A Nigéria está prestes a mergulhar num desastre humanitário. Apesar do exército garantir que está a vencer a batalha contra o Boko Haram, milhares de pessoas estão sem ajuda humanitária, especialmente no Estado de Borno.
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Para chegar até Monguno, uma cidade junto à fronteira com o Chade, a única opção segura é o helicóptero. Caso contrário o risco de cair nas mãos dos insurgentes do Boko Haram é elevado. Monguno tinha uma população local de cerca de 60 mil pessoas. Neste momento alberga 140 mil refugiados.
Num dos vários campos de deslocados para abrigar os refugiados, uma mulher aproxima-se da reportagem da DW África. Diz chamar-se Iza e mostra as duas crianças que carrega ao colo, são gémeas. Têm dois meses e estão visivelmente malnutridos.
Iza insiste que não. Diz que são seus filhos e que estão os dois bem. Membros de uma organização de assistência médica observam as crianças. "Acha que as crianças precisam de tratamento médico urgente?”, pergunta o jornalista da DW África. "Sim", responde Konate Mamoutou, que com a autorização da mãe leva de imediato as crianças para um centro médico improvisado.
Iza fugiu para este campo de refugiados há três meses, depois da vila onde vivia ter sido atacada repetidas vezes nos últimos tempos.
Problema generalizado
No centro de tratamento, os gémeos recebem atendimento médico. Os clínicos explicam a Iza que ambas as crianças estão a necessitar de assistência médica urgente, porque estão num estado extremo de malnutrição.
Todas as crianças da vila têm problemas de nutrição, por isso Iza achou que os seus gémeos estavam bem para a sua idade.
Zainab Ahmed, enfermeira da organização humanitária Alima – Aliança para a Ação médica Internacional –, dá boas notícias: "Ficámos felizes por detetar esta situação tão rapidamente. Vamos agora voar para o nosso hospital, na cidade. Como sabe a malnutrição é um problema de saúde muito grave e que pode matar”.
Conflito armado dificulta ajuda
A Alima e outras ONG chegaram a Monguno em junho. Antes disso, havia apenas um médico disponível para toda a cidade. Cerca de 100 crianças estão agora a ser tratadas diariamente numa clínica desta organização.
No entanto a situação é ainda pior em vilas e aldeia onde é impossível aceder por causa dos combates. As Nações Unidas estimam que dois de milhões de pessoas vivam em zonas isoladas da Nigéria, sem acesso a comida nem ajuda humanitária. O exército nigeriano tornou a situação ainda pior, depois de adotar a estratégia de cortar o acesso do Boko Horam às rotas de abastecimento.
Iza espera que os militares sejam bem sucedidos na luta contra os terroristas, para que ela possa regressar a casa. Depois de anos a viver com medo, ela quer voltar a trabalhar na terra e alimentar os dois filhos.
27.10.2016 Nigéria - MP3-Mono
Reféns do Boko Haram libertados na Nigéria: "Ainda dói"
As 293 mulheres e crianças libertadas na semana passada pelo exército nigeriano das mãos do Boko Haram foram levadas para um campo de refugiados perto da cidade de Yola. Mas o seu sofrimento está longe de terminar.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
O sorriso perdido
"O que se percebe imediatamente é que as crianças aqui quase não riem", conta um funcionário do acampamento de Malkohi, na periferia da cidade nigeriana de Yola. Cerca de metade das perto de 300 pessoas que eram mantidas em cativeiro pelo Boko Haram tem menos de 18 anos. Um terço das crianças no acampamento sofre de desnutrição.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Primeiros dias de vida no acampamento
Lami Musa é mãe da mais recente moradora do acampamento de Malkohi. Deu à luz na semana passada. Um dia depois foi salva por soldados nigerianos. Durante a operação de resgate várias mulheres foram mortas pelos terroristas. "Apertei firmemente a minha filha contra o meu corpo e inclinei-me sobre ela", recorda a jovem mãe.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Filho perdido durante o cativeiro
Halima Hawu não teve tanta sorte. Um dos seus três filhos foi atropelado enquanto os terroristas a raptavam. Durante a operação de resgate um soldado nigeriano atingiu-a numa perna, porque os membros do Boko Haram usam as mulheres como escudos humanos. "Ainda dói, mas talvez agora o pior já tenha passado", espera Halima Hawu.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Poucos alimentos para as crianças
Babakaka, de três anos, teve de passar seis meses com o Boko Haram. Só raramente havia algum milho para as crianças, contam antigos prisioneiros. Quando foram libertados pelos soldados, Babakaka estava quase a morrer de fome. Babakaka continua extremamente fraco e ainda não recebeu tratamento médico adequado no acampamento.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Sobrevivência por um triz
A mãe de Babakaka foi levada para o Hospital de Yola juntamente com cerca de outras vinte pessoas gravemente feridas. Durante a fuga, alguém que seguia à sua frente pisou uma mina. A explosão foi tão forte que a mulher ficou gravemente ferida. Perdeu o bebé que carregava.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Roupas usadas do Ocidente
Exceptuando algumas doações de roupas velhas, ainda não chegou muita ajuda internacional às mulheres e crianças do acampamento de Malkohi. Aqui há falta de muitas coisas, sobretudo de pessoal médico. Não há qualquer vestígio do médico de serviço no acampamento. Apenas duas enfermeiras e uma parteira mantêm em funcionamento o posto de saúde temporário.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Dependentes de voluntários
"Não entendo por que motivo o nosso serviço de emergência nacional não faz mais", reclama a assistente social Turai Kadir. Por sua própria iniciativa, Turai Kadir chamou uma médica para tratar das crianças mais desnutridas. Na verdade, essa é a tarefa da NEMA, a agência nigeriana de gestão de emergências, que está sobrecarregada.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
"Incrível capacidade de resistência"
Regina Musa voltou há poucos meses dos Estados Unidos para dar aulas de Psicologia na Universidade de Yola. Agora, a psicóloga presta aconselhamento psicológico a mulheres e crianças. "As mulheres têm demonstrado uma incrível capacidade de resistência", diz Musa. Durante o período traumático, muitas delas também se preocupavam com os filhos de outras pessoas. Autor: Jan-Philipp Scholz (em Yola)