O exército nigeriano tinha garantido que o Boko Haram estava praticamente derrotado, mas no dia 25 de dezembro os jihadistas assaltaram uma caravana militar e fizeram ataques suicidas em mercados do nordeste do país.
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Pelo menos 14 pessoas morreram esta quarta-feira (03.01.) quando um bombista suicida se fez explodir numa mesquita no norte da Nigéria, junto à fronteira com os Camarões.
Os ataques fizeram dezenas de mortos e foram imediatamente reivindicados pelo líder do Boko Haram. O politólogo nigeriano Umar Baba considera que "a culpa do que está a acontecer não é do Governo. Eles [Boko Haram] querem mostrar aos militares que ainda conseguem movimentar-se, apesar dos sinais de segurança e das estratégias introduzidas na região."
E Baba lembra ainda que "as pessoas estão a ficar apreensivas e perturbadas e estão com medo de voltar a viver tudo outra vez, o que é muito perturbador. O Governo deve também preocupar-se com os efeitos desta ameaça constante e colocar a economia no centro das prioridades”.
Qual é a verdade?
O Boko Haram já fez mais de 20 mil mortos e 2,6 milhões de deslocados desde 2009. Os cidadãos estão desiludidos com as autoridades locais que, recorrentemente, garantem ter exterminado o Boko Haram. Uma atitude que para Isiyaku Musa, residente em Maiduguri, no estado de Borno, é desconcertante: "Estamos cansados com o que se está a passar na nossa região. O Governo e os militares estão sempre a dizer que derrotaram o Boko Haram, mas isso está longe de ser verdade. Eles continuam a atacar pessoas inocentes."
04.01.2018 - Boko Haram - MP3-Mono
Musa conta que "agora, o seu líder, Abubakar Shekau, apareceu num novo vídeo a assumir a autoria desses ataques. E o Governo não diz nem uma palavra sobre isso. É melhor que eles venham a público dizer a verdade, porque o Boko Haram não foi derrotado”.
O Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, disse no discurso de ano novo que a Nigéria "acabou com o Boko Haram". Há dois anos, já tinha dito que o grupo jihadista estava "tecnicamente derrotado".
Abubakar Abdullahi, um outro cidadão de Maiduguri, defende que "o exército tem de se reorganizar para que não haja mais infiltrados a vender armas e munições ao inimigo. É por isso que a guerra contra o terrorismo na Nigéria não acaba com o problema do Boko Haram, porque há sabotadores que estão a atuar em benefício pessoal”.
Reféns do Boko Haram libertados na Nigéria: "Ainda dói"
As 293 mulheres e crianças libertadas na semana passada pelo exército nigeriano das mãos do Boko Haram foram levadas para um campo de refugiados perto da cidade de Yola. Mas o seu sofrimento está longe de terminar.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
O sorriso perdido
"O que se percebe imediatamente é que as crianças aqui quase não riem", conta um funcionário do acampamento de Malkohi, na periferia da cidade nigeriana de Yola. Cerca de metade das perto de 300 pessoas que eram mantidas em cativeiro pelo Boko Haram tem menos de 18 anos. Um terço das crianças no acampamento sofre de desnutrição.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Primeiros dias de vida no acampamento
Lami Musa é mãe da mais recente moradora do acampamento de Malkohi. Deu à luz na semana passada. Um dia depois foi salva por soldados nigerianos. Durante a operação de resgate várias mulheres foram mortas pelos terroristas. "Apertei firmemente a minha filha contra o meu corpo e inclinei-me sobre ela", recorda a jovem mãe.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Filho perdido durante o cativeiro
Halima Hawu não teve tanta sorte. Um dos seus três filhos foi atropelado enquanto os terroristas a raptavam. Durante a operação de resgate um soldado nigeriano atingiu-a numa perna, porque os membros do Boko Haram usam as mulheres como escudos humanos. "Ainda dói, mas talvez agora o pior já tenha passado", espera Halima Hawu.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Poucos alimentos para as crianças
Babakaka, de três anos, teve de passar seis meses com o Boko Haram. Só raramente havia algum milho para as crianças, contam antigos prisioneiros. Quando foram libertados pelos soldados, Babakaka estava quase a morrer de fome. Babakaka continua extremamente fraco e ainda não recebeu tratamento médico adequado no acampamento.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Sobrevivência por um triz
A mãe de Babakaka foi levada para o Hospital de Yola juntamente com cerca de outras vinte pessoas gravemente feridas. Durante a fuga, alguém que seguia à sua frente pisou uma mina. A explosão foi tão forte que a mulher ficou gravemente ferida. Perdeu o bebé que carregava.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Roupas usadas do Ocidente
Exceptuando algumas doações de roupas velhas, ainda não chegou muita ajuda internacional às mulheres e crianças do acampamento de Malkohi. Aqui há falta de muitas coisas, sobretudo de pessoal médico. Não há qualquer vestígio do médico de serviço no acampamento. Apenas duas enfermeiras e uma parteira mantêm em funcionamento o posto de saúde temporário.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Dependentes de voluntários
"Não entendo por que motivo o nosso serviço de emergência nacional não faz mais", reclama a assistente social Turai Kadir. Por sua própria iniciativa, Turai Kadir chamou uma médica para tratar das crianças mais desnutridas. Na verdade, essa é a tarefa da NEMA, a agência nigeriana de gestão de emergências, que está sobrecarregada.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
"Incrível capacidade de resistência"
Regina Musa voltou há poucos meses dos Estados Unidos para dar aulas de Psicologia na Universidade de Yola. Agora, a psicóloga presta aconselhamento psicológico a mulheres e crianças. "As mulheres têm demonstrado uma incrível capacidade de resistência", diz Musa. Durante o período traumático, muitas delas também se preocupavam com os filhos de outras pessoas. Autor: Jan-Philipp Scholz (em Yola)