Nampula: Jornalistas vítimas de violência policial
Sitoi Lutxeque (Nampula)
9 de setembro de 2021
Sete jornalistas foram agredidos e detidos em Nampula durante uma manifestação. A polícia nega as agressões, mas confirma as detenções por alegada falta de identificação.
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Depois da agressão a quatro jornalistas, a 30 de junho, por parte de agentes da Polícia Municipal de Nampula, esta quinta-feira (09.09) mais sete profissionais da comunicação social foram alvos de agressões em pleno exercício laboral.
Detenção
Trata-se de Leonardo Gimo e Edmilson Ibraimo, jornalista e repórter de imagem da TV-Sucesso; Osvaldo Sitora, repórter de imagem, Emerson Joaquim, jornalista da Afro TV, Alberto Júnior e Manuel Tadeu, da HAQ TV, assim como Celestino Manuel, colaborador da Média Mais. Este último ficou algemado durante cerca de 30 minutos num dos compartimentos do INAS e viu o seu equipamento confiscado pela polícia. Entretanto todas as vítimas foram libertadas e os equipamentos foram devolvidos. O jornalista Alberto Júnior relata como tudo aconteceu.
"Tivemos uma informação em jeito de denúncia popular sobre uma manifestação em relação ao subsídio da Covid-19. Deslocámo-nos às instalações do INAS para fazer o trabalho e deparámo-nos com uma situação calamitosa".
Agredidos e acusados de incitarem ao protesto
Alberto Júnior revelou que lhes foram retirados os equipamentos "no meio de agressões" e que a Polícia acusou os profissionais da comunicação social de "terem incitado à manifestação" e que "não apresentavam uma carta que permitisse fazer a cobertura" desse protesto. O jornalista descreveu à DW a atuação da polícia.
"Fomos empurrados e até alguns colegas foram algemados. Esta atitude deteriora o relacionamento entre jornalistas e a polícia, isto numa altura em que há uma colaboração entre os órgãos de comunicação social e a polícia."
Os jornalistas já denunciaram o caso às organizações de defesa dos profissionais de comunicação social a nível da província, nomeadamente, o Núcleo Provincial do MISA-Moçambique, o Sindicado Nacional de Jornalistas (SNJ), e a própria polícia.
"Peço aos órgãos competentes para que possam dar seguimento e responsabilizem de forma direta aqueles que estiveram envolvidos neste tipo de situações, pois minam o trabalho dos jornalistas."
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MISA condena e PRM "isolou grupo duvidoso"
O MISA-Moçambique já se pronunciou, em comunicado, condenando o sucedido. No entanto, a Polícia da República de Moçambique, através do chefe das relações públicas, Dércio Samuel, nega a agressão, mas confirma a detenção, alegando que os profissionais em causa não possuíam identificação profissional.
"O comandante da 3ª Esquadra da PRM esteve lá e disse que em nenhum momento a Polícia agrediu, mas sim procurou isolar o grupo duvidoso", afirmou Dércio Samuel. O chefe das relações públicas da PRM acrescentou ainda que depois de se confirmar que se tratava de "jornalistas que não apresentavam qualquer identificação", libertou-os.
Moçambique: O abecedário das dívidas ocultas
A auditoria independente de 2017 às dívidas ocultas não revela nomes. As letras do abecedário foram usadas para os substituir. Mas pelas funções chega-se aos possíveis nomes. Apresentamos parte deles e as suas ações.
Foto: Fotolia/Africa Studio
Indivíduo "A"
Supõe-se que Carlos Rosário seja o indivíduo "A" do relatório da Kroll. Na altura um alto quadro da secreta moçambicana que se teria recusado a fornecer as informações solicitadas pelos auditores da Kroll alegando que eram "confidenciais" e não estavam disponíveis. Rosário foi detido em meados de fevereiro no âmbito das dívidas ocultas. Há inconsistências nas informações fornecidas pelo indivíduo.
Foto: L. Meneses
Indivíduo "B"
Andrew Pearse é ex-diretor do banco Credit Suisse, um dos dois bancos que concedeu os empréstimos. No relatório da Kroll é apontado como um dos envolvidos nos contratos de empréstimos originais entre a ProIndicus e o Credit Suisse. De acordo com a justiça dos EUA, terá recebido, juntamente com outros dois ex-colegas, mais de 50 milhões de dólares em subornos e comissões irregulares.
