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NATO vs. Rússia: Corrida contra o tempo para evitar a guerra

Frank Hoffmann
17 de novembro de 2023

Rússia pode preparar as suas forças terrestres para um ataque contra a NATO dentro de seis anos, diz estudo intitulado "Prevenir a próxima guerra". Europa enfrenta uma fase decisiva.

Litauen | NATO Militärübung in Pabrade mit Beteiligung deutscher Bundeswehrsoldaten
Foto: Karolis Kavolelis/AP Photo/picture alliance

Os países europeus membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) dispõem apenas de "cinco a nove anos" para estarem "prontos para uma guerra", face a um eventual ataque da Rússia contra o seu território. Esta é a conclusão de uma análise recentemente publicada pelo Conselho Alemão de Relações Externas (DGAP).

Os autores Christian Mölling e Torben Schütz, que são igualmente membros da reputada think tank de Berlim, estão convencidos de que "a próxima guerra na Europa só pode ser eficazmente evitada num período de tempo limitado".

Armamento russo

Eles explicam que, no decurso da guerra contra a Ucrânia, a Rússia transformou a sua produção de armas numa economia de guerra. "Mesmo depois de quase dois anos, a capacidade de guerra da Rússia é maior do que a impressão atual transmite. As maiores perdas em termos de pessoal e material foram sofridas pelas forças terrestres", lê-se na análise intitulada "Prevenir a próxima guerra".

A Alemanha e a NATO estão a "correr contra o tempo" para modernizar as suas forças armadas convencionais, de modo a que o seu potencial de dissuasão ultrapasse os cálculos russos para um ataque bem-sucedido aos Estados da NATO, como a Lituânia, a Letónia e a Estónia.

Christian Mölling, especialista alemão em segurança do Conselho Alemão de Relações ExternasFoto: DGAP

O perito em segurança da DGAP, Christian Mölling, refere-se aos círculos militares e de informação na Alemanha. A análise está de acordo com as novas orientações da política para a Defesa alemã (Bundeswehr), apresentadas pelo Ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, no início de novembro. Pistorius utilizou publicamente, pela primeira vez, a palavra "pronto para a guerra" como objetivo para a reorganização da Bundeswehr.

"A guerra regressou à Europa com o ataque brutal de Putin à Ucrânia", disse Pistorius. "Isto alterou a situação. Como o país mais populoso e economicamente forte no centro da Europa, a Alemanha deve ser a espinha dorsal da dissuasão, e da defesa colectiva na Europa", disse o Ministro da Defesa alemão na apresentação das novas diretrizes para as forças armadas do país.

Para calcular o tempo que a NATO tem para evitar uma guerra através da dissuasão, entendem que a Rússia conseguirá "congelar" a guerra na Ucrânia. Isto daria ao Kremlin tempo para reconstruir as suas forças terrestres.

No entanto, em Berlim, quase ninguém espera que a guerra de agressão da Rússia termine rapidamente. "Ambos os lados têm planos militares", afirma Nico Lange, especialista em Ucrânia e Rússia, na Conferência de Segurança de Munique, em entrevista à DW. "Acho precisamos partir do princípio de que a guerra vai continuar durante algum tempo".

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Ucrânia

No entanto, o comandante-chefe ucraniano, Valery Salushnyi, advertiu recentemente que a ajuda militar fornecida até agora pelos cerca de 50 países apoiantes da Ucrânia, liderados pelos EUA, apenas conduziu a um "impasse".

O curso da frente de guerra no leste e no sul ucranianos praticamente não se alterou desde junho, mesmo durante a contraofensiva desse país. No entanto, em termos de posições no terreno, a Rússia está em vantagem, porque a sua indústria de defesa, que cresce a olhos vistos, tem uma artilharia quase ilimitada, adverte o analista militar austríaco Markus Reisner, em entrevista à DW.

A Ucrânia só pode ser bem-sucedida numa guerra de movimento. Para que isso seja novamente possível na próxima primavera, esse país precisa de armas de última geração ocidentais.

Além disso, vários especialistas em guerra consideram que a frente na Ucrânia está a evoluir para um campo de batalha cada vez mais controlado eletronicamente. E, cada vez mais, fala-se mais da utilização da inteligência artificial na guerra.

"Trata-se de controlar o campo eletromagnético, onde os rádios são utilizados e os drones são controlados", disse Reisner à DW. O especialista em Ucrânia, Nico Lange, também confirma que a Rússia pode agora bloquear com sucesso as armas ucranianas através do controlo por satélite.

Sanções falharam?

E isso aplica-se mesmo aos lançadores de mísseis HIMARS fornecidos pelos EUA e utilizados pela Ucrânia para interromper o abastecimento russo durante a sua reconquista, há um ano. "A Rússia é muito bem-sucedida na interferência", diz Lange.

A interferência refere-se ao bloqueio dos sinais de satélite, radar e rádio do inimigos. Isso é particularmente significativo tendo em conta o fato de a batalha na Ucrânia se ter transformado cada vez mais numa guerra de drones nos últimos dois anos. Não só atacam com armas, como também fornecem imagens e, juntamente com o reconhecimento por satélite, criam uma frente transparente. A Rússia também tem se "armado" neste domínio, diz Lange.

Sistema de mísseis móveis HIMARS na Ucrânia: Rússia interfere com a mira eletrónicaFoto: Armed Forces of Ukraine/Cover Images/IMAGO

Aparentemente, as sanções económicas impostas pela União Europeia (UE) e pelos EUA não impediram a Rússia de continuar a possuir microchips e outros bens de alta tecnologia. A Rússia também tem o seu próprio sistema de navegação por satélite para apontar mísseis, diz Lange, especialista em Ucrânia e segurança. Esta consideração também está, obviamente, incluída na análise do armamento da NATO feita pelo grupo de reflexão DGAP.

Poder da NATO

De acordo com o estudo, cresceu em Berlim a convicção de que a Rússia poderia reconstruir rapidamente as suas forças terrestres com a atual produção de armas. E, de tal forma, que o seu poder de combate excederia o atual potencial de dissuasão da NATO para uma guerra convencional na Europa.

"Os peritos e os serviços de informação estimam que a Rússia precisará de seis a dez anos para reconstruir o seu exército ao ponto de poder ousar atacar a NATO", afirma Christian Mölling, analista da DGAP.

Por conseguinte, a NATO dispõe apenas de um período de cinco a nove anos para se rearmar de forma a poder repelir um ataque da Rússia: "Um ataque russo ao território da NATO já não pode ser excluído", diz Mölling. "Isso significa que a questão já não é se a Alemanha e a NATO têm de estar preparadas para a guerra, mas sim quando".

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