Nampula: Vogal do MDM denuncia ameaças de morte
23 de julho de 2024Luciano Tarieque, vogal da Comissão Provincial de Eleições de Nampula, indigitado pelo Movimento Democrático deMoçambique (MDM), denuncia que está a ser ameaçado de morte, por indivíduos desconhecidos, desde segunda-feira à noite (22.07). O vogal conta, em declarações à DW, que recebeu uma chamada de "uma pessoa" – não identificada – que disse ter sido "mandatada desde o ano passado" para o matar.
"Se o deixámos em vida é porque nós quisemos", terá dito ainda o mesmo indivíduo por telefone, explicando a Tarieque ter recebido ordens de "uma das pessoas do STAE [Secretariado Técnico de Administração Eleitoral] provincial".
O vogal conta que os indivíduos lhe sugeriram que pagasse 30 mil meticais (cerca de 430 euros) para desistirem da execução do plano. Mas afirma ter rejeitado a proposta.
À DW, sem gravar entrevista, o presidente da Comissão Provincial de Eleições em Nampula, Daniel Ramos, disse ter sido apanhado de surpresa pela denúncia, porque, segundo refere, fala frequentemente com o vogal do MDM. A chefe do gabinete de comunicação do STAE provincial, Josina Taipo, também disse desconhecer o caso. Por isso, preferiu não tecer qualquer comentário.
Luciano Tarieque diz que não descarta a possibilidade de tais ameaças estarem relacionadas com questões políticas, devido à sua frontalidade, depois de, nas eleições passadas, ter denunciado ilícitos eleitorais.
"Se calhar, como somos tão implacáveis, isso ameaça os outros", comenta. O vogal contou ter estado já, na manhã desta terça-feira (23.07), no Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC). "Espero que o pessoal da investigação criminal busque essas pessoas, se tiverem vontade de investigar."
Tarieque não vai vergar
A DW contactou o SERNIC, em Nampula, sobre o caso. Uma fonte oficial, que não quis gravar entrevista, disse que ainda não tinha sido notificada para o efeito, mas assegurou que será aberta uma investigação assim que o cidadão em causa participar o caso.
Luciano Tarieque conta que esta não é a primeira vez em que é visado por criminosos. "No ano passado, eu sofri uma vandalização na minha casa, depois das eleições", recorda. "Vieram gatunos à minha casa, vandalizaram a minha viatura. Nós estamos preparados psicologicamente para sermos assassinados a qualquer altura", desabafa.
Ainda assim, Tarieque diz que não vai vergar e vai continuar a lutar até que chegue "a salvação do povo que continua oprimido" desde a independência do país, em 1975.
Gamito dos Santos, defensor dos direitos humanos, refere que a sua organização já tomou conhecimento das ameaças denunciadas pelo vogal da Comissão Provincial de Eleições.
"Nós queremos repudiar este ato, que não traz um bom nome para a nossa sociedade", reagiu o ativista, para quem esta ameaça constitui um atentado à violação dos direitos básicos fundamentais. "Queremos pedir a quem de direito, neste caso as autoridades, que trabalhem. Acho que têm elementos suficientes para encontrarem os meliantes, uma vez que as ligações [o número de telefone] não foram anónimas", reforçou.
O ativista moçambicano teme que mais situações do género aconteçam, nas próximas semanas, com o aproximar das eleições gerais, marcadas para 9 de outubro.