Nigéria: Governo confirma 110 estudantes desaparecidas
Reuters | Lusa | AFP | AP | tm
26 de fevereiro de 2018
O Governo nigeriano reconheceu neste domingo (25.02), após divergências sobre os números concretos, que 110 estudantes continuam desaparecidas uma semana após o ataque do grupo radical islâmico a uma escola em Dapchi.
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A confirmação do desaparecimento das 110 estudantes chegou na voz do ministro da Informação, Lai Mohammed, após um encontro com entidades em Dapchi, no estado de Yobe, e familiares das vítimas.
"Os insurgentes estavam realmente em Dapchi na segunda-feira à noite e, hoje, não contamos 110 dessas raparigas. Sabe-se que o número de estudantes no registo total dos alunos que vieram à escola na segunda-feira foi de 906", adiantou Lai Mohammed.
A declaração do ministro acontece depois de uma certa confusão sobre o número de raparigas desaparecidas. Estimativas variavam entre 50 e mais de 100 estudantes. A polícia do estado, o governo de Yobe e outros órgãos tinham avançado diferentes números, enquanto um pai, representando famílias, dissera à agência de notícias Reuters que 105 estudantes estavam desaparecidas.
Sequestradas pelo Boko Haram?
Nigéria: Governo confirma 110 estudantes desaparecidas
Testemunhas relatam que os militantes do Boko Haram perguntavam onde estava localizada a escola. Outros disseram à agência de notícias norte-americana Associated Press (AP) terem visto as jovens sendo levadas com armas apontadas à cabeça.
"Fomos à escola para verificar quais eram as pessoas desaparecidas. Quando cheguei, descobri que a minha filha era uma das raparigas levadas. Isso, depois de uma amiga dela me ter entregado os seus pertences. Outros amigos também confirmaram que minha filha estava entre as raparigas levadas num veículo”, explica Kachalla Bukar, pai de uma das meninas desaparecidas.
Os nigerianos temem que as estudantes tenham sido levadas para servirem de noivas dos extremistas de Boko Haram. Em 2014, o grupo raptou 276 meninas de um internato em Chibok, forçando-as a casar com os seus sequestradores.
A população continua a pressionar o Presidente Muhammadu Buhari para que tome uma posição sobre este novo episódio e assegure que não aconteça uma situação semelhante à ocorrida em 2014.
"Um desastre nacional”
Entretanto, o recente sequestro de alunas na Nigéria já foi apontado, na última semana, como um revés para Buhari, que desde a eleição prometera derrotar o Boko Haram. Em declarações na última sexta-feira, o Presidente pediu desculpas às famílias das meninas e classificou o ocorrido "como um desastre nacional".
Acredita-se que o recente sequestro de raparigas possa ser um dos maiores sequestros desde Chibok. Este domingo, o ministro Lai Mohammed prometeu esforços para melhorar a segurança nas escolas: "A polícia e Defesa civil vão assegurar sua presença forte em todas as escolas para impedir a ação dos insurgentes. As agências de segurança e órgãos responsáveis já estão a trabalhar para que as meninas sejam recuperadas o mais rápido possível. Queremos garantir aos nigerianos a nossa determinação em resgatá-las".
O Boko Haram, cujo nome significa "a educação ocidental é pecado", luta pela imposição de um Estado islâmico na Nigéria, um país predominantemente muçulmano no norte e maioritariamente cristão no sul. Desde o início da insurgência na região, em 2009, mais de 20 mil pessoas morreram.
Reféns do Boko Haram libertados na Nigéria: "Ainda dói"
As 293 mulheres e crianças libertadas na semana passada pelo exército nigeriano das mãos do Boko Haram foram levadas para um campo de refugiados perto da cidade de Yola. Mas o seu sofrimento está longe de terminar.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
O sorriso perdido
"O que se percebe imediatamente é que as crianças aqui quase não riem", conta um funcionário do acampamento de Malkohi, na periferia da cidade nigeriana de Yola. Cerca de metade das perto de 300 pessoas que eram mantidas em cativeiro pelo Boko Haram tem menos de 18 anos. Um terço das crianças no acampamento sofre de desnutrição.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Primeiros dias de vida no acampamento
Lami Musa é mãe da mais recente moradora do acampamento de Malkohi. Deu à luz na semana passada. Um dia depois foi salva por soldados nigerianos. Durante a operação de resgate várias mulheres foram mortas pelos terroristas. "Apertei firmemente a minha filha contra o meu corpo e inclinei-me sobre ela", recorda a jovem mãe.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Filho perdido durante o cativeiro
Halima Hawu não teve tanta sorte. Um dos seus três filhos foi atropelado enquanto os terroristas a raptavam. Durante a operação de resgate um soldado nigeriano atingiu-a numa perna, porque os membros do Boko Haram usam as mulheres como escudos humanos. "Ainda dói, mas talvez agora o pior já tenha passado", espera Halima Hawu.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Poucos alimentos para as crianças
Babakaka, de três anos, teve de passar seis meses com o Boko Haram. Só raramente havia algum milho para as crianças, contam antigos prisioneiros. Quando foram libertados pelos soldados, Babakaka estava quase a morrer de fome. Babakaka continua extremamente fraco e ainda não recebeu tratamento médico adequado no acampamento.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Sobrevivência por um triz
A mãe de Babakaka foi levada para o Hospital de Yola juntamente com cerca de outras vinte pessoas gravemente feridas. Durante a fuga, alguém que seguia à sua frente pisou uma mina. A explosão foi tão forte que a mulher ficou gravemente ferida. Perdeu o bebé que carregava.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Roupas usadas do Ocidente
Exceptuando algumas doações de roupas velhas, ainda não chegou muita ajuda internacional às mulheres e crianças do acampamento de Malkohi. Aqui há falta de muitas coisas, sobretudo de pessoal médico. Não há qualquer vestígio do médico de serviço no acampamento. Apenas duas enfermeiras e uma parteira mantêm em funcionamento o posto de saúde temporário.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Dependentes de voluntários
"Não entendo por que motivo o nosso serviço de emergência nacional não faz mais", reclama a assistente social Turai Kadir. Por sua própria iniciativa, Turai Kadir chamou uma médica para tratar das crianças mais desnutridas. Na verdade, essa é a tarefa da NEMA, a agência nigeriana de gestão de emergências, que está sobrecarregada.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
"Incrível capacidade de resistência"
Regina Musa voltou há poucos meses dos Estados Unidos para dar aulas de Psicologia na Universidade de Yola. Agora, a psicóloga presta aconselhamento psicológico a mulheres e crianças. "As mulheres têm demonstrado uma incrível capacidade de resistência", diz Musa. Durante o período traumático, muitas delas também se preocupavam com os filhos de outras pessoas. Autor: Jan-Philipp Scholz (em Yola)