Namíbia: Presidente Hage Geingob reeleito com maioria
AFP | Reuters | AP | DPA | Lusa | nn
1 de dezembro de 2019
O Presidente namibiano Hage Geingob foi reeleito no sábado (30.11) com 56,3% dos votos, o que representa uma quebra acentuada em relação aos 86% que registou no sufrágio anterior, segundo os dados da Comissão Eleitoral.
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O líder da Swapo (Organização do Povo do Sudoeste Africano), que está no poder desde a independência da Namíbia, em 1990, e como Presidente desde 2015, estava muito à frente de Panduleni Itula, o candidato dissidente da Swapo, que obteve 30% dos votos, de acordo com os dados divulgados no sábado (30.11) à noite sobre as eleições gerais no país, realizadas na última quarta-feira (27.11), que adiantam que o partido no poder perdeu a maioria parlamentar.
O líder da oposição, McHenry Venaani, recebeu apenas 5,3% dos votos dos eleitores namibianos. A proximidade passada do seu partido, o Movimento Democrático Popular (PDM), ao apartheid na África do Sul continua a desencorajar uma grande parte do eleitorado a votar naquela estrutura partidária. "A democracia é o verdadeiro vencedor", disse Hage Geingob, para quem "as eleições foram ferozmente contestadas".
Denúncias de fraude eleitoral
No entanto, Panduleni Itula e o líder de um novo partido da oposição, o Movimento Sem Terra (LPM), Bernadus Swartbooi, denunciaram uma fraude eleitoral. Em particular, Itula, que referiu terem existido "uma multiplicidade de irregularidades sem precedentes".
O antigo dentista, de 62 anos, que acusa o presidente de vender a riqueza do país a estrangeiros, particularmente popular entre os jovens, ficou em primeiro lugar na capital da Namíbia, Windhoek. "Serviu de trampolim para a frustração e reuniu todos os descontentes do presidente", observou Graham Hopwood, do principal 'think tank' da Namíbia, o Institute for Public Policy Research.
A Namíbia foi o primeiro país africano a introduzir a votação eletrónica, em 2014. Este equipamento tem sido criticado pela oposição, que alega que a ausência de boletins de voto em papel aumenta a possibilidade de fraude.
A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), por seu lado, considerou que as eleições "foram geralmente pacíficas, bem organizadas (...), permitindo aos eleitores o exercício do seu dever democrático".
A comissão eleitoral informou também que a Swapo havia conquistado 65% dos assentos na Assembleia Nacional. Na legislatura anterior, detinha 80% dos círculos eleitorais. A afluência às urnas para a eleição presidencial foi de 60%.
Namíbia em recessão há vários anos
Hage Geingob, 78 anos, tem liderado a Namíbia, um país deserto na África Austral, desde 2014. Agora, foi reeleito, mas obteve a pior pontuação já alcançada pelo candidato do partido no Governo.
Apesar de um subsolo rico em recursos naturais, incluindo urânio, fundos marinhos ricos em peixe e diamantes, e do crescimento do turismo, a Namíbia está em recessão há vários anos.
A queda dos preços dos produtos de base e a seca persistente nas últimas épocas fizeram com que o produto interno bruto caísse dois anos seguidos (2017 e 2018) e o desemprego atingisse um terço (34%) da população.
O regime do Presidente também tem estado envolvido num escândalo de corrupção. Há algumas semanas, o Wikileaks publicou milhares de documentos acusando funcionários do governo de receber o equivalente a 10 milhões de dólares em subornos de uma empresa de pesca islandesa. Dois ministros implicados neste caso foram obrigados a demitir-se apenas alguns dias antes das eleições, tendo um deles sido mesmo detido por algum tempo. O chefe de Estado negou qualquer envolvimento no caso.
Cerca de 1,3 milhões de eleitores namibianos foram chamados às urnas no passado dia 27 para participarem nas eleições gerais do país, nas quais já era esperada uma clara vitória do atual Presidente e do seu partido.
A reeleição do Presidente namibiano, Hage Geingob, 78 anos, para um segundo mandato enquanto chefe de Estado da Namíbia era dada como praticamente certa, assim como a conquista da maioria dos 96 assentos parlamentares provenientes do seu partido, a Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO, na sigla inglesa).
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.