Este ano, a febre de Lassa na Nigéria já fez 31 vítimas mortais e infetou mais de 100 pessoas. Em entrevista à DW, o responsável do Centro de Controlo de Doenças do país explica o plano de ataque e prevenção da doença.
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O que é a febre de Lassa?
A febre de Lassa é uma doença hemorrágica viral, que afeta sobretudo os países da África Ocidental. Pertence ao mesmo grupo de doenças do ébola, partilhando também alguns sintomas como febre, gripe e vómitos. O vírus é passado às pessoas através do contacto com excrementos de animais ou alimentos contaminados.
É uma doença endémica na África Ocidental, onde são registados entre 300 mil a 500 mil casos por ano. Apesar do primeiro caso ter sido identificado na Nigéria em 1969, o combate ao vírus continua a ser um obstáculo.
Doença endémica
"A febre de Lassa é endémica no nosso país há muitos anos. O que mudou nos últimos dois anos foi a nossa capacidade para a detetar", explica em entrevista à DW África Chikwe Ihekweazu, responsável do Centro de Controlo de Doenças da Nigéria. "Melhorámos as infraestruturas de vigilância e os laboratórios e aumentámos a consciencialização das pessoas sobre a necessidade de usar os serviços de cuidados de saúde primários", acrescenta.
Nigéria enfrenta novo surto de febre de Lassa
Ainda assim, a doença é responsável por várias mortes no país. Só em 2018, a febre de Lassa já tirou a vida a mais de 30 pessoas. Chikwe Ihekweazu alerta que, apesar de não ser tão fatal como o ébola, a febre de Lassa é "bastante grave" e por se registar apenas em alguns países, não lhe é dada a devida importância.
Atualmente, o medicamente disponível para o combate à doença no país não é o mais eficaz. Faltam recursos e mais apoio da comunidade internacional, sublinha Chikwe Ihekweazu.
"Os recursos e as instalações médicas são parte do problema. Mas não existe apenas um único problema nem uma única solução. Precisamos de aumentar a capacidade para o diagnóstico de Lassa. Neste momento, temos apenas três laboratórios na Nigéria, capazes de fazer esse diagnóstico".
Ensinar a prevenir
Nos últimos meses, o país tem vindo a intensificar os programas de educação junto da população e dos profissionais de saúde. Aos hospitais dos Estados afetados pelo vírus foram entregues materiais adequados para o tratamento das pessoas infetadas.
Agora, é hora de apostar mais na investigação para o desenvolvimento de uma vacina ou novos medicamentos, diz o especialista. "Sabemos que se nos protegermos a nós e aos nossos alimentos, dos excrementos dos ratos, podemos prevenir a infeção. Também sabemos que podemos desenvolver uma vacina, se nos focarmos nela", conclui Chikwe Ihekweazu.
Ébola: luta contra o vírus mortal
Apesar das medidas preventivas, algumas pessoas já se contaminaram com o vírus na Europa e Estados Unidos. Cuidadores utilizam trajes para prevenir a propagação, mas na África a proteção ainda deixa a desejar.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Traje de proteção
Na luta contra o ebola, roupas de proteção adequadas para médicos e enfermeiros são essenciais. Toda a pele deve ser coberta com material impenetrável pelo vírus. Mas trajes apenas não bastam, também é necessário seguir corretamente as prescrições de segurança.
Trabalho em conjunto
Os profissionais de saúde devem treinar a colocação correta dos trajes protetores. Como aqui, na unidade especial de isolamento de Düsseldorf. Novos trajes são utilizados a cada vez, para que não haja risco de contaminação no processo. Dessa forma, cuidadores sem proteção também podem ajudar os colegas a se vestir.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Isolamento total
Os quartos dos pacientes na unidade de isolamento em Düsseldorf são completamente protegidos do mundo exterior. O ar é filtrado e as águas residuais são tratadas separadamente. As vestes de proteção, que os cuidadores trajam permanentemente, são pressurizadas. Essas medidas de segurança vão além do necessário: o ebola pode ser transmitido por objetos contaminados, mas não pelo ar.
Após o tratamento dos pacientes, todo o traje é aspergido por fora com desinfetante, a fim de eliminar potenciais contaminações viróticas. Somente após essa ducha as vestimentas podem ser removidas, cuidadosamente.
Foto: picture-alliance/dpa/Sebastian Kahnert
Ajuda externa
Durante a remoção dos trajes protetores, os profissionais de saúde devem ser extremamente cautelosos. Luvas de proteção permanentemente instaladas nas aberturas da câmara permitem ajuda externa sem contato direto com o traje. Após o uso, estes são imediatamente descartados e incinerados.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Enfermeiras contaminadas
Apesar dos altos padrões de segurança, , na Espanha e Estados Unidos três enfermeiras contraíram a doença. As circunstâncias da contaminação ainda não foram esclarecidas. As residências das profissionais (na foto, Texas) foram isoladas e desinfetadas após a descoberta do contágio.
Foto: Reuters/City of Dallas
Proteção em África
Agora, médicos e enfermeiros na África Ocidental também foram equipados com trajes protetores. No entanto, estes nem sempre obedecem as normas para uma proteção efetiva. Por vezes, pequenas áreas da pele ficam descobertas ou o material usado é permeável. Além disso, colocar e retirar o traje pode ser arriscado.
Foto: picture alliance/AP Photo
Isolando os mortos
Os funerais das vítimas do ebola também requerem cuidados extremos. Na África Ocidental, a tradição de os familiares de lavarem os corpos dos mortos resultou em numerosas novas infecções. Para família e amigos, costuma ser difícil compreender e acatar as rigorosas medidas de isolamento.
Foto: Reuters/James Giahyue
Isolamento em barracas
Numa região onde os cuidados médicos são extremamente precários, uma epidemia das atuais proporções representa um enorme desafio. Os infectados são tratados em barracas improvisadas, como se vê na foto feita na Libéria. No entanto, até mesmo um país como a Alemanha ficaria sobrecarregado nessas circunstâncias. No momento, há apenas 50 leitos nas unidades de isolamento alemãs.
Foto: Zoom Dosso/AFP/Getty Images
Incineração em vez de sol
Em algumas regiões afetadas na África Ocidental, os trajes contaminados são pendurados para secar ao sol, numa tentativa de desinfetá-los para reutilização. No entanto, é muito mais seguro as roupas serem imediatamente incineradas após o uso, como ocorre na Guiné. Escassez e altos custos dos trajes dificultam essa medida: as roupas de proteção custam entre 30 e 200 euros.
Foto: Cellou Binania/AFP/Getty Images
Controles nos aeroportos
As viagens aéreas são a maior ameaça na transmissão de longa distância do vírus. Por esse motivo, a temperatura dos passageiros está sendo monitorada em alguns aeroportos. Entretanto, o método não oferece garantia absoluta, já que o período de incubação do ebola é de 21 dias.