Na Somalilândia, jovens fogem de um Estado que não existe
17 de dezembro de 2015 Na região do Corno de África, a Somália é considerada um Estado falido. A guerra civil, que começou em 1991, transformou o país num refúgio para piratas e terroristas da milícia islâmica Al-Shabaab. Por isso, são muitos os que arriscam fugir.
Dez jovens estão sentados em círculo no chão, à sombra de uma árvore. Falam sobre o sonho de fugir dali, da aldeia de Xaaxi, no leste da região de Somalilândia. "Tarneeb" ou "viagem arriscada", na língua local, é uma palavra que está na boca de todos.
Sabem que há riscos no longo caminho para a Líbia, através da Etiópia e do Sudão, até entrar na Europa, onde o futuro é incerto. Alguns jovens dizem que têm amigos na rede social facebook que arriscaram e que agora trabalham na Europa.
Também Hodan, uma menina de 17 anos, já sonhou em partir. Hodan contou que já tentou fugir três vezes, mas foi sempre apanhada pela polícia etíope. Queria ir ter com o irmão, que está em Itália, num campo de refugiados. Isto apesar de ele ter sido apanhado, espancado e chantageado por um gangue. A mãe teve de vender o gado para pagar o resgate do filho. Hodan não vê futuro na Somalilândia. Mas agora quer ficar para encontrar marido.
Enquanto muitos querem fugir desta região, outros cidadãos na diáspora regressam para ajudar na reconstrução e vêem agora oportunidades de negócio para um futuro melhor. Através da diáspora chegam vários milhares de euros à Somalilândia, que servem para financiar várias obras.
A Somalilândia proclamou a independência da Somália em 1991, mas não é reconhecida internacionalmente, tal como a região de Puntland.
Há cursos com futuro em Puntland
Em Garowe, um grupo de estudantes universitários fala sobre novos projetos e ideias com membros Care Alemanha, organização de ajuda que tem apoiado a Universidade Estatal de Puntland.
"Tarneeb" é também aqui uma palavra familiar a todos. Mas os estudantes querem ficar em Puntland.
"Não posso pôr a minha vida em perigo pelo desconhecido. Talvez haja muitas oportunidades fora, mas eu sou africana, não conheço nada nem ninguém fora. Para arranjar um trabalho iria demorar anos. Mas aqui, eu conheço tudo, conheço o Governo, a política, sei como criar coisas novas e do que o meu povo precisa… Eu gosto de estar aqui”, explica Samira de 19 anos.
A chave para o futuro de Puntland e Somalilândia está na educação.
"Os setores que são realmente importantes para a economia da Somália são a pesca, agricultura e pecuária. Também precisamos de engenheiros civis, porque o país ficou completamente destruído pela guerra civil. Mas as universidades não estão a providenciar cursos suficientes nessas áreas. A maior parte, talvez mais de 85%, dos nossos graduados têm formação na área das ciências sociais e humanas”, lamenta o professor Abdullah Aledou.
O professor Abdullah Aledou apela ao apoio da comunidade internacional na área da educação. O problema dos refugiados na Europa, diz, resolve-se apenas nos países de origem.