O Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, completa nesta segunda-feira (29.05) dois anos no poder. Mas persistem dúvidas se ele será capaz de melhorar a situação económica do país nos dois anos restantes de seu mandato.
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Há dois anos, e com grandes expetativas, os nigerianos votavam pela primeira vez na história do país por um novo Governo. As eleições de 2015 encerravam um período de 16 anos de domínio do Partido Democrático dos Povos. Elas anunciavam um recomeço para a Nigéria.
Com a coligação de partidos da oposição, o APC, o Presidente Muhammad Buhari combateu a corrupção e o grupo terrorista Boko Haram. O antigo militar também renovou a produção de monocultura, que encontrou aos farrapos.
Boko Haram
Depois de dois anos do Governo Buhari, a Nigéria tem motivos para comemorar; acredita o ministro nigeriano da Informação e porta-voz do Governo, Lai Mohammed."Quando o Presidente Buhari tomou posse, a 29 de maio de 2015, dos 27 governos locais do país, 20 estavam sob comando do Boko Haram. Além de quatro em Adamawa e três em Yobe. Hoje, não há sequer um território nosso sob o controle deles", explica.
Ao ser eleito, o Presidente Buhari prometeu que faria de tudo para garantir que todas as raparigas sequestradas pelo Boko Haram fossem libertas e devolvidas às suas famílias.
Em menos de dois anos, garantiu-se a libertação de mais de 100 delas. "Se as pessoas observarem este fenómeno de insurreição e rapto de pessoas em todo o mundo, percebem que esta é uma realização muito notável", acrescenta o porta-voz do Governo, Lai Mohammed.
Corrupção
Além de restabelecer a paz no nordeste da Nigéria, uma área marcada pela presença do Boko Haram, o Governo da coligação APC empenhou-se em lutar contra a corrupção no país. Centenas de casos foram levados aos tribunais. Para alguns, a Nigéria está no rumo certo contra a recessão económica.
Para outros, entretanto, os problemas económicos ainda são um grande desafio. "Muitos não podem pagar as rendas de casa e outros sofrem para financiar os estudos e não conseguem alimentar a família. Essa é a realidade", explica a nigeriana Juliana Obolonye.
Sobre essa realidade, o nigeriano Chesa Chesa também tece suas críticas. "A inflação e o custo dos alimentos aumentam a cada dia que passa. Estamos em recessão. Entretanto, é verdade que os nigerianos se sentem mais seguros agora", desabafa.
29.05.2017 Buhari - 2J. - MP3-Mono
Elogios
Por outro lado, a luta do Presidente Buhari contra a corrupção rendeu elogios do cidadão nigeriano Peter Inalegwu para o qual o país, até então, estava profundamente afetado pela corrupção.
"Nós não sabíamos sobre a dimensão da corrupção neste país. Sejamos realistas. Agora, o Governo tem mostrado que a corrupção espalhou-se por toda a sociedade".
Os avanços do Governo Buhari foram alcançados com o vice-Presidente Yemi Osinbajo no poder. O Presidente esteve em tratamento médico durante mais da metade do seu mandato até agora. O analista político Garba Umar Kari, da Universidade de Abuja, acredita que o vice-Presidente Osinbajo desempenhou muito bem o seu papel.
"Desde dezembro do ano passado, até o momento, Buhari pronunciou-se muito pouco. Entretanto, em sua ausência, o vice-Presidente Yomi Osinbajo saiu-se muito bem. Ele tem sido capaz de garantir efetivamente os programas do Governo", diz.
Reféns do Boko Haram libertados na Nigéria: "Ainda dói"
As 293 mulheres e crianças libertadas na semana passada pelo exército nigeriano das mãos do Boko Haram foram levadas para um campo de refugiados perto da cidade de Yola. Mas o seu sofrimento está longe de terminar.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
O sorriso perdido
"O que se percebe imediatamente é que as crianças aqui quase não riem", conta um funcionário do acampamento de Malkohi, na periferia da cidade nigeriana de Yola. Cerca de metade das perto de 300 pessoas que eram mantidas em cativeiro pelo Boko Haram tem menos de 18 anos. Um terço das crianças no acampamento sofre de desnutrição.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Primeiros dias de vida no acampamento
Lami Musa é mãe da mais recente moradora do acampamento de Malkohi. Deu à luz na semana passada. Um dia depois foi salva por soldados nigerianos. Durante a operação de resgate várias mulheres foram mortas pelos terroristas. "Apertei firmemente a minha filha contra o meu corpo e inclinei-me sobre ela", recorda a jovem mãe.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Filho perdido durante o cativeiro
Halima Hawu não teve tanta sorte. Um dos seus três filhos foi atropelado enquanto os terroristas a raptavam. Durante a operação de resgate um soldado nigeriano atingiu-a numa perna, porque os membros do Boko Haram usam as mulheres como escudos humanos. "Ainda dói, mas talvez agora o pior já tenha passado", espera Halima Hawu.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Poucos alimentos para as crianças
Babakaka, de três anos, teve de passar seis meses com o Boko Haram. Só raramente havia algum milho para as crianças, contam antigos prisioneiros. Quando foram libertados pelos soldados, Babakaka estava quase a morrer de fome. Babakaka continua extremamente fraco e ainda não recebeu tratamento médico adequado no acampamento.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Sobrevivência por um triz
A mãe de Babakaka foi levada para o Hospital de Yola juntamente com cerca de outras vinte pessoas gravemente feridas. Durante a fuga, alguém que seguia à sua frente pisou uma mina. A explosão foi tão forte que a mulher ficou gravemente ferida. Perdeu o bebé que carregava.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Roupas usadas do Ocidente
Exceptuando algumas doações de roupas velhas, ainda não chegou muita ajuda internacional às mulheres e crianças do acampamento de Malkohi. Aqui há falta de muitas coisas, sobretudo de pessoal médico. Não há qualquer vestígio do médico de serviço no acampamento. Apenas duas enfermeiras e uma parteira mantêm em funcionamento o posto de saúde temporário.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Dependentes de voluntários
"Não entendo por que motivo o nosso serviço de emergência nacional não faz mais", reclama a assistente social Turai Kadir. Por sua própria iniciativa, Turai Kadir chamou uma médica para tratar das crianças mais desnutridas. Na verdade, essa é a tarefa da NEMA, a agência nigeriana de gestão de emergências, que está sobrecarregada.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
"Incrível capacidade de resistência"
Regina Musa voltou há poucos meses dos Estados Unidos para dar aulas de Psicologia na Universidade de Yola. Agora, a psicóloga presta aconselhamento psicológico a mulheres e crianças. "As mulheres têm demonstrado uma incrível capacidade de resistência", diz Musa. Durante o período traumático, muitas delas também se preocupavam com os filhos de outras pessoas. Autor: Jan-Philipp Scholz (em Yola)