Namíbia vai às urnas, esta quarta-feira (27.11). Uma votação em que reeleição de Hage Geingob à Presidência é apontada como quase certa. No entanto, votação trouxe ao de cima facções dentro do partido no poder, SWAPO.
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As eleições presidenciais desta quarta-feira (26.11) na Namíbia deverão "marcar" a política do país, considera o analista Ndumba Kamwanyah. Isto porque trouxeram um desafio ao atual Presidente Hage Geingob: o surgimento de um candidato independente dentro das fileiras da Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO), partido no poder.
Dentista de profissão, Panduleni Itula, de 62 anos, é apontado como o principal rival de Geingob. Recusou-se a renunciar à militância no partido SWAPO, apesar das ameaças de que poderia ser expulso.
A SWAPO está no poder desde a independência do país, em 1990. Mas, recentemente, foi abalada por grandes escândalos de corrupção que obrigaram à demissão de dois ministros. A agravar a situação está a actual crise económica do país, que conduziu a um aumento do descontentamento entre a população, especialmente entre os jovens, 46% dos quais estão desempregados.
Em entrevista à DW, Ndumba Kamwanyah, professor académico da Universidade da Namíbia, afirma que a crise pode ser apontada como a principal responsável pelo surgimento de duas facções dentro da SWAPO. "Embora não seja dito, pensamos que uma das facções está por trás do candidato independente [Panduleni Itula]", disse.
Oposição fraca
Ainda assim, consideram vários analistas, o partido no poder não corre o risco de perder as eleições gerais. Mas, diz Henning Melber, do Nordic Africa Institute, na Suécia, "pode obter menos votos".
Na última eleição, em 2014, a SWAPO obteve 80% dos votos, a sua maior percentagem de sempre, enquanto Geingob foi eleito Presidente com 87% dos votos. Agora, "todos concordam que arrecadará muito menos [votos]. Pela primeira vez desde a independência, é provável que o Presidente obtenha menos votos do que o seu partido", disse Melber à DW.
O descontentamento com a situação atual do país alimentou o apoio a Panduleni Itula, que poderá assim conseguir votos, tanto da oposição, como dos membros da SWAPO descontentes com Geingob. Itula acaba por assumir um papel que deveria, por direito, pertencer à oposição. "Esse é o principal problema: temos uma oposição muito fraca", disse Kamwanyah.
Namíbia: Eleições expõem divergências no partido no poder
À DW, Henning Melber explica que a inexistência de um candidato forte nos partidos da oposição pode ser explicada por vários motivos. Entre eles estão a falta de fundos e a dificuldade dos partidos mais pequenos em fazer campanha num país tão vasto. Mas, acrescenta, a principal razão está relacionada com aspetos históricos.
"Acho que a SWAPO foi um caso historicamente único, porque foi reconhecida pelas Nações Unidas em meados dos anos 70 como a única e autêntica representante do povo namibiano", disse o analista Melber. Assim, a SWAPO ganhou um "monopólio sobre a cultura política do país", que usou para espalhar a noção de que "a SWAPO é a nação e a nação é a SWAPO", explicou Melber.
Crise que tem de ser resolvida
Os candidatos dos partidos da oposição têm poucas ou nenhumas hipóteses de progredir. McHenry Venaani, do Movimento Popular Democrático (PDM), não deverá conseguir mais do que cinco por cento dos votos obtidos nas eleições de 2014. Um dos focos da sua campanha foi a crise económica em que se encontra o país e que é resultante, segundo ele, da seca e alterações climáticas, mas também da má gestão e corrupção.
Por seu lado, o Movimento dos Sem Terra, liderado por Bernadus Swartbooi, concentrou-se na expropriação das terras neste país, que tem uma das mais altas taxas de desigualdade do mundo. Até hoje, aproximadamente 70 por cento das terras agrícolas da Namíbia são propriedade de brancos. Os cidadãos negros ou de cor socialmente desfavorecidos possuem apenas 16 por cento.
Primeira candidata feminina às presidenciais
A eleição desta quarta-feira (27.11) tem outra estreia: uma mulher no boletim de voto. Esther Muinjangue é membro da etnia Herero e uma das principais personalidades que têm lutado por uma indemnização para o país por causa do massacre aos povos Herero e Nama perpetrado pelas tropas alemãs, durante o domínio colonial, em 1904-08. Durante a campanha para as presidenciais, Esther Muijangue denunciou também a corrupção e o clientelismo do regime.
