Os dois principais partidos da Nigéria estão a vender formulários para os interessados a se candidatar às eleições gerais de 2019. Mas os jovens políticos denunciam os "custos exorbitantes" cobrados.
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Na Nigéria, os dois principais partidos políticos – o Congresso dos Progressistas (APC), no poder, e o Partido Popular Democrático (PDP), na oposição – anunciaram o início da venda dos formulários para os interessados a concorrer a cargos públicos nas eleições gerais de fevereiro de 2019.
Entretanto, muitos nigerianos, especialmente os jovens, estão a denunciar o que classificam como custos exorbitantes e inaceitáveis. O preço da inscrição de um aspirante a candidato presidencial, por exemplo, ultrapassa os 45 milhões de nairas – mais de 100 mil euros – no APC.
Mesmo a inscrição para a candidatura à posição política mais baixa em disputa, um assento numa assembleia estadual, custa cerca de 1,5 mil euros - o preço de um bom automóvel ou uma casa no nordeste da Nigéria -, uma quantia que nem todos podem pagar, num país onde milhões de pessoas vivem em pobreza extrema.
É o caso deste jovem de 27 anos que falou à DW sob a condição de anonimato, temendo represálias do seu partido, o APC. Ele está a tentar angariar fundos para comprar o formulário para se candidatar a um assento na assembleia estadual.
"Para já não posso dizer que tenho este dinheiro, mas se Deus quiser, sei que vou conseguir. Se não tiveres o dinheiro para comprar o formulário, estás automaticamente excluído da corrida a esta posição que eu quero ocupar".
Juventude reprova custos eleitorais
Nigéria: Custos eleitorais dificultam o ingresso de jovens na política
Há três meses, o Presidente Muhammadu Buhari promulgou uma lei que eliminou o limite mínimo de idade para os jovens que pretendem candidatar-se a cargos públicos. Mas os custos dos formulários para o efeito não agradam à juventude que aplaudiu a aprovação da lei.
"Algumas pessoas que são realmente credíveis não poderão concorrer. E tiraram-me o meu direito como eleitora de poder votar na pessoa que eu quero, porque ela não tem a possibilidade de comprar esse formulário", defende um jovem nigeriano.
"É um golpe à chamada lei 'Não demasiado jovem para concorrer'. Um amigo meu quer concorrer a um cargo governativo. Não tem esse dinheiro", afirmou outro cidadão à DW África.
Incertezas
Os preços das fichas de inscrição, que obrigam os aspirantes a políticos a vestirem a camisola dos partidos nas eleições do próximo ano, estão a gerar incerteza no seio das formações políticas, especialmente do APC. Um dos membros do partido – que pretende candidatar-se à Presidência – ameaçou deixar o APC, se o preço da inscrição não baixar dos 108 mil euros exigidos pelo partido.
Lawal Buba, dirigente do partido no estado de Kaduna, diz, no entanto, que não há motivo para alarme. "Se não tiveres o dinheiro, não há qualquer problema, esperas pelo teu tempo. Ninguém te está a impedir de concorrer. Penso que isto é um processo e é algo normal. Nos outros partidos, como o PDP, acontece o mesmo".
O Presidente Muhammadu Buhari foi eleito em 2015 com a promessa de travar a corrupção no Governo. Mas os críticos dizem que os custos elevados das candidaturas a cargos públicos favorecem os mais ricos e contribuem para práticas corruptas. Isto, porque os doadores que muitas vezes pagam os custos da inscrição dos candidatos esperam um retorno assim que os políticos assumem os cargos.
Milionários na África Subsaariana
Em muitos países ao sul do deserto do Saara a pobreza segue opressiva. Contudo, o número dos milionários na região nunca foi tão grande, segundo estudo do instituto New World Wealth.
Foto: DW
África do Sul
O país do continente africano com o maior número de milionários é a África do Sul. Entre a Cidade do Cabo e Johanesburgo, vivem 46.800 pessoas de patrimônio líquido elevado, ou "high-net-worth individuals" (HNWIs), e a tendência é ascendente. Para efeito de comparação, na Alemanha, atualmente 1,1 milhão de pessoas dispõem de um capital líquido de 1 milhão de dólares ou mais.
Foto: picture-alliance/dpa
Nigéria
Segundo a revista americana de economia "Forbes", o homem mais rico da África é o nigeriano Aliko Dangote (foto). Sua fortuna, acumulada principalmente com o comércio de alimentos, cimento e petróleo, é estimada em 18,2 bilhões de dólares. Ele é um dos 15.400 HNWIs da Nigéria – a qual, por outro lado, atualmente é um dos países africanos com o maior número de refugiados na Europa.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Von Loebell/World Eco
Quênia
A fortuna dos 8.500 milionários do Quênia equivale a dois terços do desempenho econômico do país – uma quota extremamente elevada. Enquanto esses quenianos mais ricos acumulam, em média, 83 milhões dólares por cabeça, quase metade da população dispõe de menos de dois dólares por dia.
Foto: Fotolia/vladimir kondrachov
Angola
O boom do petróleo em Angola provocou um acentuado crescimento do número dos super-ricos desde a virada do século 21. Atualmente há 6.400 HNWIs angolanos, quase seis vezes mais do que há 15 anos. Lá também vive a mulher mais rica do continente: Isabel dos Santos (foto), filha do presidente José Eduardo, que tem uma fortuna 3,2 bilhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
Maurícia
Apesar de só ter 1,3 milhão de habitantes, a República da Maurícia, no Oceano Índico, reúne 3.200 milionários, a taxa mais alta no contexto africano. O setor turístico é o que mais floresce. Além, disso, há anos o Estado insular é conhecido como paraíso fiscal.
Foto: picture-alliance/Ria Novosti/Anton Denisov
Namíbia
A mineração é o principal setor industrial da Namíbia, responsável por 25% do desempenho econômico total do país. Diamantes são seu principal produto de exportação. Com pouco mais de 2 milhões de habitantes, a ex-colônia alemã tem 3.100 cidadãos com um patrimônio líquido superior a 1 milhão de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa/Y. Smityuk
Etiópia
Novata entre as dez nações com mais super-ricos na África Subsaariana é a Etiópia. Graças a uma relativa estabilidade política e a investimentos estrangeiros, desde 2003 a economia etíope cresce constantemente. Seus milionários chegam a 2.800 – enquanto 30% de seus compatriotas seguem vivendo na pobreza.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Gana
Ouro, petróleo e cacau em grão são os principais produtos de exportação de Gana, e também fonte da riqueza de um bom número de seus cidadãos. Hoje há 2.700 milionários ganenses, quatro vezes mais do que 15 atrás. Além de matérias-primas, muitos acumularam seu patrimônio nos setores imobiliário e de serviços.
Foto: imago/Xinhua
Botsuana
Há 2.500 milionários vivendo em Botsuana. Principalmente a indústria de diamantes produziu numerosos super-ricos nos últimos anos. Apesar de uma quota elevadíssima de infecções com o vírus HIV e do grande número de desempregados, o país registra a quarta maior renda per capita da África Subsaariana.
Foto: AFP/Getty Images
Costa do Marfim
A guerra civil na Costa do Marfim terminou há oito anos, e desde então a economia nacional está em expansão. O país ostenta 2.300 "high-net-worth individuals", cifra que deverá continuar subindo nos próximos anos. O petróleo é o principal fator de crescimento do país.