RENAMO pede mais dias para recenseamento eleitoral
Manuel David (Lichinga) | Lusa
18 de maio de 2018
Terminou o recenseamento eleitoral em Moçambique. Autoridades falam numa adesão de 80% em todo o país, mas RENAMO pede prolongamento do processo. Na província do Niassa, houve uma fraca afluência dos eleitores.
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Assane Saíde só se recenseou no último dia. O residente de Lichinga, no norte de Moçambique, conta que não teve tempo antes. A poucas horas do fecho dos postos de recenseamento, decidiu pôr tudo de lado para se ir registar.
"Achei melhor correr e não perder esse recenseamento. Tenho que fazer tudo o possível para me poder recensear. Assim, paralisei tudo", afirma em entrevista à DW África.
Como Saíde, outros eleitores na província do Niassa só se foram recensear à última hora. A eleitora Rosalina Faustino também se foi recensear no último dia. Já tinha tentado antes, só que, cada vez que ia ao posto de recenseamento, havia sempre muita gente à espera. No último dia do recenseamento para as eleições autárquicas de 10 de outubro, encontrou novamente "confusão".
"A organização está mais ou menos. Há pessoas que vêm e entram e nós chegámos aqui às sete horas e estamos aqui até agora", disse.
Em geral, fraca afluência
Há muita gente que ficou por registar no Niassa, segundo o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE).
Na província, o recenseamento decorreu nas cinco autarquias: Lichinga, Cuamba, Lago, Mandimba e Marrupa. Até 16 de maio, as autoridades conseguiram registar 330.500 eleitores de uma projecção de 568.293 potenciais eleitores na província.
Ainda assim, o STAE no Niassa faz, em geral, um balanço positivo do processo - com uma exceção: o recenseamento na autarquia de Mandimba.
"Na área rural, o recenseamento não teve um desempenho desejado e nós, como órgãos eleitorais na província, estamos preocupados com isso. Já estamos a fazer os termos de referência para brevemente fazermos um estudo no sentido de encontramos algumas soluções", frisou Benedito Alberto, diretor provincial do STAE no Niassa em entrevista à DW África.
RENAMO pede mais dias para recenseamento eleitoral
RENAMO pede prolongamento
O analista político Sarmento Bacelar lamenta a fraca afluência ao recenseamento: "Isso demonstra que o cidadão, o próprio eleitor, não conhece a importância do processo eleitoral. Porque, se soubesse da importância, aderiria a este processo logo desde o primeiro dia."
O maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), critica, no entanto, a forma como decorreu o recenseamento. Para João Muchane, delegado político da RENAMO no distrito de Cuamba, a má organização contribuiu para a fraca afluência.
"Em alguns postos, não houve afluência de eleitores por causa de morosidades. Assim, no momento em que não conseguimos atingir a meta, algo estranho existiu. O que estamos a pedir é a prorrogação do processo, para cumprirmos a meta", afirma.
Segundo o STAE, os últimos dados indicavam o registo de 80% dos potenciais eleitores a nível nacional.
O Centro de Integridade Pública (CIP) disse, por sua vez, que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) "pode atingir 90% de potenciais eleitores recenseados, mas somente porque cortou as metas de total de eleitores a registar por três vezes".
Lago Niassa - um lago ainda por explorar
Partilhado pelo Malawi, Moçambique e pela Tanzânia, o Lago Niassa é o nono maior do mundo e o terceiro maior de África. O Lago Niassa tem uma biodiversidade rica que ascende a 700 mil espécies diferentes.
Foto: DW/Johannes Beck
O terceiro maior de África
O Lago Niassa é um imenso azul partilhado pelo Malawi, por Moçambique e pela Tanzânia. É o nono maior do mundo e o terceiro maior do continente africano, a seguir aos Lagos Victória e Tanganika. Localizado no Vale do Rift, o lago tem 560 quilómetros de comprimento, 80 quilómetros de largura e 700 metros de profundidade. Em língua chinhanja, falada na orla moçambicana, "niassa" significa lago.
Foto: DW/Johannes Beck
Ecossistema único
Nas águas azuis, transparentes e limpas do lago vivem cerca de mil espécies ciclídeos (família de peixes de água doce), das quais apenas 5% existem noutros lugares do Planeta. As praias e toda a região do Lago Niassa têm uma biodiversidade rica que ascende a 700 mil espécies diferentes, a nível de fauna e flora, pelo que tem elevado valor para a investigação científica.
