Nampula: "Obra em estrada pode ser campanha eleitoral"
Sitoi Lutxeque (Nampula)
14 de dezembro de 2017
Em Moçambique, depois de quase uma década, a estrada Nampula-Nametil começou a ser reabilitada. Mas moradores dizem que obra acontece devido à proximidade do período eleitoral.
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Foram muitos anos de promessas e pouca ação, mas a espera chegou ao fim. Arrancaram, finalmente, as obras para a construção da estrada Nampula-Nametil, no norte de Moçambique. Muitos cidadãos aplaudem o início das obras, mas também há quem desconfie de oportunismo político – é que as eleições em Nampula estão já à porta.
A estrada Nampula-Nametil tem buracos há uma década. A reabilitação dos mais de 70 quilómetros já era uma promessa antiga, que remonta à época do ex-Presidente Armando Guebuza.
A via liga a capital provincial, Nampula, aos distritos agrícolas de Meconta e Mogovolas (Nametil) e é usada, em parte, para chegar aos distritos de Moma e Angoche, onde estão sediados investimentos milionários de multinacionais que exploram as areias pesadas.
Moradores aliviados com as obras
Entre os cidadãos satisfeitos com o início das obras, está Issufo Joaquim, residente na cidade de Nampula. Para ele, o atual estado da estrada "não tem condições".
"Está muito danificada. É pior neste período chuvoso em que já estamos a entrar; a situação vai agravar. Aqui passa muita gente – comerciantes, agricultores, doentes e inclusive os nossos dirigentes usam esta estrada em serviço noutros distritos", diz Joaquim.
Outro residente, Marcelino Almoço, também celebra a reabilitação do troço. Ele diz que, por causa da chuva, "às vezes, temos usado caminhos do bairro para contornar as covas".
As obras de reabilitação da estrada Nampula-Nametil começaram no sábado, dia 9 de dezembro. Ao todo, o projeto, que conta com financiamento sul-coreano, deverá custar cerca de 41,5 milhões de dólares. Os trabalhos estão previstos para durarem 30 meses. Além do asfaltagem da via, o projeto inclui a construção de cinco pontes, uma delas sobre o rio Muhala, na cidade de Nampula.
"Esperar para ver"
Ao lançar a primeira pedra, no início das obras, o Presidente Filipe Nyusi desejou melhores dias para a economia local. "A asfaltagem desta estrada, que constitui materialização de um dos grandes compromissos desse ciclo de governação, irá garantir a ligação segura e mais rápida entre a capital provincial de Nampula e os distritos de Nampula, Meconta, Mogovolas, Moma e Angoche", ressaltou Nyusi.
14.12.17 Obras estrada Nampula-Nametil - MP3-Mono
Entretanto, Marcelino Almoço diz que prefere esperar até que as obras sejam concluídas. O residente lembra que as eleições estão à porta e o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), tem interesse em mostrar trabalho.
"Até o governador da província prometia que as obras arrancariam em agosto e não aconteceu. Então, se hoje isso acontece, e com tantos anos passados com a estrada degradada, concluímos que pode ser campanha [eleitoral], porque o Governo, quando chega no tempo das eleições, tem tentado fazer coisas grandes para servir de mensagem durante a campanha", conclui.
Ilha de Moçambique: a "menina dos olhos" de Nampula
Há 200 anos, que a primeira capital de Moçambique foi elevada à cidade. Desde 1991 a ilha é Património Mundial da Humanidade. O arquipélago no norte de Moçambique concentra um incalculável valor histórico e cultural.
Foto: DW/J.Beck
Primeira capital de Moçambique
Situada na Província de Nampula, a Ilha de Moçambique é um destino turístico muito procurado na África Austral pelo seu vasto património histórico e cultural. "Descoberta" pelo navegador português Vasco da Gama, em 1498, aquando da viagem marítima para a Índia, esta ilha foi a primeira capital de Moçambique. É atualmente habitada por cerca de 15 mil pessoas.
Foto: DW/J.Beck
Pequena ilha, grande história
Apesar de ter apenas três quilómetros de comprimento e 400 metros de largura, esta pequena ilha carrega uma grande história. Quando Vasco da Gama a "descobriu", ela já era um importante lugar de trocas comerciais entre os africanos e os povos árabes. Após a chegada dos portugueses, a ilha ganhou uma importância estratégica na rota que ligava Lisboa a Goa, a "Carreira da Índia".
Foto: DW/J.Beck
Habitações com história
A Ilha de Moçambique está dividida em duas partes: a “cidade de pedra e cal” e a “cidade de macuti“. Na primeira (à direita da rua), eram construídas as casas que pertenciam às camadas mais altas da sociedade, onde estavam os palácios e fortalezas. Na segunda (à esquerda da rua), viviam as pessoas de classes mais baixas.