Foto: dw
Indivíduo "C"
Manuel Chang, ex-ministro das Finanças, assinou as garantias de empréstimo em nome do Governo moçambicano. Admitiu à auditoria que violou conscientemente as leis do orçamento ao aprovar as garantias para as empresas moçambicanas. Alega que funcionários do SISE convenceram-no a fazê-lo, alegando razões de segurança nacional. Hoje é acusado pela justiça dos EUA de ter cometido crimes financeiros.
Foto: Getty Images/AFP/W. de Wet
Indivíduo "D"
Maria Isaltina de Sales Lucas, na altura diretora nacional do Tesouro, terá coadjuvado o ministro das Finanças Manuel Chang, ou indivíduo "C", na arquitetura das dívidas ocultas. No Governo de Filipe Nyusi foi vice-ministra da Economia e Finanças, mas exonerada em fevereiro de 2019. Segundo o relatório, terá recebido 95 mil dólares pelo seu papel entre agosto de 2013 e julho de 2014 pela Ematum.
Foto: P. Manjate
Indivíduo "E"
Gregório Leão foi o número um do SISE, os Serviços de Informação e Segurança do Estado. O seu nome é apontado no relatório da Kroll e foi detido em fevereiro passado em conexão com o caso das dívidas ocultas.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "F"
Acredita-se que Lagos Lidimo, diretor do SISE, Serviços de Informação e Segurança do Estado, desde janeiro de 2017, seja o indivíduo "F". Substituiu Gregório Leão, o indivíduo "E". Na altura disse que não tinha recebido "qualquer registo relacionado as empresas de Moçambique desde que assumiu o cargo." A ONG CIP acredita que assumiu essa posição para proteger Filipe Nyusi, hoje chefe de Estado.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "K"
Salvador Ntumuke é ministro da Defesa desde de 2015. Diz que não recebeu qualquer registo relacionado com as empresas moçambicanas desde que assumiu o cargo. O relatório da Kroll diz que informações fornecidas pelo Ministério da Defesa, Ematum e a fornecedores de material militar não coincidem. Em jogo estariam 500 milhões de dólares. O ministro garante que não recebeu dinheiro nem equipamento.
Foto: Ferhat Momad
Indivíduo "L"
Víctor Bernardo foi vice-ministro da Planificação e Desenvolvimento no Governo de Armando Guebuza. E na qualidade de presidente do conselho de administração da ProIndicus, terá assinado os termos e condições financeiras para a contratação do primeiro empréstimo da ProIndicus ao banco Credit Suisse, juntamente com Maria Isaltina de Sales Lucas.
Foto: Ferhat Momade
Indivíduo "R"
Alberto Ricardo Mondlane, ex-ministro do Interior, terá assinado em nome do Estado o contrato de concessão da ProIndicus, juntamente com Nyusi, Chang e Rosário. Um email citado pela justiça dos EUA deixa a entender que titulares de alguns ministérios moçambicanos envolvidos no caso, entre eles o do Interior, iriam querer a sua "fatia de bolo" enquanto estivessem no Governo.
Foto: DW/B . Jaquete
Indivíduo "Q"
Filipe Nyusi, na altura ministro da Defesa, seria identificado como indivíduo "Q" no relatório. Uma carta publicada em 2019 pela imprensa moçambicana revela que Nyusi terá instruído os responsáveis da Ematum, MAM e ProIndicus a fazerem o empréstimo. Afinal, parte dessas empresas estavam sob tutela do seu ministério. Hoje Presidente da República, Nyusi nunca esclareceu a sua participação no caso.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/M. Yalcin
Indivíduo "U"
Supõe-se que Ernesto Gove, ex-governador do Banco de Moçambique, seja o indivíduo "U". Terá sido uma das entidades que autorizou a contração dos empréstimos. E neste contexto, em abril de 2019 foi constituído arguido no processo judicial sobre as dívidas ocultas. Entretanto, em 2016 Gove terá dito que não tinha conhecimento do caso das dívidas. (galeria em atualização)