O PR de Moçambique garantiu "total apoio" ao líder chinês, reeleito no Partido Comunista. O objetivo é que Maputo continue a ser uma "prioridade", mesmo que a maior beneficiada nesta relação seja Pequim, diz analista.
Nyusi assegurou "total apoio" ao "aprofundamento e dinamização" dos laços históricos no quadro da "parceria estratégica global abrangente" entre os dois países.
Em entrevista à DW, Calton Cadeado, analista político e docente de Relações Internacionais na Universidade Joaquim Chissano, realça que a mensagem de Filipe Nyusi é "uma forma de garantir que Moçambique continua a ser um dos países nas prioridades do Estado chinês".
Na relação entre os dois países, o analista não tem dúvida de que a China "ganha mais" do ponto de vista económico.
DW África: Na relação entre Moçambique e China, quem sai mais a ganhar?
Calton Cadeado (CC): Do ponto de vista político, a parceria que existe com a China ajuda Moçambique a ter uma imagem dentro do espaço político chinês, que consolida os laços históricos do passado e torna Moçambique um país acessível à elite política chinesa para poder apoiar do ponto de vista económico. Deste ponto de vista, está claramente visto que a balança comercial é mais favorável para a China do que para Moçambique. E, mais do que isso, a China tem acesso a muitos recursos aqui, o que faz da China um ator relevante e preponderante, inclusive no cenário político de Moçambique.
DW África: Moçambique já mostrou interesse em expandir o comércio agrícola com a China. A recente eliminação, por parte de Pequim, das taxas alfandegárias a produtos importados de Moçambique pode encorajar esse objetivo?
CC: Sem dúvida. Moçambique precisa do mercado chinês para exportar muito da comida que é produzida aqui e que, infelizmente, até acaba apodrecendo. Há essa necessidade mútua. Obviamente que a China é um grande mercado que tem que ser conquistado. Até agora, Moçambique ainda não conquistou esse mercado. Há muito pouco de Moçambique que entra no mercado chinês. E, no final do dia, outra vez, a China ganha mais do ponto de vista económico. Moçambique ganha em infraestruturas, mas a China ganha uma influência muito grande na economia de Moçambique e até do ponto de vista político.
DW África: De que forma, do ponto de vista político?
CC: Há uma grande influência que o poder político do Estado chinês exerce sobre Moçambique, muito por conta do apoio financeiro e económico que Moçambique recebe da China para poder fazer construções de infraestruturas de grande importância para a economia moçambicana.
É a China a nova potência colonial em África?
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DW África: Por outro lado, a China aliou-se ao Governo sul-coreano em um acordo para apoiar a exploração conjunta de gás natural na bacia do Rovuma. Pequim tem interesse no gás moçambicano?
CC: Neste momento, há muito que se diz em relação aos interesses da China nessa área. Mas há muito pouco também para vermos a magnitude de interesse da China não ser um mercado, mas um investidor na exploração deste recurso energético.
DW África: Num momento em que estamos perante o conflito Rússia-Ucrânia, e com Moçambique a pautar por uma posição mais neutra, virar-se para a China pode ser também uma estratégia?
CC: A China já percebeu que todo o mundo agora está a virar-se para a China. Mas também percebe que não pode resolver os problemas de todo o mundo e faz discursos altamente lacônicos, evasivos, vagos em relação à resposta à solução de todos os problemas que todos estão a olhar. A China não vai sacrificar o seu interesse nacional para resolver o problema de todo o mundo.
Neste momento, o Presidente de Moçambique fazer um apoio explícito e de felicitação ao Partido Comunista Chinês é uma espécie de retribuição pelo facto de a China também ter vindo a Moçambique para participar no congresso da FRELIMO. Um agradecimento político-diplomático pela cooperação que existe entre o Partido Chinês e a FRELIMO e também pelos apoios que a China tem dado para Moçambique. É uma forma de continuar a garantir que Moçambique continue a ser um dos países nas prioridades do Estado chinês.
Maputo: Várias construções públicas são obra de empreiteiros chineses
Estradas, viadutos e edifícios estatais - são algumas das grandes infra-estruturas públicas financiadas pelo Governo chinês e que foram construídas na capital moçambicana. Foram também adjudicadas a empresas chinesas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Aeroporto Internacional de Maputo
O Aeroporto de Maputo obedece aos padrões internacionalmente aceites para receber todo o tipo de aviões e consta da lista das mais modernas infra-estruturas aeroportuárias de África. Em 2010, altura em que foi construído, esperava-se que aterrassem aqui as seleções que iam competir no Mundial de Futebol da África do Sul, o que acabou por não acontecer. Custou 75 milhões de dólares.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estrada Circular de Maputo
Em 2011, o Governo moçambicano e o Governo da República Popular da China lançaram, em conjunto, o projeto “Estrada Circular de Maputo”, com o intuito de aliviar o trânsito na capital moçambicana. As obras começaram em 2012 e custaram 315 milhões de dólares, dos quais 300 são um empréstimo do banco estatal China Exim-Bank. A obra foi adjudicada à empresa China Road and Bridge Corporation (CRBC).
