Namíbia assinala 30 anos de independência em prevenção
Cai Nebe | bd
20 de março de 2020
A Namíbia celebra este sábado (21.03) 30 anos de independência, sob fortes medidas de prevenção por causa da pandemia de Covid-19. A data foi também escolhida para a tomada de posse do Presidente eleito, Hage Geingob.
Para evitar a propagação do novo coronavírus, as autoridades locais asseguram que as celebrações dos 30 anos de independência do país e a investidura do chefe de Estado eleito vão decorrer sob medidas restritivas.
Após 115 anos de administração colonial, com a Alemanha a ocupar o país durante 31 anos e mais anos ainda de domínio da África de Sul, a Namíbia tornou-se independente dos sul-africanos em 1990. O país situado na África Austral passou, entretanto, a ser um dos mais ricos e estáveis do continente.
Para quando a verdadeira reconciliação?
Em 1989, a advogada Bience Gawanas, defensora dos direitos humanos, estava detida num campo de refugiados no sul de Angola quando recebeu a notícia de que poderia voltar a casa. Agora, 30 anos depois da independência, sublinha a necessidade de uma verdadeira reconciliação.
Namíbia assinala 30 anos de independência em prevenção
"O facto de não termos tido algo parecido com um processo de reconciliação nacional não significa que o racismo não exista ou que o que aconteceu durante o exílio nos campos de refugiados da SWAPO não tivesse acontecido. Acho que essas coisas ainda estão a ferver", diz.
Trinta anos depois da ocupação alemã, alguns cidadãos da Alemanha ainda estão a viver na Namíbia. Wilfried Brock trabalha para o Governo namibiano e a sua família vive no país. "É uma questão de brancos que se identificam como namibianos. Mas cho que a comunidade branca não faz o suficiente para integrar-se na sociedade namibiana", reconhece.
Insatisfação entre as gerações mais velhas
Nas eleições de 2019, o Presidente Hage Geingob obteve apenas 56% dos votos, o mais baixo de sempre para um candidato da Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO), O partido no poder.
Para a analista política Ndapwa Alweendo, o resultado eleitoral mostra uma certa insatisfação entre as gerações mais velhas e do pós-independência. "Os mais velhos acusam os mais de não serem gratos pelos sacrifícios feitos pelos mais velhos para a libertação do país", diz.
Até ao momento, o Presidente de Angola, João Lourenço, foi o único chefe de Estado dos PALOP a confirmar a sua presença na c.
Racista e cruel, a história colonial da Alemanha
A exposição no Museu Histórico Alemão, em Berlim, é a primeira grande exibição que explora os capítulos do domínio colonial da Alemanha. Uma história da ambição falhada de uma superpotência.
Foto: public domain
A cara do colonialismo
Com o chanceler Otto von Bismarck, o Império Colonial Alemão estabeleceu-se nos territórios da atual Namíbia, Camarões, Togo e em algumas partes da Tanzânia e do Quénia. O imperador Guilherme II, coroado em 1888, tentou expandir os domínios coloniais. O imperador alemão queria um "lugar ao sol", como disse mais tarde, em 1897, o chanceler Bernhard von Bülow.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DW
Colónias alemãs
Foram conquistados territórios no Pacífico (Nova Guiné, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Salomão e Samoa) e na China (Tsingtao). A Conferência de Bruxelas em 1890 determinou que o imperador germânico iria obter os reinos do Ruanda e Burundi, ligando-os à África Oriental Alemã. No final do século XIX, as conquistas coloniais alemãs estavam praticamente completas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdades
A população branca nas colónias era uma minoria, raramente representava mais de 1% da população. Uma minoria privilegiada, contudo. Em 1914, cerca de 25 mil alemães viviam nas colónias, menos de metade no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia). Os 13 milhões de nativos das colónias alemãs eram vistos como subordinados, sem recurso ao sistema legal.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século XX
O genocídio contra os povos Herero e Nama no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia) é o mais grave crime na história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes Herero fugiram para o deserto, onde as tropas alemãs bloquearam sistematicamente o acesso à água. Estima-se que morreram mais de 60 mil Hereros.
Foto: public domain
A culpa alemã
Apenas cerca de 16 mil Hereros sobreviveram ao extermínio. Foram depois detidos em campos de concentração, onde muitos acabaram por falecer. O número exato de vítimas continua por apurar e é ponto de controvérsia. Quanto tempo terão sobrevivido os Hereros depois de fugirem para o deserto? Eles perderam todos os seus bens, os seus meios de subsistência e as perspetivas de futuro.
Foto: public domain
Reformas em 1907
Depois das guerras coloniais, a administração das colónias alemãs foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida. Bernhard Dernburg, um empreendedor de sucesso (na imagem, transportado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado dos Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas coloniais da Alemanha.
Foto: picture alliance/akg-images
A ciência e as colónias
Com as reformas de Dernburg foram criadas instituições científicas e técnicas para lidarem com assuntos coloniais. Assim estabeleceram-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África Oriental para investigar a transmissão da doença do sono. A imagem demonstra amostras coletadas nessa expedição.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Uma das maiores guerras coloniais
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos rebelaram-se contra o poder na África Oriental Alemã. Cerca de 100 mil locais morreram na Revolta de Maji-Maji. Apesar de raramente discutido, este continua a ser um importante capítulo da história da Tanzânia.
Foto: Downluke
A perda das colónias
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha assinou o tratado de paz de Versalhes, em 1919, que previa que o país renunciava a soberania sobre as colónias. Cartazes como este demonstram o medo dos alemães de, como consequência, perderem poder económico e viverem na pobreza e na miséria no seu país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições coloniais do "Terceiro Reich"
As aspirações coloniais voltaram a surgir com o nazismo e não apenas em relação à colonização da Europa Central e Oriental, através do genocídio e limpeza étnica. O regime nazi pretendia também recuperar as colónias perdidas em África, como demonstra este mapa escolar de 1938. Os territórios eram vistos como fonte de recursos para a Alemanha.
Foto: DW/J. Hitz
Processo espinhoso
As negociações para uma declaração conjunta do genocídio dos povos Herero e Nama entraram numa fase difícil. Enquanto a Alemanha trava quanto a compensações financeiras, há também deficiências nas estruturas políticas internas da Namíbia. Representantes Herero apresentaram, recentemente, uma queixa à ONU contra a sua exclusão nas negociações em curso.