Depois de quase três anos sem casos da doença, autoridades de Saúde confirmam mais de 700 infetados e uma morte. Campanhas de sensibilização e prevenção foram intensificadas, numa ação coordenada com vários setores.
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Depois da província vizinha de Cabo Delgado, Nampula está a registar casos de cólera desde finais de fevereiro. Inicialmente, aquando da eclosão da doença, a cólera afetava apenas quatro distritos. Agora, já atinge nove dos 23 distritos existentes na província mais populosa do país.
De acordo com Américo Barata, chefe do departamento de Saúde Pública na Direção Provincial de Saúde de Nampula, há um "número cumulativo de 737 pacientes nos nove distritos afetados, desde que estamos a registar e a assistir pacientes nos nossos centros de tratamento de doenças diarreicas e cólera".
Na última semana, altura em que foram feitas as atualizações dos dados pelas autoridades, havia cerca de 60 novos pacientes nos nove distritos.
Autoridades preocupadas
Para Américo Barata, "continua ainda a preocupação para as autoridades de saúde, os seus parceiros de cooperação e outras instituições que lidam com a questão do saneamento e da saúde pública."
"Na cidade de Nampula e no distrito de Monapo, mantém-se um número significativo de pacientes a dar entrada", diz.
Segundo Alfredo Matata, administrador do distrito de Nampula: "Nos últimos três anos, o distrito de Nampula descansou de problemas de diarreias em épocas chuvosas. [Mas] este ano [houve] chuvas. Entretanto, estamos a registar problemas de diarreias no nosso distrito".
"Isto é preocupante. Por isso, estamos todos aqui para ver quais são as medidas que vamos tomar para pormos fim. É um problema que podemos resolver. Os problemas de cólera têm solução", defende.
Nampula regista casos de cólera em nove distritos
Sensibilização e controlo
O setor da Saúde está, neste momento, a intensificar as ações de sensibilização para o controlo da doença, bem como a capacitação dos provedores de saúde, para mobilizarem as pessoas para tomarem medidas de higiene individual e coletiva.
Um dos encontros decorreu nesta semana, na cidade de Nampula, com as lideranças locais.
"Eu já fiz um programa de visitas em todas as unidades comunais de maneira a explicar às pessoas como nos podemos prevenir desta doença [cólera], e este programa já remeti ao Governo do distrito para ter conhecimento do que estamos a fazer", revela Simão Júlio, líder comunitário no bairro de Murrapaniuia.
Os líderes comunitários, que garantem apoio incondicional às autoridades no combate à doença, pedem à edilidade rapidez na remoção do lixo espalhado em diferentes locais.
Mercados de Nampula são perigo à saúde pública
Mercados de Nampula são um perigo à saúde pública - alguns não possuem sanitários. Apesar dos esforços dos governantes em alguns locais, muitos vendedores enfrentam mau cheiro para garantir o seu sustento.
Foto: DW/S. Lutxeque
Hipotecar a saúde a favor da sobrevivência
Fátima Sualehe é vendedeira de hortícolas no mercado da Padaria Nampula. Ela desenvolve esta actividade há mais de dois anos, quando se separou do seu esposo. Aqui, ela enfrenta o cheiro ruim produzido pelas águas negras. Mas "é para garantir o sustento dos meus cinco filhos", disse a vendedeira de espinafre.
Foto: DW/S. Lutxeque
Espaço dos CFM transformados em mercado
Nos 18 bairros que a cidade de Nampula tem a apetência de vender, aliada ao desemprego, acarreta no aumento da actividade comercial. Isso faz com que mesmo lugares impróprios sejam ocupados pelos vendedores. Um desses lugares é o recinto dos "Caminhos de Ferro de Moçambique", onde está instalado o famoso "Mercado da Padaria Nampula".
Foto: DW/S. Lutxeque
Nas ruas da cidade
A cidade de Nampula está a ficar praticamente sem ruas e passeios. Nestes locais, vendedores encontram maior atrativo para a prática comercial. "Nos mercados não há muitos clientes, por isso a aproveitamos esses locais para vender nossos produtos e ganhar dinheiro", justificam quase todos os vendedores "assaltantes das ruas".
Foto: DW/S. Lutxeque
"Reciclar" consumíveis e vender
Todas as manhãs, mulheres e crianças escalam o mercado grossista do Waresta, o maior estabelecimento comercial de venda a grosso e a retalho. Nem todos vão para vender, muito menos comprar os produtos. Aproveitam-se da chegada e descarregamento dos camiões de grande tonelagem, transportando produtos, para selecionar os que não estão em decomposição e postereriormente colocá-los nas bancas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Lixo e locomotivas
A luta pela sobrevivência de milhares dos moçambicanos, sobretudo os residentes na província mais populosas do país, já está a causar prejuízos e acidentes ferroviários. Os vendedores acumulam lixo e até chegam a embaraçar as locomotivas. As autoridades municipais falam em transferência dos vendedores, enquanto as empresas ferroviárias não param de sensibilizar os vendedores para o abandono.
Foto: DW/S. Lutxeque
Insuficiência de sanitários públicos
Muitos mercados da cidade de Nampula não tem sanitários públicos. Um dos maiores mercados é o da Padaria Nampula, no centro da cidade. Para atender as necessidades biológicas, os vendedores que ficam quase todo o dia a praticar a actividade comercial fazem as necessidades ao relento, mesmo no recinto dos estabelecimentos comerciais.
Foto: DW/S. Lutxeque
Sanitários em abandono
Enquanto muitos estabelecimentos comerciais não possuem sanitários públicos, no mercado grossista do Waresta existem dois desses melhorados, construídos pelas autoridades. Mas, de acordo com os gestores dos mesmos, os vendedores preferem fazer suas necessidades biológicas ao relento, distanciando de pagar uma taxa de 10 meticais por cada vez que necessitam.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mercados a céu aberto
Apesar dos esforços da edilidade, reconhecido pelos munícipes, a cidade, que ainda ostenta o título da terceira maior de Moçambique, tem alguns dos seus mercados com aspetos rurais. Há muitos mercados e bancas a céu aberto, e outros de construção precária. Em tempos chuvosos, os vendedores vivem à deriva.
Foto: DW/S. Lutxeque
Partidarização dos mercados
Os partidos políticos na cidade de Nampula também procuram ganhar protagonismo através de propagandas baratas. Em quase todos os mercados da periferia existem bandeiras dos três partidos políticos com assento parlamentar (RENAMO, FRELIMO e MDM). A situação agudizou-se no período das campanhas eleitorais, mas até agora nenhum partido removeu os seus materiais de propaganda.
Foto: DW/S. Lutxeque
Esforços da Edilidade
O Conselho Municipal de Nampula, liderado por Paulo Vahanle, tem, apesar das dificuldades financeiras que herdou do antigo Governo (quando assumiu o poder depois das eleições intercalares) se esforçado para melhorar os mercados. Um deles é o mercado do Waresta, o maior da cidade, que está a beneficiar-se das obras de reabilitação.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mercado Novo
O Mercado Novo, localizado no centro da cidade, é o primeiro e mais organizado. Aqui não existe lixo no chão, muito menos degradação. Há lojas organizadas e com sistema de escoamento de águas negras. Está localizado a pouco mais de 200 metros do edifício da edilidade, e a menos de cem metros do Mercado Central. Foi criado no Governo de Mahamudo Amurane, edil já falecido.