Foto: DW/Romeu da Silva
Viadutos
O projeto da Estrada Circular contemplou também a construção de várias pontes, entre elas um viaduto num troço que liga a zona leste de Maputo a Ressano Garcia, na fronteira com a África do Sul. Pretendeu-se proteger a circulação do comboio pelo corredor de Limpopo - crucial para o transporte de carga de e para os países do Hinterland.
Foto: DW/Romeu da Silva
Gloria Hotel
Localizado à beira mar na Avenida Marginal, na capital do país, o AFECC Gloria Hotel possui duas salas de conferências - uma com capacidade para duas mil pessoas e outra para oitocentas - 258 quartos, restaurantes e outros serviços. O investimento total rondou os 300 milhões de dólares, o que faz do Gloria o maior complexo hoteleiro do país.
Foto: DW/Romeu da Silva
Maputo Katambe
É a maior ponte suspensa de África e custou ao Governo moçambicano 700 milhões de dólares num financiamento do Exim Bank da China. O Governo considera a infra-estrutura de extrema importância para Moçambique, uma vez que vai permitir uma melhor circulação de pessoas, cargas e bens entre Maputo e Catembe, bem como a reativação de trocas comerciais com maior frequência.
Foto: DW/Romeu da Silva
Ponte suspensa
Todos os dias o "ferry-boat" faz transporte de passageiros e carga para o outro lado da baía de Maputo. Os passageiros levam horas a fazer a travessia. Mas a construção da ponte Maputo Katambe deverá aliviar este sofrimento apesar das muitas críticas que são feitas à sua construção. Os moçambicanos esperam por ela desde a independência.
Foto: DW/Romeu da Silva
Ministério dos Negócios Estrangeiros
O Ministério dos Negócios Estrangeiros é mais um dos edifícios modernos construídos por empreiteiros chineses na esteira das históricas relações diplomáticas que existem entre os dois países que duram há quase cinquenta anos. Localiza-se na baixa da capital moçambicana.
Foto: DW/Romeu da Silva
Palácio da Justiça
Com 12 andares, o edifício está avaliado em 13 milhões de dólares americanos. Mais um investimento que resulta de um crédito concedido pela China. Aqui encontram-se as secções civis, comerciais e laborais do Tribunal Judicial de Maputo. No mesmo edifício encontram-se ainda o Tribunal de Polícia, o gabinete dos representantes do Ministério Público e, provisoriamente, o Tribunal Supremo de Recurso.
Foto: DW/Romeu da Silva
Procuradoria-Geral da República
Sob a égide da empresa “China National Complete Plant Import & Export Corporation”, esta construção custou 40 milhões de dólares e durou 24 meses. É mais uma das obras cujo orçamento proveio de uma linha de crédito aberta pelo Governo chinês a favor de Maputo, no âmbito dos acordos assinados entre os dois estados, por ocasião da visita, em 2007, do Presidente da China, Hu Jintao, a Moçambique.
Foto: DW/Romeu da Silva
Avenida Marginal
Encontrar estacionamento na cidade nem sempre foi fácil. Havia muito tráfego rodoviário, com a agravante de haver automobilistas em estado de embriaguês. Agora, ao longo da avenida da Marginal, existem muitos espaços para estacionamento das viaturas dos banhistas, mesmo em dias de muito calor que convidam muita gente a deslocar-se à praia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Proteção da Praia da Costa do Sol
As obras na Praia da Costa do Sol iniciaram-se em 2012 e custaram 22 milhões de dólares. A degradação da zona costeira permitia que, em momentos de maré alta, as águas galgassem a estrada. Foi por isso resconstruída. A barreira (na imagem) veio resolver o problema de erosão costeira nesta zona.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estádio Nacional de Zimpeto
Com capacidade para 42 mil pessoas, das quais 10 mil em zona coberta, o Estádio Nacional situa-se no bairro de Zimpeto, a 14 quilómetros do centro de Maputo, e ocupa uma área de 26 hectares, num total de 46 reservados para a infra-estrutura. A obra, orçada em 70 milhões de dólares, foi também financiada pelo Governo chinês e construída pela Anhui Foreign Economic Construction Group.
Foto: DW/Romeu da Silva
Vila Olímpica
A Vila Olímpica de Zimpeto é composta por 848 apartamentos com infra-estruturas distribuídas por 26,5 blocos. Os edifícios são de quatro pisos, com apartamentos de tipo três, numa área útil de 100 metros quadrados. Em 2011, quando Moçambique organizou os jogos africanos, a Vila albergou todos os atletas que participaram no evento desportivo.