto superam o passado violento. Também encoraja a comunidade a aceitá-los de volta. O programa foi criado em 2015, e agora integra o plano de resposta ao coronavírus.
Foto: Jack Losh
Trabalho sujo
Crianças-soldados agacham-se para retirar a terra à mão. Existem mais de 3,9 mil casos confirmados de coronavírus na RCA, embora a limitação de testes no país leve a crer que o número real seja maior. O grupo de trabalho de escavação de poços acelera a instalação de novos tubos e furos a nível nacional. Quase 80% dos lares na RCA não dispõem de instalações para lavagem das mãos.
Foto: Jack Losh
Corações e mentes vencedoras
Crianças reúnem-se para observar a escavação dos poços. As antigas crianças-soldados enfrentam rejeição - o que pode aumentar as suas hipóteses de serem novamente recrutadas. As intervenções que promovem a aceitação são cruciais. Como explicou uma delas: "Este trabalho pode mudar a minha vida. Finalmente tenho algum dinheiro. E estou a ajudar estas comunidades e o meu país".
Foto: Jack Losh
Terra marcada
Sepulturas não marcadas na periferia de Bossangoa, no noroeste da RCA. Civis massacrados no conflito foram enterrados aqui. Após décadas de instabilidade, a guerra eclodiu em 2013, quando uma aliança principalmente muçulmana de grupos rebeldes, a Séléka, varreu o país e derrubou o Presidente. Em resposta, comunidades cristãs e animistas mobilizaram-se para formar as milícias "anti-balaka".
Foto: Jack Losh
Acordo de paz desgastado
Um soldado rebelde da "FPRC" fica de guarda num posto de controlo no norte da RCA. Os rebeldes controlam grande parte do país e - apesar da assinatura de um acordo de paz em fevereiro passado entre o governo e 14 grupos armados - a instabilidade persiste. Nos últimos meses, intensificaram-se confrontos entre grupos armados rivais pelo controlo da zona rica em minerais.
Foto: Jack Losh
"Crianças, não soldados"
Uma placa de sinalização da UNICEF em Bossangoa alerta contra o recrutamento de crianças em conflitos armados. Entre 2014 e 2019, mais de 14,5 mil crianças-soldado foram libertadas das milícias da RCA. No entanto, estima-se que 5,550 crianças permaneçam nas mãos de grupos armados. Muitas são vítimas de abuso sexual, outras são combatentes e outras servem como cozinheiras, guardas ou mensageiras.
Foto: Jack Losh
Educação contra estatísticas
Crianças reúnem-se dentro de uma sala de aula improvisada debaixo de lonas, num acampamento para famílias deslocadas pelo conflito em Kaga Bandoro. Mais de 1,3 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas. Em média, uma em cada cinco crianças não frequenta a escola. Mas nas áreas mais afetadas, o número chega a quatro em cada cinco.
Foto: Jack Losh
Civis sitiados
Uma força de manutenção da paz da ONU dirige-se em patrulha por um campo de deslocados na cidade de Bria, no leste, capturada por rebeldes. Uma placa à entrada adverte guerrilheiros sobre a entrada de armas. As condições apertadas e insalubres de campos como estes também aumentam o risco de propagação do coronavírus.
Foto: Jack Losh
Resiliência face à guerra
Os civis sentam-se na parte de trás de um camião enquanto conduzem através do território detido pela facção FPRC no nordeste da RCA. A ONU adverte que o país está muito mal preparado para fazer face a um surto de coronavírus. O conflito complexo e sectário devastou o fraco sistema de saúde da RCA e forçou o pessoal médico a fugir. Atualmente, metade da população depende do apoio humanitário.
Foto: Jack Losh
Uma luta penosa
Uma criança leva água e passa por um soldado das forças de manutenção da paz perto de um campo de deslocados em Bria, uma área controlada por rebeldes. O ACNUR está a instalar pontos de água nos campos e explica aos residentes a importância da lavagem das mãos. Encarregados pela ajuda humanitária advertiram que há pouco recurso para satisfazer as necessidades da população.
Foto: Jack Losh
Tentar manter a paz
Mulheres passam por um veículo blindado da ONU, que foi retido por rebeldes em Kaga Bandoro. Há receios de que a Covid-19 intensifique as tensões entre as comunidades, gerando aumento de preços e paralisando o fornecimento de ajuda. Com as eleições presidenciais marcadas para dezembro, este é um ano crucial para a RCA. Observadores temem que as hostilidades aumentem na campanha eleitoral.
Foto: Jack Losh
Atacar violadores
Os adolescentes jogam futebol num campo de terra, numa área para deslocados em Kaga Bandoro. Embora os números possam ser muito mais elevados, mais de 500 violações graves dos direitos da criança foram relatadas no ano passado. Estão em curso esforços para levar os senhores da guerra à justiça, mas a corrupção generalizada torna tudo mais difícil.
Foto: Jack Losh
Um lampejo de esperança
Antigas crianças-soldados terminam a perfuração do seu novo poço em Bangui. A terapia profissional está fora do alcance de muitos por aqui. Mas projetos como este ajudam a lidar com sentimentos de vergonha e de culpa e a criar uma sensação de normalidade. Embora não seja de modo algum uma solução perfeita, iniciativas de base como esta oferecem às crianças da RCA um pouco mais de esperança.