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Negociações no Sudão serão retomadas este domingo

Lusa | AFP | AP | kg
18 de maio de 2019

Após três dias de suspensão nos diálogos, militares voltarão a se reunir com líderes dos protestos para definir um gabinete executivo de transição. Movimentos religiosos exigem manutenção da lei islâmica.

Manifestante em barricada montada durante protestos em CartumFoto: picture-alliance/AA/M. Hjaj

O Conselho Militar de Transição no poder no Sudão anunciou este sábado (18.05) que as negociações com os manifestantes serão retomadas este domingo (19.05).  O ponto mais sensível das conversações tem sido o da constituição do gabinete executivo de transição,  que terá duração de três anos.

Esperava-se que os generais e os líderes da Aliança para a Liberdade e a Mudança (ALC) chegassem a um acordo na última quarta-feira, mas o diálogo não ocorreu. Na quinta-feira, o chefe do conselho militar, Abdel Fattah al-Burhan, confirmou que as negociações foram suspensas por 72 horas. Na sequência, os manifestantes atenderam à exigência de Burhan de desmantelar os bloqueios de estradas que haviam paralisado partes da capital Cartum.

Militares assumiram o comando do Sudão depois de derrubar o antigo Presidente Foto: picture-alliance/dpa

Esta sexta-feira (17.05), a comunidade internacional pediu aos generais a retomada imediata das reuniões para definir a futura liderança do Sudão. O apelo foi lançado por representantes das Nações Unidas, União Africana e potências europeias, informou Tibor Nagy, secretário de Estado adjunto dos EUA para a África.

Ambos os lados foram instados a "chegar a um acordo o mais rápido possível sobre um Governo interino que seja verdadeiramente liderado por civis e que reflita a vontade do povo sudanês", escreveu Tibor Nagy no Twitter.

Os generais permitiram que os manifestantes mantivessem seus protestos diante do quartel-general do exército em Cartum, onde permanecem acampados para exigir uma rápida transição para a democracia.

A questão da Sharia

Movimentos islâmicos sudaneses também planejaram protestos para este sábado. Estes grupos exigem que a Sharia, a lei islâmica, continue a ser a base jurídica do país.

"A principal razão para a mobilização é que a Aliança para a Liberdade e a Mudança está a ignorar a aplicação da Sharia em seu acordo", disse à agência de notícias AFP Al-Tayieb Mustafa, que lidera uma coalizão de cerca de 20 grupos islâmicos. "Isso é irresponsável. Se esse acordo for feito, vai abrir a porta do inferno para o Sudão", acrescentou.

Protestos que ocorrem desde dezembro de 2018 deixaram mortosFoto: Getty Images/A. Shazily

O antigo Presidente Omar al-Bashir chegou ao poder através de um golpe apoiado pelos islâmicos e, por isso, a legislação sudanesa foi embasada na lei islâmica. O movimento de protesto coordenado pela Aliança para a Liberdade e a Mudança tem permanecido em silêncio sobre se tal estrutura legal terá um papel no futuro do Sudão. A Aliança argumenta que a questão da Sharia é "irrelevante" nesta fase das negociações, enfatizando que sua principal preocupação é instalar uma administração civil.

ONU condena violência

Esta sexta-feira, o especialista em direitos humanos das Nações Unidas enviado ao Sudão, Aristide Nononsi, condenou os ataques contra manifestantes sudaneses, que causaram seis mortos, incluindo um oficial do exército. O representante da ONU pediu que o conselho militar assegure a proteção de manifestantes pacíficos e apelou que os militares conduzam uma investigação imparcial sobre os assassinatos de todos os manifestantes ocorridos desde o início da rebelião em dezembro de 2018.

Em abril, protestos em massa levaram à derrubada do antigo Presidente Omar al-Bashir, que foi destituído pelos militares depois de permanecer por 30 anos no poder. Depois dos militares afastarem al-Bashir e de terem tomado em mãos o poder no Sudão, os manifestantes continuaram nas ruas, exigindo que os generais entregassem de imediato aos civis a condução do país. 

Desde então, múltiplos incidentes de violência têm ocorrido, alguns envolvendo mortes, em vários acampamentos de manifestantes, incluindo na concentração principal em frente ao Quartel-General das Forças Armadas em Cartum. 

  

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