Após três dias de suspensão nos diálogos, militares voltarão a se reunir com líderes dos protestos para definir um gabinete executivo de transição. Movimentos religiosos exigem manutenção da lei islâmica.
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O Conselho Militar de Transição no poder no Sudão anunciou este sábado (18.05) que as negociações com os manifestantes serão retomadas este domingo (19.05). O ponto mais sensível das conversações tem sido o da constituição do gabinete executivo de transição, que terá duração de três anos.
Esperava-se que os generais e os líderes da Aliança para a Liberdade e a Mudança (ALC) chegassem a um acordo na última quarta-feira, mas o diálogo não ocorreu. Na quinta-feira, o chefe do conselho militar, Abdel Fattah al-Burhan, confirmou que as negociações foram suspensas por 72 horas. Na sequência, os manifestantes atenderam à exigência de Burhan de desmantelar os bloqueios de estradas que haviam paralisado partes da capital Cartum.
Esta sexta-feira (17.05), a comunidade internacional pediu aos generais a retomada imediata das reuniões para definir a futura liderança do Sudão. O apelo foi lançado por representantes das Nações Unidas, União Africana e potências europeias, informou Tibor Nagy, secretário de Estado adjunto dos EUA para a África.
Ambos os lados foram instados a "chegar a um acordo o mais rápido possível sobre um Governo interino que seja verdadeiramente liderado por civis e que reflita a vontade do povo sudanês", escreveu Tibor Nagy no Twitter.
Os generais permitiram que os manifestantes mantivessem seus protestos diante do quartel-general do exército em Cartum, onde permanecem acampados para exigir uma rápida transição para a democracia.
A questão da Sharia
Movimentos islâmicos sudaneses também planejaram protestos para este sábado. Estes grupos exigem que a Sharia, a lei islâmica, continue a ser a base jurídica do país.
"A principal razão para a mobilização é que a Aliança para a Liberdade e a Mudança está a ignorar a aplicação da Sharia em seu acordo", disse à agência de notícias AFP Al-Tayieb Mustafa, que lidera uma coalizão de cerca de 20 grupos islâmicos. "Isso é irresponsável. Se esse acordo for feito, vai abrir a porta do inferno para o Sudão", acrescentou.
O antigo Presidente Omar al-Bashir chegou ao poder através de um golpe apoiado pelos islâmicos e, por isso, a legislação sudanesa foi embasada na lei islâmica. O movimento de protesto coordenado pela Aliança para a Liberdade e a Mudança tem permanecido em silêncio sobre se tal estrutura legal terá um papel no futuro do Sudão. A Aliança argumenta que a questão da Sharia é "irrelevante" nesta fase das negociações, enfatizando que sua principal preocupação é instalar uma administração civil.
ONU condena violência
Esta sexta-feira, o especialista em direitos humanos das Nações Unidas enviado ao Sudão, Aristide Nononsi, condenou os ataques contra manifestantes sudaneses, que causaram seis mortos, incluindo um oficial do exército. O representante da ONU pediu que o conselho militar assegure a proteção de manifestantes pacíficos e apelou que os militares conduzam uma investigação imparcial sobre os assassinatos de todos os manifestantes ocorridos desde o início da rebelião em dezembro de 2018.
Em abril, protestos em massa levaram à derrubada do antigo Presidente Omar al-Bashir, que foi destituído pelos militares depois de permanecer por 30 anos no poder. Depois dos militares afastarem al-Bashir e de terem tomado em mãos o poder no Sudão, os manifestantes continuaram nas ruas, exigindo que os generais entregassem de imediato aos civis a condução do país.
Desde então, múltiplos incidentes de violência têm ocorrido, alguns envolvendo mortes, em vários acampamentos de manifestantes, incluindo na concentração principal em frente ao Quartel-General das Forças Armadas em Cartum.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.