Nampula vai a votos na segunda volta das intercalares
Sitoi Lutxeque (Nampula)
14 de março de 2018
Cidadãos de Nampula, no norte de Moçambique, escolhem esta quarta-feira o próximo edil, que substituirá Mahamudo Amurane, assassinado no ano passado. Segunda volta é disputada entre candidatos da FRELIMO e da RENAMO.
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A votação começou esta quarta-feira de manhã (14.03) com fraca afluência aos postos distantes do centro de Nampula, nas zonas rurais. Mas o ambiente é de grande expectativa. As urnas estão abertas até às 18 horas naquela que é a segunda volta da eleição intercalar para escolher o sucessor de Mahamudo Amurane, morto a tiro em outubro por desconhecidos.
Os eleitores querem um autarca empenhado nas causas do povo. "Vou votar numa pessoa que vai trabalhar bem para a população", afirma Fátima Joaquim, uma residente em Nampula.
"A maior frustração para nós será se os candidatos prometerem e não cumprirem", acrescentou outro cidadão Molide Momade, na véspera da votação.
Problemas? Comissão eleitoral garante que não
Problemas como a falta de nomes nos cadernos eleitorais e os atrasos na chegada do material às assembleias de voto são questões que não se deverão repetir nesta segunda volta das intercalares, assegura o presidente da Comissão Provincial de Eleições, Daniel Ramos.
"Haverá em cada local de votação um técnico do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) que vai auxiliar todos aqueles que não conseguirem localizar a sua mesa de votação, mas também os próprios Membros das Mesas de Votos (MMV) poderão ajudar os eleitores a localizar os nomes", afiançou.
As autoridades eleitorais, acompanhadas por agentes da polícia, começaram a distribuir o material de votação na manhã de terça-feira, sobretudo nos locais mais distantes, para evitar atrasos no arranque da votação.
O presidente da Comissão Provincial de Eleições, Daniel Ramos, fez um apelo a todos os que se recensearam para exercerem o seu direito de voto. "O nosso desejo é, também, ver todas as mesas de votação repletas de pessoas", disse.
Medo de abstenção elevada
A Sala da Paz, uma organização que envolve a sociedade civil, políticos, religiosos e jornalistas na observação do processo de votação, mostrou-se preocupada com a abstenção que marcou a primeira volta das eleições. Mas Juma Aiuba, porta-voz da organização, acredita que a situação pode ser diferente esta quarta-feira.
"Preocupa-nos a questão das abstenções e temos estado a trabalhar com os órgãos de gestão eleitoral para evitarmos os erros que foram verificados na primeira volta. E temos a garantia dos mesmos que a questão dos cadernos, que era mais candente, estaria ultrapassada."
A polícia moçambicana, por intermédio do seu porta-voz em Nampula, Zacarias Nacute, já avisou não vai permitir desordem no processo de votação, e pede aos cidadãos que abandonem os postos de votação depois de votarem e aguardem pelos resultados nas suas casas através dos órgãos de comunicação social.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.