Esta terça-feira (18.10) ficou marcada por encontro entre a RENAMO e a equipa de mediação internacional. Neste mesmo dia, a Polícia moçambicana disse que continuará a desmantelar bases do partido da oposição pelo país.
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As negociações de paz em Moçambique entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido de oposição, foram retomadas em Maputo, após um intervalo de duas semanas.
"Este foi apenas um primeiro encontro com uma das partes [a delegação da RENAMO] e amanhã [quarta-feira] teremos o encontro com a outra parte [o Governo moçambicano]", disse à imprensa momentos após a reunião Mario Raffaelli, coordenador da equipa de mediação internacional, que não ofereceu mais detalhes sobre o encontro desta terça-feira.
Após suspensão das negociações a 30 de setembro, proposta pelos mediadores internacionais para permitir às partes consultas e elaboração de propostas visando a superação do impasse que se verifica em torno da cessação dos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da RENAMO, as conversações deviam ter sido reatadas a 10 de outubro.
Assassinato de membro da RENAMO
Entretanto, o adiamento das negociações aconteceu depois do homicídio de Jeremias Pondeca, membro da delegação da RENAMO no diálogo político e conselheiro de Estado, atingido a tiro na manhã de 8 de outubro, quando caminhava na praia da Costa do Sol, na marginal de Maputo. Na sessão desta terça-feira, os mediadores internacionais e a delegação da RENAMO permaneceram um minuto em silêncio em memória de Pondeca.
A morte de Pondeca, também conselheiro de Estado, segue-se a vários assassinatos de membros do partido de oposição e da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), sobretudo nas zonas onde se registam confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado do principal partido de oposição.
Além da exigência do maior partido de oposição de governar em seis províncias onde reivindica vitória eleitoral e a cessação imediata dos confrontos, a agenda do atual processo negocial integra a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança, incluindo na polícia e nos serviços de informação do Estado, e o desarmamento do braço armado da RENAMO e sua reintegração na vida civil.
Polícia continuará a desmantelar bases da oposição
No mesmo dia em que foram retomadas as negociações de paz, a Polícia moçambicana anunciou que as Forças de Defesa e Segurança vão continuar a desmantelar posições e bases da RENAMO, com objetivo de eliminar focos de presença de homens armados do principal partido de oposição do país. A informação foi confirmada pelo porta-voz do Comando Geral da Polícia da República, Inácio Dina.
Nas duas últimas semanas, as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas tomaram uma base no distrito de Murrupula, província de Nampula, e outra no distrito de Mocuba, província da Zambézia, apreendendo armas e munições e medicamentos.
Nas duas províncias, centros de saúde foram visados em ataques que as autoridades moçambicanas atribuíram à RENAMO, no atual contexto de violência militar que opõe o braço armado do movimento e as Forças de Defesa e Segurança.
A atual onda de violência militar em Moçambique seguiu-se à recusa da RENAMO de reconhecer a derrota nas eleições gerais de 2014, acusando a FRELIMO de fraude no escrutínio.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.