Foto: DW/G. Sousa
Verde e azul
A província do Niassa pinta-se do verde, dos imensos planaltos, e do azul, do lago e do céu. Na viagem até ao Lago, percorrem-se dezenas de quilómetros de floresta virgem, com comunidades muito dispersas. Localizada no noroeste de Moçambique, a província do Niassa é a mais extensa e a menos habitada do país, com uma densidade populacional de cerca de oito habitantes por quilómetro quadrado.
Foto: DW/G.Sousa
Riquezas do lago
As águas límpidas do Lago Niassa convidam aos banhos e a passeios de barco. As suas profundezas escondem um bem valioso, hidrocarbonetos. A corrida ao "tesouro" levou o Malawi, em 2012, a iniciar trabalhos de prospeção de petróleo e gás natural sem o consentimento dos seus vizinhos, Moçambique e Tanzânia. As relações entre o Malawi e a Tanzânia esfriaram.
Foto: DW/G. Sousa
A quem pertencem as águas?
Carregando água, estas meninas levam o Niassa para casa, que ajudará nas lides domésticas. Mas a quem pertencem as águas do Niassa? O Malawi exige o domínio do lago, a que chama Lago Malawi, à exceção da parte que banha Moçambique, no âmbito do Tratado Anglo-Germânico de 1890. A Tanzânia rejeita, diz que o acordo tem lacunas. Os dois países disputam há mais de 50 anos a soberania do Lago Niassa.
Foto: DW/G. Sousa
Loiças, roupas, banhos
O lago faz parte do quotidiano das comunidades da região. É lá onde, todos os dias, as mulheres lavam a loiça e as roupas de toda a família. Tal como elas, crianças e homens tomam ainda banho nas águas mornas do Niassa. Na altura do banho, elas agrupam-se de um lado e os homens afastam-se para outro.
Foto: DW/Johannes Beck
A pesca
Em Meluluca, assim como em quase toda a costa do lago, quase todos os homens se dedicam à pesca. Contudo, muitas vezes, os pescadores utilizam redes mosquiteiras, prática nefasta que arrasta grandes quantidades de peixe, de vários tamanhos, alerta a organização de defesa do meio-ambiente WWF (Fundo Mundial para a Natureza).
Foto: DW/G. Sousa
Ussipa em Lichinga
Parecido com a sardinha, o ussipa é o peixe mais capturado nas águas do Niassa. É vendido em vários mercados, como neste em Lichinga, a capital provincial. O preço varia, normalmente um balde, com capacidade de 10 litros, carregado de ussipa custa 80 meticais (equivalente a dois euros). Mas se o ussipa escasseia, o preço sobe para cerca de 100 a 150 meticais (entre 2,50 e 3,80 euros).
Foto: DW/J.Beck
Embarcações em terra
Durante o dia, e em tempo de férias escolares, as crianças divertem-se no lago junto das embarcações enquanto os pescadores descansam. Voltarão à faina quando no céu se contarem as estrelas. Recorrem, frequentemente, à pesca noturna com atração luminosa para a captura do ussipa.
Foto: DW/Johannes Beck
Reserva de Moçambique
Utilizado diariamente pelas comunidades, o lago está sob o olhar atento das autoridades. A proteção do lago é uma preocupação do governo de Moçambique, que o declarou reserva em 2011. No mesmo ano, o Lago Niassa e zona costeira passaram a integrar a lista de zonas húmidas protegidas pela Convenção de Ramsar, a Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional.
Foto: DW/Johannes Beck
Estradas de terra
As vias na costa do Lago Niassa são de terra batida. Existe apenas uma estrada em boas condições, alcatroada, que liga a capital provincial, Lichinga, a Metangula, sede do distrito do Lago. As fracas acessibilidades dificultam o investimento na região, em particular no sector do turismo.
Foto: DW/G. Sousa
Costa selvagem
A costa moçambicana do lago é considerada semi-selvagem, sendo frequente encontrar-se animais como macacos. Dois investimentos internacionais de turismo beneficiam da natureza em estado virgem e apostam em turismo de conservação: um localiza-se próximo do posto administrativo de Cobué, no extremo norte da província; e o outro mais a sul, a cerca de 15 quilómetros de Metangula.
Foto: DW/G. Sousa
Uma região a descobrir
A beleza natural do Lago Niassa confere à região um imenso potencial de turismo ainda por explorar. Os moçambicanos defendem que têm as praias mais bonitas de todo o lago, lamentando que, no entanto, as do vizinho Malawi sejam muito mais conhecidas e frequentadas. Na costa moçambicana, existem ainda poucas unidades hoteleiras e infraestruturas de apoio, além dos acessos difíceis.