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Relação Maputo-Pequim: "China ganha mais do que Moçambique"

25 de outubro de 2022

O PR de Moçambique garantiu "total apoio" ao líder chinês, reeleito no Partido Comunista. O objetivo é que Maputo continue a ser uma "prioridade", mesmo que a maior beneficiada nesta relação seja Pequim, diz analista.

Filipe Nyusi foi recebido em Pequim por Xi Jinping (2019)Foto: picture alliance / Newscom

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, na qualidade de presidente da FRELIMO, felicitou o Presidente chinês, Xi Jinping, pela reeleição à frente do Partido Comunista da China.

Nyusi assegurou "total apoio" ao "aprofundamento e dinamização" dos laços históricos no quadro da "parceria estratégica global abrangente" entre os dois países.

Em entrevista à DW, Calton Cadeado, analista político e docente de Relações Internacionais na Universidade Joaquim Chissano, realça que a mensagem de Filipe Nyusi é "uma forma de garantir que Moçambique continua a ser um dos países nas prioridades do Estado chinês".

Na relação entre os dois países, o analista não tem dúvida de que a China "ganha mais" do ponto de vista económico.

DW África: Na relação entre Moçambique e China, quem sai mais a ganhar?

Calton Cadeado: "A China ganha uma influência muito grande na economia de Moçambique"Foto: Privat

Calton Cadeado (CC): Do ponto de vista político, a parceria que existe com a China ajuda Moçambique a ter uma imagem dentro do espaço político chinês, que consolida os laços históricos do passado e torna Moçambique um país acessível à elite política chinesa para poder apoiar do ponto de vista económico. Deste ponto de vista, está claramente visto que a balança comercial é mais favorável para a China do que para Moçambique. E, mais do que isso, a China tem acesso a muitos recursos aqui, o que faz da China um ator relevante e preponderante, inclusive no cenário político de Moçambique.

DW África: Moçambique já mostrou interesse em expandir o comércio agrícola com a China. A recente eliminação, por parte de Pequim, das taxas alfandegárias a produtos importados de Moçambique pode encorajar esse objetivo?

CC: Sem dúvida. Moçambique precisa do mercado chinês para exportar muito da comida que é produzida aqui e que, infelizmente, até acaba apodrecendo. Há essa necessidade mútua. Obviamente que a China é um grande mercado que tem que ser conquistado. Até agora, Moçambique ainda não conquistou esse mercado. Há muito pouco de Moçambique que entra no mercado chinês. E, no final do dia, outra vez, a China ganha mais do ponto de vista económico. Moçambique ganha em infraestruturas, mas a China ganha uma influência muito grande na economia de Moçambique e até do ponto de vista político.

DW África: De que forma, do ponto de vista político?

CC: Há uma grande influência que o poder político do Estado chinês exerce sobre Moçambique, muito por conta do apoio financeiro e económico que Moçambique recebe da China para poder fazer construções de infraestruturas de grande importância para a economia moçambicana.

É a China a nova potência colonial em África?

03:30

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DW África: Por outro lado, a China aliou-se ao Governo sul-coreano em um acordo para apoiar a exploração conjunta de gás natural na bacia do Rovuma. Pequim tem interesse no gás moçambicano?

CC: Neste momento, há muito que se diz em relação aos interesses da China nessa área. Mas há muito pouco também para vermos a magnitude de interesse da China não ser um mercado, mas um investidor na exploração deste recurso energético.

DW África: Num momento em que estamos perante o conflito Rússia-Ucrânia, e com Moçambique a pautar por uma posição mais neutra, virar-se para a China pode ser também uma estratégia?

CC: A China já percebeu que todo o mundo agora está a virar-se para a China. Mas também percebe que não pode resolver os problemas de todo o mundo e faz discursos altamente lacônicos, evasivos, vagos em relação à resposta à solução de todos os problemas que todos estão a olhar. A China não vai sacrificar o seu interesse nacional para resolver o problema de todo o mundo.

Neste momento, o Presidente de Moçambique fazer um apoio explícito e de felicitação ao Partido Comunista Chinês é uma espécie de retribuição pelo facto de a China também ter vindo a Moçambique para participar no congresso da FRELIMO. Um agradecimento político-diplomático pela cooperação que existe entre o Partido Chinês e a FRELIMO e também pelos apoios que a China tem dado para Moçambique. É uma forma de continuar a garantir que Moçambique continue a ser um dos países nas prioridades do Estado chinês.

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