Primeiro dia da campanha em Nampula marcado por assassinato
Sitoi Lutxeque (Nampula)
10 de janeiro de 2018
O membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Buana Agostinho Buana, foi morto na noite do primeiro dia da campanha, terça-feira (09.01), quando este acabava de colar panfletos do seu candidato, Carlos Saíde.
Carlos Saide, Candidato do MDM ás eleições intercalares em NampulaFoto: DW/S. Lutxeque
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No segundo dia da campanha eleitoral em Nampula, alguns elementos do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), tiveram que interromper as suas atividades para se juntarem na tarde desta quarta-feira (10.01), à família de Buana Agostinho Buana, assassinado na noite de terça-feira (09.01), por desconhecidos na zona do campo dos Macondes, bairro de Namutequeliua, na cidade de Nampula, quando participava na campanha do seu partido.
O MDM lamenta a morte de Buana Agostinho Buana e atribui o ato a motivações políticas que no seu entender visa enfraquecer aquela formação política.
Segundo informaram fontes do MDM, Buana que também era moto-taxista, acabava de efetuar colagens de cartazes do seu partido e foi solicitado por pessoas não identificadas, alegadamente para um serviço de transporte na noite de terça-feira (09.01).
A mãe da vítima, Tina Mário, que também é presidente da Liga da Mulher do MDM no bairro de Namutequeliua, na cidade de Nampula contou à DW África que: "Ele chegou em casa por volta das 18 horas, mas disse que queria sair, porque umas pessoas lhe tinham telefonado dizendo que necessitavam de um serviço de táxi. Depois de sair, esperamos por ele até por volta da meia-noite quando vieram três homens que pararam na estrada, próximo da minha casa, e pedi-lhes para que se aproximassem, porque já era noite. Quando se aproximaram, disseram que vinham me informar que o meu filho fora agredido mortalmente''.
Membros do MDM "abalados"
Luciano Tarieque, delegado do MDM na cidade de NampulaFoto: DW/S. Lutxeque
O delegado do MDM na cidade de Nampula, Luciano Tarieque, disse que a notícia da morte de um dos membros do seu partido deixou triste e abalado todos os membros do seu partido. Segundo ele, o caso é mais um atentado contra a sua formação politica.
‘‘Tomamos conhecimento que o filho da presidente da Liga da Mulher do bairro de Namutequeiua foi assassinado. Esta notícia deixou todos os membros do MDM abalados, não só pelo facto de estarmos em plena campanha eleitoral, mas porque perdemos um homem e uma pessoa que apostava no desenvolvimento deste país'', disse.
Embora não tenha apontado o dedo especificamente a alguém ou a uma formação política, Luciano Tarieque, atribuiu este assassinato a motivações políticas com a finalidade de enfraquecer o seu partido. E diz que a perda de um dos seus membros, "significa uma perda, uma lacuna, uma dor para o partido, e acima de tudo, uma fase difícil que estamos a enfrentar"."No passado, muita coisa aconteceu no seio do MDM. Talvez as pessoas estejam a pensar que atos desta natureza fragilizam o MDM, mas somos um partido que funciona com fé, na confiança de Deus e nas tradições do Estado e das familias'', assegura o delegado do MDM na cidade de Nampula.
Intercalares em Nampula: Um membro do MDM é assassinado
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O delegado garantiu o apoio total aos familiares da vítima e pediu a intervenção das autoridades com vista a fazer com que este processo eleitoral não seja manchado com assassinatos do género.
Polícia sem conhecimento do caso
A polícia em Nampula, através do seu porta-voz Zacarias Nacute, num contato telefónico com o nosso correspondente, disse não ter sido, ainda, notificado sobre o caso.
‘‘Até agora não tivemos nenhuma denúncia. Mas vou inteirar-me depois dar-lhe-ei algum feedback'', garante.
Refira-se que a polícia em Nampula anunciou recentemente que ao longo de todo este processo das eleições intercalares estará de prontidão no controlo e combate à criminalidade.
A campanha eleitoral que teve início na terça-feira (09.01) termina no próximo dia 21 e a votação ocorrerá no dia 24 .
O município de Nampula é governado pelo MDM desde as eleições autárquicas de 2013 e o presidente que sair da votação intercalar só irá governar até 10 de outubro de 2018, data em que haverá eleições autárquicas em todo o país.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.