Com uma população de 2,45 milhões de habitantes, a Namíbia é um dos países mais ricos da África, no entanto, a sua riqueza não está espelhada na vida da população em geral. E, segundo Henning Melber, o cenário não deverá mudar. "O futuro imediato das pessoas comuns parece bastante sombrio. O facto de a SWAPO ser reeleita é basicamente o resultado de não haver praticamente nenhuma outra opção".
Racista e cruel, a história colonial da Alemanha
A exposição no Museu Histórico Alemão, em Berlim, é a primeira grande exibição que explora os capítulos do domínio colonial da Alemanha. Uma história da ambição falhada de uma superpotência.
Foto: public domain
A cara do colonialismo
Com o chanceler Otto von Bismarck, o Império Colonial Alemão estabeleceu-se nos territórios da atual Namíbia, Camarões, Togo e em algumas partes da Tanzânia e do Quénia. O imperador Guilherme II, coroado em 1888, tentou expandir os domínios coloniais. O imperador alemão queria um "lugar ao sol", como disse mais tarde, em 1897, o chanceler Bernhard von Bülow.
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Colónias alemãs
Foram conquistados territórios no Pacífico (Nova Guiné, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Salomão e Samoa) e na China (Tsingtao). A Conferência de Bruxelas em 1890 determinou que o imperador germânico iria obter os reinos do Ruanda e Burundi, ligando-os à África Oriental Alemã. No final do século XIX, as conquistas coloniais alemãs estavam praticamente completas.
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Um sistema de desigualdades
A população branca nas colónias era uma minoria, raramente representava mais de 1% da população. Uma minoria privilegiada, contudo. Em 1914, cerca de 25 mil alemães viviam nas colónias, menos de metade no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia). Os 13 milhões de nativos das colónias alemãs eram vistos como subordinados, sem recurso ao sistema legal.
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O primeiro genocídio do século XX
O genocídio contra os povos Herero e Nama no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia) é o mais grave crime na história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes Herero fugiram para o deserto, onde as tropas alemãs bloquearam sistematicamente o acesso à água. Estima-se que morreram mais de 60 mil Hereros.
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A culpa alemã
Apenas cerca de 16 mil Hereros sobreviveram ao extermínio. Foram depois detidos em campos de concentração, onde muitos acabaram por falecer. O número exato de vítimas continua por apurar e é ponto de controvérsia. Quanto tempo terão sobrevivido os Hereros depois de fugirem para o deserto? Eles perderam todos os seus bens, os seus meios de subsistência e as perspetivas de futuro.
Foto: public domain
Reformas em 1907
Depois das guerras coloniais, a administração das colónias alemãs foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida. Bernhard Dernburg, um empreendedor de sucesso (na imagem, transportado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado dos Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas coloniais da Alemanha.
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A ciência e as colónias
Com as reformas de Dernburg foram criadas instituições científicas e técnicas para lidarem com assuntos coloniais. Assim estabeleceram-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África Oriental para investigar a transmissão da doença do sono. A imagem demonstra amostras coletadas nessa expedição.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Uma das maiores guerras coloniais
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos rebelaram-se contra o poder na África Oriental Alemã. Cerca de 100 mil locais morreram na Revolta de Maji-Maji. Apesar de raramente discutido, este continua a ser um importante capítulo da história da Tanzânia.
Foto: Downluke
A perda das colónias
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha assinou o tratado de paz de Versalhes, em 1919, que previa que o país renunciava a soberania sobre as colónias. Cartazes como este demonstram o medo dos alemães de, como consequência, perderem poder económico e viverem na pobreza e na miséria no seu país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições coloniais do "Terceiro Reich"
As aspirações coloniais voltaram a surgir com o nazismo e não apenas em relação à colonização da Europa Central e Oriental, através do genocídio e limpeza étnica. O regime nazi pretendia também recuperar as colónias perdidas em África, como demonstra este mapa escolar de 1938. Os territórios eram vistos como fonte de recursos para a Alemanha.
Foto: DW/J. Hitz
Processo espinhoso
As negociações para uma declaração conjunta do genocídio dos povos Herero e Nama entraram numa fase difícil. Enquanto a Alemanha trava quanto a compensações financeiras, há também deficiências nas estruturas políticas internas da Namíbia. Representantes Herero apresentaram, recentemente, uma queixa à ONU contra a sua exclusão nas negociações em curso.