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Nampula: Familiares de vítima de rapto pedem explicações

Sitoi Lutxeque (Nampula)
30 de julho de 2019

Assinala-se hoje o Dia Internacional contra o Tráfico de Seres Humanos. Familiares de vítima de rapto na província moçambicana de Nampula pedem mais rigor e transparência nas investigações.

Maurício Carlitos: "Nós, que somos família, ainda não sabemos como acabou aquele problema"Foto: DW/S. Lutxeque

A irmã mais nova de Maurício Carlitos foi raptada em setembro de 2015, no distrito de Malema, província de Nampula.

"Ela estava a dormir e o marido estava ausente. Os malfeitores apareceram por volta da meia-noite. Amarraram-na e, depois, numa mata, esquartejaram-na e levaram consigo os seus órgãos", conta Carlitos.

A polícia conseguiu apanhar o suposto traficante, que foi julgado e condenado à prisão, segundo Maurício Carlitos. Mas, poucos meses depois, terá sido libertado.

"Nós, que somos família, ainda não sabemos como acabou aquele problema", afirma. "O caso foi julgado, mas não sabemos como foi… Uma pessoa que faz esse tipo de ato deve cumprir uma pena de pelo menos 15 anos de prisão, mas aquele cidadão não o fez. Se não me engano, cumpriu apenas dois meses de prisão".

Para Maurício Carlitos, houve falta de transparência no processo - e ele pede que se faça justiça.

Protesto em Nampula contra o tráfico de pessoas, esta terça-feira (30.07)Foto: DW/S. Lutxeque

Preocupação

Nos últimos anos, a província de Nampula, no norte de Moçambique, tem sido apontada como corredor do tráfico de seres humanos. Na região, os casos aumentaram desde finais de 2014, com o rapto e o tráfico de pessoas portadoras de albinismo, motivados por superstições. Organizações não-governamentais dizem ter recebido relatos de pelo menos 100 ataques contra albinos no país, em 2015.

A associação católica "Um grito pela vida", fundada há três anos em Nampula, tem sensibilizado as pessoas para este problema.

Nampula: Familiares de vítima de rapto pedem explicações

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"Formámos esse grupo porque, nos últimos anos, nos temos deparado com várias situações de desaparecimento de crianças e albinos", afirma a missionária angolana Eva Ribeiro, membro da associação.

"Queremos ajudar as populações a prevenirem-se contra estes males que estão a assolar a cidade de Nampula. Fazemos pequenas palestras e passamos informações sobre o tráfico de crianças, adolescentes, jovens e de outras camadas sociais", acrescenta.

A associação participou esta terça-feira (30.07) numa marcha de protesto contra o tráfico de pessoas, em Nampula.

Justiça

Entretanto, a Procuradoria provincial de Nampula anunciou que, brevemente, serão julgados os dois únicos casos de tráfico de seres humanos ocorridos este ano, uma vez que a instrução dos processos já foi concluída e também já há detidos.

Em entrevista à DW, o procurador-chefe da província, Nazimo Mussá, não comentou o trabalho de anos anteriores, mas garantiu medidas para travar o aumento dos casos de tráfico de pessoas.

Ainda assim, Mussá reconhece haver um desajuste na lei no país: "A lei que regula o tráfico de pessoas é de 2008, e há situações que hoje ocorrem, por exemplo, ligadas a questões de tráfico para exploração, de mendicidade, que não são abrangidas. E achamos que estas novas situações devem ser tratadas do ponto de vista legal", conclui.

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