Nigéria: ONU suspende ajuda humanitária em Rann uma semana
AFP | Lusa
3 de março de 2018
O anúncio da ONU acontece após a morte, esta semana, de três dos seus colaboradores na cidade, em consequência de mais um ataque do grupo islâmico Boko Haram.
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O ataque, do grupo islamita armado Boko Haram, decorreu na madrugada desta sexta-feira (02.03) em Rann, perto dos Camarões, onde existe um campo de refugiados que acolhe quase 80 mil pessoas que dependem de assistência alimentar.
Este sábado (03.03), Samantha Newpor, porta-voz da ONU em Abuja, fez saber que as "operações” da organização "foram temporariamente suspensas por uma semana desde ontem (sexta-feira) de manhã". "Evacuámos 52 trabalhadores humanitários e os três mortos", acrescentou a mesma responsável, adiantando que os efeitos só se sentirão neste campo, não sendo as outras operações da ONU na região afetadas.
Entre as vítimas mortais, todas nigerianas, estão dois funcionários da Organização Mundial das Migrações, que trabalhavam na gestão de um centro de deslocados, e um médico ligado ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Também a ONG Médicos Sem Fronteiras anunciou sexta-feira (02.02) que suspendeu as suas atividades em Rann e retirou os 22 membros da sua equipa nesta cidade. Voltarão, acrescentou, assim que as condições o permitirem.
Secretário de Estados dos EUA visita Abuja
Abuja, na Nigéria, é uma das cidades que o secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, visitará na próxima semana naquela que será a sua primeira viagem oficial a África. Com o objetivo de "aprofundar" as relações com o continente africano, o norte-americano visitará também N'Djamena (Chade), Djibouti (República de Djibouti), Adis Abeba (Etiópia), Nairobi (Quénia).
Como explicou a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, pretende-se "aprofundar a nossa relação com os governos e os povos africanos. Especificamente, (Rex Tillerson) planeia abordar formas de colaboração com os nossos parceiros no combate ao terrorismo, fomentar a paz e segurança na região, promover a boa governança e alcançar acordos comerciais e económicos", afirmou.
Nigéria: Dar e receber para sobreviver
Fugiram do grupo terrorista Boko Haram e vivem sem dinheiro no campo de refugiados de Bakasi, na Nigéria. A troca de produtos foi a solução que muitos encontraram para sobreviver e satisfazer necessidades básicas.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Alguma autonomia
Os alimentos e os produtos doados nem sempre são os desejados. Dinheiro e trabalhos remunerados são raros no campo de refugiados de Bakasi, no nordeste da Nigéria. Com a troca de produtos, os refugiados encontraram uma maneira de satisfazer as suas necessidades.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Dinheiro significa corrupção
"Nós não ganhamos dinheiro. Por isso é que fazemos as trocas", explica Umaru Usman Kaski. O refugiado quer trocar um molho de lenha no valor de 50 nairas (cerca de 11 cêntimos de euro) por alimentos para a família de oito membros. Muitos residentes preferiam receber dinheiro. Mas o risco é grande porque a corrupção na rede de distribuição do campo é generalizada.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Arroz em troca de farinha
Falmata Madu (à dir.) troca arroz pela farinha de milho de Hadisa Adamu. As refugiadas fazem parte dos dois milhões de pessoas que fugiram do Boko Haram. Uns refugiaram-se no interior do país, outros no estrangeiro. Há mais de oito anos que o grupo terrorista aterroriza o nordeste da Nigéria, onde quer estabelecer um califado. Segundo a ONU, esta é uma das piores crises humanitárias mundiais.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Milhares de refugiados
Há 670.000 refugiados nos vários campos espalhados pelo nordeste da Nigéria. No campo de Bakasi, nos arredores da cidade de Maiduguri, capital do estado de Borno, vivem 21 mil pessoas. Em troca do seu milho, Falmata Ahmadu recebe folhas de amaranto de Musa Ali Wala.
Foto: Reuters/A. Sotunde
"Não havia mais nada"
Abdulwahal Abdulla não gosta muito de peixe. Mas as pequenas tilápias foram a única coisa que conseguiu comprar porque os produtos são muitos escassos. Em vez do peixe seco, que custou 150 nairas (cerca de 36 cêntimos de euro), o refugiado de 50 anos, que vive no campo de Bakasi há três anos, preferia ter comprado óleo.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Necessidades alteram-se
Nasiru Buba (à dir.) comprou detergente com o dinheiro que conseguiu a trabalhar como porteiro na cidade. Na altura, não precisava de nada especial. Agora precisa urgentemente de amendoins, mas já não tem dinheiro. "A minha mulher acabou de ter um bébé, mas não tem leite", diz Buba. Acredita-se que os amendoins estimulam a produção de leite.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Violência sem fim à vista
Maiduguri é considerada o berço do Boko Haram e centro de violência. Em finais de dezembro de 2017, pelo menos nove pessoas morreram num ataque do grupo terrorista na capital do estado de Borno. Face a este cenário, é pouco provável que os refugiados deixem o campo de Bakasi em breve. Por enquanto, a troca direta de bens deverá continuar.