Nada de novo em mais uma ronda de negociações em Moçambique
Leonel Matias (Maputo)
28 de outubro de 2016
Em Moçambique, a quarta ronda do diálogo político entre o Governo e a RENAMO, na presença dos mediadores, terminou esta sexta-feira sem aparentes progressos substanciais.
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Nesta quarta ronda de negociações visando a paz em Moçambique, o Coordenador da equipa de mediadores, Mário Rafaelli, confirmou, que falhou uma tentativa do seu grupo para se avistar no último fim de semana com o líder da Renamo, Afonso Dlakhama.
Rafaelli, confirmou esta sexta-feira (28.10.) que tentou avistar-se no fim de semana com o líder da RENAMO, mas que regressou a meio do caminho, após uma chamada que recebeu de Afonso Dlakhama.
"Explicou, amigo Rafaelli, pára e regressa porque eu tenho informações que as tropas governamentais estão a movimentar-se. Eu respondi, obrigado. Mas, não ouvi nem disparos nem vi tropas porque a chamada eu recebi antes da vila de Gorongosa”.
Mário Rafaelli afirmou por outro lado, que este encontro era do conhecimento do Chefe de Estado, Filipe Nyusi, e considerou importante a sua realização para permitiria um contacto directo com Dlakhama. Encontros bilaterais
Fazendo um balanço da quarta ronda do diálogo que decorre desde o passado dia 18, Mário Rafaelli disse que as partes privilegiaram encontros bilaterais a fim de aprofundar as diferentes posições e facilitar a identificação de uma base comum.
Como resultado destes encontros, os mediadores submeteram as partes, esta sexta-feira, uma proposta de princípios relativos ao processo de descentração.
"É uma coisa mais concreta e mais rápida que vai permitir respeitar a data de fim de Novembro”.
Esta data foi estabelecida pelas partes para o a proposta de seja submetida ao Parlamento.
Cessação de hostilidades?
Segundo Mário Rafaelli, as partes concordaram ainda com a proposta dos Mediadores de fazer a ligação entre a solução dos assuntos políticos e a trégua.
10.10.2016 Moçambique / conversações - MP3-Mono
"A posição que foi sublinhada é que é mais fácil atingir um acordo se formos a fazer uma ligação entre os assuntos políticos e a cessação das hostilidades.”
A delegação da RENAMO apresentou já esta quinta-feira (27.10.) a última parte da documentação sobre as propostas relativas à questão das Forças de Defesa e Segurança.
Para Mário Rafaelli trata-se de um documento muito concreto com as posições que o maior partido da oposição quer que sejam modificadas.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.