Niassa em festa com Festival da Cultura de Moçambique
Manuel David (Lichinga)
28 de julho de 2018
Dança, gastronomia e teatro estão em destaque até 30 de julho no Festival Nacional da Cultura de Moçambique, a decorrer na capital do Niassa, Lichinga, e noutros distritos. Um evento para valorizar a moçambicanidade.
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Por estes dias, o décimo Festival Nacional da Cultura de Moçambique anima a província do Niassa, que acolhe mais de três mil participantes vindos das 11 províncias do país. O evento arrancou esta quinta-feira (26.07) e visa unir as diferentes culturas do país e reforçar a unidade nacional.
Durante cinco dias, a cidade de Lichinga e os distritos de Sanga, Lago e Chimbunila são palco do mosaico cultural moçambicano, com várias apresentações gratuitas como concertos, poesia e peças de teatro, bem como exposições de gastronomia, artesanato e moda.
Apesar das baixas temperaturas que se registam por estes dias na capital provincial, Lichinga, as delegações provinciais ouvidas pela DW África acreditam no sucesso do festival da cultura. "Vamos trazer toda a nossa cultura e os melhores pratos que nós temos, as melhores danças, teatro e o humor e tudo do melhor para este festival", assegura Manuel Cigarro, que integra a delegação de Tete em Lichinga.
Valorização da nacionalidade
"O Festival Nacional de Cultura é uma autêntica festa, é uma das formas que o governo moçambicano encontrou para fazer as diferentes expressões culturas que caracterizam o país e o mundo inteiro", afirma Euse Patrício, da delegação da província do Niassa, que vê o evento como um momento ímpar de valorização da nacionalidade moçambicana.
Niassa em festa com Festival da Cultura de Moçambique
"Estão aqui os grandes espectadores de cultura e achamos que conseguimos trazer aquilo que é o prato típico da província de Niassa. O Niassa tem o pormenor de aglutinar as principais diferenças danças típicas do país, já vistas noutros cantos do país", destaca.
O festival presta também homenagem à rainha Achivangirai, heroína da província do Niassa, sepultada no distrito de Majune. A iniciativa do Governo visa lembrar os feitos de Achivangirai, sobretudo na defesa do seu povo contra o poder colonial.
Na abertura do festival, o Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, afirmou que é na cultura que reside a nacionalidade de um verdadeiro povo. "A nossa moçambicanidade assenta os nossos ideais, comportamentos, símbolos e práticas sociais aprendidas e vinculadas ao longo de gerações", salientou.
"Somos um país com um património cultural dos mais ricos e diversificados do mundo, com uma relação forte com a natureza com outros povos e culturas", lembrou ainda o chefe fde Estado.
Nampula: Capulanas podem ajudar a indústria têxtil a renascer?
A capulana faz parte da identidade da mulher moçambicana, sendo utilizada em várias ocasiões. Na província de Nampula, cresce o número de vendedores informais e clientes, no entanto, os preços continuam a ‘‘disparar’’.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Capulana ‘‘aumenta’’ a beleza da mulher
A capulana conquistou, faz tempo, o coração de muitas das mulheres moçambicanas. Na província de Nampula, ela faz-se acompanhar por creme de mussiro na cara. E mesmo sem um sorriso, a beleza e as suas maravilhas falam por si. Nesta província nortenha de Moçambique, este tecido ganha ainda mais visibilidade em datas festivas entre os grupos de mulheres, mas não só.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Homens apaixonados pela capulana
Antigamente em Nampula, assim como noutros pontos do país, o uso de capulana era exclusivo das mulheres, mas agora o cenário mudou. Muitos homens também a usam. Mandam costurar camisas, fatos, pastas, calções, entre outros. Domingos Chico é um deles. ‘‘Na verdade, gosto muito de roupa de capulana porque além de me sair barato faço, faço o feitio que quiser, desde fatos a calções’’, explica.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Identidade moçambicana e africana
A capulana teve origem no continente asiático, só tendo chegado a África entre os séculos IX e X por meio de trocas comerciais entre os árabes e os povos que viviam no litoral do continente, com destaque para o Quénia, Mombaça e Ilha de Moçambique. Hoje, a capulana é um símbolo de identidade das mulheres moçambicanas. Há tanta adesão que há quem ache que ela surgiu em solo africano.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Muitos clientes. Apenas uma fábrica
Em Nampula, os vendedores de capulanas dizem que pouco usam os produtos fabricados pela Nova Texmoque, a única fábrica têxtil da província, por entenderem que os tecidos não têm qualidade. ‘‘[Os clientes] desprezam [estes tecidos] porque dizem que a tinta sai e perdem a cor com facilidade. As capulanas que revendo provêem da Ásia e da China’’, conta um revendedor à DW.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Pouco rendimento, dizem revendedores
A concorrência da capulana aumentou nos últimos anos, mas isso não beneficia os revendedores, sobretudo, os ‘‘retalhistas’’. Segundo contam à DW, atualmente as mulheres organizam-se em grupos par adquirir uma peça de capulana e dividem-na. ‘‘Entre 2000 e 2010, era normal num mês conseguir ganhar dez mil meticais, mas agora varia entre dois e três mil’’, lamenta, em entrevista à DW, um revendedor.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Fazer dinheiro a custa das artes em capulana
Já Geraldo Constantino Maneira, conhecido por Jahmwene, tem a sua galeria de artes no quintal do Museu Nacional de Etnologia de Nampula e diz que a costura é o seu sustento. A capulana é uma das matérias-primas que usa na produção de artigos. Faz muito dinheiro nas vésperas das festas. ‘‘Não faço roupa por acaso, faço roupa tipicamente artística e que marca pela diferença. Há mais solicitação".
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Veste que ultrapassa as religiões
Inicialmente a capulana era usada frequentemente na região costeira desta província, sobretudo, por mulheres que professam a religião islâmica. Atualmente, e apesar de prevalência nesta região, as mulheres e homens do interior da província também a usam. Em festas religiosas, quer islâmicas, quer cristãs, as vestes têm como base a capulana.
Foto: DW/Sitoi Luxeque
Calçado para todos os gostos
A capulana não serve apenas para enrolar no corpo e deixar a mulher mais bonita e deslumbrante. Recorrendo a este tecido, existem artistas que, todos os dias, fazem várias decorações em calçados para diferentes idades e sexos.