Niassa: Menos 15 mil matrículas devido a ataques terroristas
Conceição Matende
12 de janeiro de 2023
Os ataques no norte de Moçambique afetaram as matrículas escolares para o ano letivo 2023. No Niassa, de 105 mil inscrições previstas, realizaram-se apenas 90 mil. Responsáveis provinciais mantêm processo aberto.
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As matrículas para o ano letivo de 2023 decorreram entre 2 de outubro e 29 de dezembro de 2022. O setor da educação na província do Niassa diz que está com um défice de 15% nas suas metas nas matrículas para novos ingressos.
Para os responsáveis da educação na província, a situação deve-se aos ataques terroristas preconizados nos finais do ano de 2022 e à não valorização do ensino.
Segundo o chefe do Departamento de Planificação Escolar, Omar Orado, a nível da província, três distritos não cumpriram metade das matrículas previstas. Mecula, particularmente, apresenta uma situação crítica.
"O maior défice de incumprimento foi para o distrito de Mecula, onde neste momento estamos com 45,2% do processo de matrículas, nem a metade chegamos", aponta. "Em Mecula falaram-nos muito da movimentação das pessoas. Depois daquele barulho, não estão nas escolas e o número [de matriculados] não é o mesmo que prevíamos".
O representante do diretor dos Serviços Distrital da Educação, Juventude e Tecnologia de Mecula, Luís Buanahaque, confirma que os ataques de insurgentes na região prejudicaram o processo: "No ano passado sofremos aqueles ataques terroristas e os alunos estão nas periferias, os pais ainda estão no processo de consciencialização", explica.
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Inscrições vão continuar
"Estamos a trabalhar com os diretores das escolas que devem passar de casa em casa para fazer o levantamento das crianças que ainda não se matricularam", adianta Luís Buanahaque.
Ainda não há uma nota oficial do Ministério para prorrogação das matrículas, mas o chefe do Departamento de Planificação Escolar, Omar Orado, orienta que as escolas continuem com as inscrições até ao início do ano letivo.
"O que adianta fechar as portas enquanto [ainda existem] algumas crianças para se matricularem?", questiona. "A maior parte da justificação dos pais e encarregados de educação é que levaram as crianças para as machambas [campos de cultivo] e regressariam no início das aulas. Então, se barrarmos ou terminarmos as inscrições para já, ficaremos prejudicados".
Além do terrorismo, o representante do diretor dos Serviços Distrital da Educação, Juventude e Tecnologia Luís Buanahaque aponta outro problema: "O nosso distrito não valoriza a educação. Trata-se de uma educação rural, em que os pais e encarregados de educação só se preocupam quando ouvem dizer que amanhã arrancam as aulas", lamenta.
Niassa: da ruralidade à industrialização
A industrialização da província do Niassa é a grande esperança para as populações locais. A Zona Económica Especial (ZEE) de Ute criará emprego e dinamizará uma economia atualmente marcada pela escassez de comércio.
Foto: DW/M. David
Erguem-se fábricas
O Conselho de Ministros declarou Ute como Zona Económica Especial (ZEE) no ano passado. Com uma área de 681 hectares, 156 estão reservados para a construção de um porto seco - uma espécie de terminal terrestre - e algumas residências. A restante área albergará uma zona industrial que compreenderá postos de armazenamento e outras infraestruturas.
Foto: DW/M. David
Ute, uma localidade à mercê da falta de recursos
Ute é atualmente uma povoação remota onde falta praticamente tudo: as infraestruturas sociais praticamente não existem e o fornecimento de energia ainda é débil. Não obstante, os residentes estão confiantes de que a entrada em ação dos vários projetos previstos para a localidade trará dias melhores para a economia local e familiar. Na foto, é possível ver o Centro de Saúde local.
Foto: DW/M. David
Acessos garantidos
As condições de acesso à ZEE de Ute estão garantidas, uma vez que a estrada N14 e a linha férrea Lichinga-Cuamba passam nas suas imediações, permitindo o escoamento dos produtos para os portos de Pemba e de Nacala. Com quase 100 mil habitantes, o distrito de Chimbunila dista a 25 quilómetros da capital provincial do Niassa, Lichinga, e vai acolher a maioria dos investimentos previstos.
Foto: DW/M. David
Fábrica de serração quase pronta
De capital totalmente moçambicano, a fábrica de serração prevista para a ZEE está praticamente pronta. Antes de começar a operar, a unidade prevê contratar numa primeira fase cerca de 300 trabalhadores. A fábrica irá especializar-se no tratamento e processamento de madeiras para o mercado interno, mas também para clientes no estrangeiro.
Foto: DW/M. David
Matéria-prima não falta
A fábrica de serração conta com 31 mil hectares de florestas de pinho e eucalipto à sua disposição. As árvores vão sustentar a produção de madeira num período de, pelo menos, dez anos. À medida que o produto for escasseando, a empresa terá a responsabilidade de plantar novas árvores para garantir a sustentabilidade do projeto.
Foto: DW/M. David
Jovens de olho em novos postos de trabalho
Muitos jovens de Ute e de todo o distrito de Chimbunila veem nestes projetos uma porta de entrada para o mercado de trabalho, sobretudo porque na região há fortes índices de desemprego. Alguns jovens locais ouvidos pela DW África exigem transparência na abertura dos concursos de emprego e pedem que se dê prioridade à força laboral local.
Foto: DW/M. David
Nova fábrica de cimento, a primeira em décadas
A primeira fábrica de cimento do Niassa depois da Independência de Moçambique (1975) começou a ser construída em outubro de 2017 no distrito de Chimbunila. A unidade está a ser edificada lentamente e assim que estiver pronta deverá empregar cerca de 500 trabalhadores. Nas imediações desta estrutura fabril, está ainda prevista a construção de escritórios e armazéns.
Foto: DW/M. David
Cimento escoado para a região
Com investimento inicial chinês, a fábrica que está a ser erguida na povoação de N’toto, entre o distrito de Chimbunila e o município de Lichinga, terá uma capacidade de produção anual de 200 mil toneladas de cimento. Grande parte da produção será escoada para o mercado interno, mas também para o vizinho Malawi.
Foto: DW/M. David
Matéria-prima local
A matéria-prima que será utilizada para alimentar a fábrica não será importada, mas sim obtida localmente. A província do Niassa possui grandes quantidades de calcário e argila, sobretudo localizadas no distrito de Sanga.
Foto: DW/M. David
Cimento mais barato
A instalação da fábrica na província deverá reduzir o preço do cimento na região. Neste momento, um saco de cimento proveniente das províncias de Nampula e de Cabo Delgado custa cerca de 500 a 600 meticais (entre 7 e 8,50 euros), dependendo da qualidade do cimento.