Criação de aldeias de fulani transforma-se em luta de poder
Katrin Gänsler | ac
6 de julho de 2019
Plano do Governo de criar os chamados assentamentos ruga sofre resistência da oposição, especialmente no estado de Benue. Amnistia Internacional defende conceder terras aos fulas para evitar conflitos étnicos.
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Na Nigéria, discute-se intensamente sobre a criação das aldeias fulani, os chamados assentamentos "ruga" para membros do povo fula, fulani ou peul, um dos mais importantes povos na África Ocidental. Eles são muito numerosos no norte da Nigéria, mas também no Níger, Mali, Gâmbia, Senegal, Guiné-Conacri, Guiné-Bissau, entre outros. A questão transformou-se numa luta de poder entre a oposição e o Governo do Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, ele próprio um fula.
Parecia decidido: o Governo da Nigéria anunciou a introdução dos chamados assentamentos ruga. A palavra "ruga" significa "área de pastagem rural", mas é também a palavra haúça para "aldeia de fulas". É precisamente para este grupo étnico, que tradicionalmente é composto por criadores de gado que ainda vivem como seminómadas, que devem ser construídas novas aldeias. Mas os planos ultimamente não avançaram. O motivo oficial é que não está em conformidade com o plano nacional de produção de carne e leite do Governo.
Nigéria: Criação de aldeias de fulani transforma-se em luta de poder
De facto, o Governo viu-se confrontado com uma pressão massiva contra o plano ruga, especialmente de estados cujos governadores são do partido de oposição, o Partido Democrático do Povo (PDP). A oposição ao plano é particularmente notável no estado de Benue, onde ocorreram graves tumultos no ano passado. No início do ano, a agência estatal de gestão de emergências do estado de Benue (SEMA) contava com mais de 483.000 deslocados internos.
"A iniciativa de construção de aldeias ruga não foi discutida com todas as partes interessadas. Não se pode tomar medidas concretas sem envolver as várias partes", critica Emmanuel Shior, secretário-executivo da SEMA.
Em Benue, o governador Samuel Ortom criticou severamente a ideia. Trata-se, segundo ele, de um jogo político para Shettima Mohammed, secretário-geral da Associação dos Criadores de Gado, no estado de Benue. Mohammed defende a construção de novas aldeias para os fulas, que são muçulmanos.
"Eu estou muito de acordo com os planos. Ruga não defende a islamização ou uma outra agenda específica. Ruga é uma palavra antiga que significa assentamento e não significa roubar terras ou expulsar alguém", sublinhou.
Menos conflitos
De salientar que o Governo tem sido repetidamente acusado de ter um plano oculto. A razão para isso também pode ser o facto de que o próprio presidente Buhari seja fulani.
A questão da distribuição de terras é extremamente sensível na Nigéria. O estado de Benue tem cerca de 200 milhões de habitantes e cresce anualmente entre quatro e cinco milhões de pessoas. A terra é um bem escasso e precioso.
Isa Sanusi, porta-voz da Amnistia Internacional em Abuja, diz que é preciso que o Estado nigeriano leve o plano ruga em diante. É preciso dar terras aos fulas para evitar mais conflitos étnicos e religiosos.
"As pessoas precisam entender o seguinte: O objetivo desta iniciativa é criar paz. É muito bom que o Governo tenha decidido fazer alguma coisa, porque no passado ninguém pensou nisso. Sempre foi dito que os fulas cometem crimes, e depois o problema era colocado de lado e a violência voltava. Ora, isso não pode continuar assim", afirmou.
A pequena revolução "bio" no Uganda
Menos custos, maiores colheitas – é esta a nova fórmula para muitos agricultores africanos. No Uganda muitos lavradores querem reduzir substancialmente a utilização de pesticidas, apostando na agricultura biológica.
Foto: DW/L. Schadomsky
Produtos "bio" para a classe média
Estes tomates biológicos têm um aspeto impecável, mas também dão mais lucros a quem os produz. Cada vez mais cidadãos ugandeses e estrangeiros estão dispostos a pagar um pouco mais por alimentos biológicos e saudáveis. A classe média está em ascensão no Uganda e procura produtos de qualidade. Menos custos, maiores colheitas – é esta a nova fórmula para muitos agricultores africanos.
Foto: DW/L. Schadomsky
Alimentos frescos por encomenda
Os moto-taxis ugandeses são os meios de transporte privilegiados dos agricultores biológicos: é com os denominados “boda-boda” que os alimentos são transportados das hortas para a única loja de produtos “bio” na capital ugandesa de Kampala. Os clientes fazem as suas encomendas e os produtos são entregues fresquíssimos.
Foto: DW/L. Schadomsky
Certificação de produtos “bio” não é fácil
A associação “Nogamu”, que engloba agricultores biológicos de todo o país, oferece assessoria no que diz respeito a métodos de produção e sobretudo de certificação. Mais de 200.000 agricultores ugandeses possuem já uma licença de produção biológica. Mas ainda são relativamente poucos os que conseguem passar o processo de certificação caro e complicado.
Foto: DW/L. Schadomsky
Critérios rígidos de qualidade
Ao lado da loja de produtos biológicos de Kampala encontram-se bancas de venda com produtos convencionais. Muitos lavradores alegam que produzem legumes e frutas biológicas apenas porque não têm meios para comprar herbicidas e pesticidas caros. Mas isso não chega: para obter o ambicionado certificado os lavradores têm que recorrer a métodos de cultivo biológicos e utilizar fertilizantes naturais.
Foto: DW/L. Schadomsky
Procura do estrangeiro
A Alemanha, entre outros países, importa os docíssimos ananases biológicos do Uganda. A última edição da “Biofach”, feira internacional de produtos biológicos, trouxe em fevereiro de 2013 13 representantes ugandeses à cidade alemã de Nuremberga. A Alemanha é um bom cliente dos ananases ugandeses, que também são exportados para países vizinhos, como o Quénia ou o Sudão.
Foto: DW/L. Schadomsky
"Bio" é mais saboroso
Muitas mulheres ugandesas são vendedoras ambulantes e dependem da venda de fruta e legumes. Esta vendedora apenas comercializa bananas biológicas, porque os seus clientes as preferem: são mais saborosas, mais doces, embora mais pequenas. Para as comprar faz diariamente longas viagens de moto-taxi.
Foto: DW/L. Schadomsky
Melhor qualidade, mais lucros
As contas batem certo: os produtores biológicos fazem melhores negócios. E ao mesmo tempo contribuem para a proteção do meio ambiente, resistindo aos efeitos negativos das alterações do clima, que no continente africano se fazem sentir de forma particularmente grave.
Foto: DW/L. Schadomsky
Café: produto de exportação por excelência
O café biológico do Uganda é um produto com muita procura no país e no estrangeiro. A Alemanha é tradicionalmente um dos maiores consumidores de café e também importa o café do Uganda, país leste-africano com solos particularmente férteis.
Foto: DW/L. Schadomsky
Nem todos os produtos "bio" são iguais
Café "selvagem" numa plantação no noroeste do Uganda: há muito tempo, esta produção convencional não é mantida segundo as regras da agricultura biológica. Uma das regras é a plantação de outros frutos, ao lado das plantas do café, para assim se contribuir para uma fertilização natural dos solos.
Foto: DW/L. Schadomsky
Café arábica cem por cento biológico
Aqui, no noroeste do Uganda, é plantado um café biológico certificado. Depois de serem colhidos, os grãos de café arábica são expostos ao sol para secagem e depois torrados. O produto final pode ser comprado na loja de produtos biológicos na capital de Kampala, mas também na Alemanha.