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Nampula: cidadãos criticam silêncio da oposição

Sitoi Lutxeque (Nampula)
13 de fevereiro de 2022

Em Moçambique, muitos cidadãos dizem que os partidos da oposição deviam fazer mais para ajudar as pessoas. E ser mais interventivos na denúncia dos problemas dos moçambicanos. Partidos dizem que "fazem o que podem".

Sitz des Gemeinderats von Nampula
Sede do Conselho Municipal de Nampula (foto de arquivo).Foto: Sitoi Lutxeque/DW

Cresce em Nampula, Moçambique, um sentimento de insatisfação em relação à oposição. Muitos cidadãos dizem que os partidos não intervêm o suficiente face aos problemas que inquietam a sociedade. Por exemplo, a cobrança de portagens em Maputo ou os estragos causados pela tempestade tropical Ana.

De fato, a oposição continua a ser vista por muitos como tábua de salvação, depois de mais de 46 anos de governação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Mas, por estes dias, parece ser uma tábua escorregadia, de acordo com o cidadão Luís Valeriano.

"Depois da morte do presidente [da  Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso] Dhlakama, e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, nenhum partido [da oposição] faz-se sentir", desabafa.

O cidadão Luís Valeriano.Foto: Sitoi Lutxeque/DW

"Partidos da oposição são hipócritas"

"Ninguém diz nada, ninguém repudia. Os partidos políticos da oposição são hipócritas. Quando temos os nossos problemas não intervêm, mas em 2023, [nas eleições autárquicas], eles estarão aí só para terem lugar", acrescentou Valeriano.

Inácio Francisco, outro cidadão, também aponta uma mudança de atitude. "Os partidos políticos agora estão meio lentos, antigamente eles lutavam pelo povo, o que acontece agora eles estão meio parados e já não nos defendem. Se vão ao Parlamento, já não colocam aquelas questões baseadas ao povo; não temos aquela ajuda como antigamente", diz.

Custódio Armando lamenta igualmente a falta de apoio, afirmando que "há bem pouco tempo, a tempestade Ana criou estragos, destruiu casas nos bairros [da cidade de Nampula], mas não vimos nada [em termos de apoio] não sei o que está acontecer", explica.

O membro da Associação Mentes Resilientes de Moçambique, Jo Jo Ernesto, considera que faltam aos partidos da oposição agendas pós-eleitorais.

É que nem tudo gira em torno dos escrutínios. "As suas agendas são eleitoralistas. Saem das eleições e as agendas eleitoralistas morrem. Ficam no silêncio e só ressuscitam no período eleitoral", disse.

"Não é bem assim"

Mas os partidos dizem que não é bem assim. No caso das portagens, por exemplo, tanto a RENAMO como o MDM alertaram para os problemas que a cobrança vai causar nas vidas dos moçambicanos.

José Domingos, secretário-geral do MDM.Foto: Arcénio Sebastiao/DW

O MDM pediu, por exemplo, a redução do valor das portagens para metade. José Domingos, secretário-geral do MDM, diz que não entende as queixas, "nós sempre falamos [à imprensa] e estamos a par dos acontecimentos do país", disse.

"É verdade que podem querer sejamos mais interventivos. Mas podemos compreender que, no momento [da pandemia] em que estamos, quando pedimos aos jornalistas para  [participarem] de uma conferência de imprensa, nem todos aparecem por motivos de varias ordens", justificou.

Em última análise, o raio de ação destes partidos é limitado, porque não estão no poder.

Mesmo assim, a oposição não fica em silêncio, garante o porta-voz da RENAMO, José Manteigas. "O problema é que os órgãos de comunicação social não publicam o que a RENAMO faz", explicou.

Mas será que os partidos da oposição conseguem ir além da mera crítica e avançar com formas diferentes de resolver os problemas? O analista Jo Jo Ernesto entende que, se os partidos não fizerem nada, a abstenção pode aumentar nas próximas eleições.

"As pessoas estão desacreditando os partidos políticos, e a consciência patriótica está a crescer. Isso implicara menos adesão nos processos eleitorais no futuro", concluiu.

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