Foto: DW/J.Beck
Cidade de "macuti"
Na chamada “cidade de macuti“ viviam os mais pobres - os pescadores, por exemplo. É nesta parte da cidade que se encontram, como o nome indica, as construções mais precárias cobertas por macuti - as tradicionais folhas de coqueiro espalmadas.
Foto: DW/J.Beck
Património Mundial da Humanidade
Foi em 1991 que a ilha de Moçambique passou a integrar a lista dos destinos considerados Património Mundial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO. De passagem pela ilha há vários monumentos que não pode deixar de visitar.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
Construída no século XVI pelos portugueses, a Fortaleza de São Sebastião visava dar proteção e apoio aos barcos que navegavam na chamada Carreira da Índia. É um dos mais representativos exemplos da arquitetura militar portuguesa na costa oriental de África.
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Capela de Nossa Senhora do Baluarte
A Capela de Nossa Senhora do Baluarte, construída em 1522 na extremidade norte da ilha, é hoje o único exemplo da arquitetura manuelina em Moçambique. O manuelino, ou também gótico português tardio, é um estilo que se desenvolveu no reinado de D. Manuel I nos séculos XV e XVI. O acesso à capela faz-se apenas pelo interior da Fortaleza de São Sebastião.
Foto: DW/J.Beck
Palácio de São Paulo
Construído em 1610, o Palácio de São Paulo, também conhecido como Palácio dos Capitães-Generais, funcionou primeiro como Colégio da Companhia de Jesus, tendo sido depois convertido no palácio do governador - função que manteve até a Ilha de Moçambique deixar de ser a capital do país, em 1898. No palácio podemos hoje visitar o Museu da Marinha e o Museu-Palácio de São Paulo.
Foto: DW/J.Beck
Outros locais de interesse turístico
O monumento dedicado ao poeta português Luís Vaz de Camões, que viveu entre 1567 e 1569 na Ilha de Moçambique, é outro dos locais que os visitantes da Ilha não podem deixar de conhecer, assim como a Igreja da Misericórdia e Museu de Arte Sacra e a Capela de São Francisco Xavier. Todos estes edifícios históricos estão localizados na Cidade da Pedra.
Foto: DW/J.Beck
Um destino multicultural
Apesar da clara influência do povo português, cabem na ilha de Moçambique apontamentos de muitas outras geografias mundiais. Encontramos aqui um largo número de culturas e religiões diferentes. Ao caminharmos pelos diferentes bairros da ilha, cruzamo-nos com várias igrejas e capelas, mas também com mesquitas e um templo hindu.
Foto: DW/J.Beck
Escola Maometana
A maioria dos habitantes da ilha pertence à religião muçulmana. A "Escola Maometana / The Mohamedia Madresa School" localiza-se ao lado da "Mesquita Central Seita Sunni" próximo do centro da Ilha de Moçambique. A ilha foi marcada durante séculos pela cultura suaíli e o islão dos povos da África Oriental, como também acontece na vizinha Tanzânia.
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Ilha em risco – um futuro incerto
Nos últimos anos, muitos são os especialistas que chamam a atenção para a possibilidade deste pequeno paraíso poder vir a desaparecer por causa das alterações climáticas. Teme-se que, devido à erosão costeira, um dia a ilha possa acordar no fundo do mar. Até ao momento já foram consumidas várias áreas pequenas.
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Fecalismo a céu aberto
Mas para além do câmbio climático, há outros problemas mais profanos no dia a dia da ilha. Muitos habitantes usam as praias como casa de banho, o que ameaça a saúde pública e coloca em perigo os atrativos turísticos da ilha. Para melhorar o saneamento básico, foram construídos sanitários públicos em vários lugares da ilha.
Foto: DW/J.Beck
Degradação apesar de Património Mundial
Apesar da classificação em 1991 como Património Mundial pela UNESCO, encontram-se muitos prédios em ruínas na Ilha de Moçambique. A recuperação é lenta. Desde que a capital do país passou para Maputo, no sul de Moçambique, os investimentos públicos concentram-se no sul do país. O norte e a Ilha de Moçambique perderam protagonismo político.
Foto: DW/J.Beck
Esforços em torno da preservação
No entanto, e apesar do património histórico omnipresente na ilha, ela quer continuar a ser um lugar para se viver. Por isso, o Governo de Moçambique e parceiros internacionais têm vindo a unir esforços para criar melhores condições sócio-económicas. E, claro, para preservar o património histórico e cultural da ilha.