Nigéria: Suspensão do presidente do Supremo aumenta tensão
rl | Katrin Gänsler | Reuters | Lusa
28 de janeiro de 2019
A três semanas das eleições na Nigéria, os receios aumentam. Às dificuldades logísticas da organização do escrutínio a 16 de fevereiro soma-se o recente afastamento do presidente do Supremo Tribunal pelo chefe de Estado.
Publicidade
O Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, que concorre a um segundo mandato, anunciou a demissão de Walter Onnoghen, na sexta-feira (25.01), por alegadas irregularidades na sua declaração de bens. O Supremo Tribunal tem competência para decidir sobre eventuais litígios nas eleições.
As reações não se fizeram esperar. Para o principal da oposição, o Partido Popular Democrático (PDP), trata-se de um "ato digno de uma ditadura" e por isso, em protesto contra a decisão do Presidente, suspendeu a sua campanha eleitoral por 72 horas.
"É um assassinato em larga escala da democracia e nós não aceitamos isso", declarou Francis Abuul, membro do PDP. Não é saudável para a nossa democracia. Se o governo quiser dar provas de que nos quer dar eleições credíveis, que o mostre agora", desafiou.
Também a União Europeia (UE), os Estados Unidos e a Grã-Bretanha expressaram, durante o fim de semana, a sua preocupação com a suspensão do principal juiz do país. Em resposta, o governo de Buhari fez saber que não aceitaria qualquer "interferência estrangeira" no processo.
84 milhões de eleitores
Oitenta e quatro milhões de nigerianos são chamados às urnas a 16 de fevereiro, o que deixa a Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI) com um grande desafio em mãos. O número de eleitores registados é o maior de todos os tempos na Nigéria. Foram criadas perto de 120 mil assembleias de voto em 774 distritos.
Nigéria: Suspensão do presidente do Supremo aumenta tensão
No entanto, estes números não assustam a CENI. "A comissão está pronta. Temos trabalhado em conjunto com as partes interessadas para preparar o registo eleitoral. Até agora, os preparativos para as eleições estão a correr muito bem", garante Aliyu Bello, vice-porta-voz da Comissão Eleitoral.
Mas há quem não esteja tão confiante. Jude Udo Ilo, da Open Society Initiative, que promove a governança democrática, disse à DW que tem sérias dúvidas quanto à capacidade da CENI de organizar eleições credíveis. "Há razões para preocupação. Por exemplo, um mês antes da eleição, o recrutamento e formação do pessoal ainda não foi concluído", lembra.
A juntar a todo este cenário, está ainda a questão da segurança. Os frequentes ataques do grupo terrorista Boko Haram em solo nigeriano, e que obrigaram já milhares de pessoas a abandonar as suas casas, são uma ameaça à participação no ato eleitoral. "Irei votar se o governo garantir a segurança . Caso contrário, não", diy Mathew Musa, que fugiu do distrito de Madagali, em Yola, estado de Adamawa, por causa da violência.
Dentro de três semanas, a Nigéria vai eleger um novo parlamento e um novo Presidente. A eleição dos governadores e assembleias dos estados realiza-se duas semanas mais tarde.
Reféns do Boko Haram libertados na Nigéria: "Ainda dói"
As 293 mulheres e crianças libertadas na semana passada pelo exército nigeriano das mãos do Boko Haram foram levadas para um campo de refugiados perto da cidade de Yola. Mas o seu sofrimento está longe de terminar.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
O sorriso perdido
"O que se percebe imediatamente é que as crianças aqui quase não riem", conta um funcionário do acampamento de Malkohi, na periferia da cidade nigeriana de Yola. Cerca de metade das perto de 300 pessoas que eram mantidas em cativeiro pelo Boko Haram tem menos de 18 anos. Um terço das crianças no acampamento sofre de desnutrição.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Primeiros dias de vida no acampamento
Lami Musa é mãe da mais recente moradora do acampamento de Malkohi. Deu à luz na semana passada. Um dia depois foi salva por soldados nigerianos. Durante a operação de resgate várias mulheres foram mortas pelos terroristas. "Apertei firmemente a minha filha contra o meu corpo e inclinei-me sobre ela", recorda a jovem mãe.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Filho perdido durante o cativeiro
Halima Hawu não teve tanta sorte. Um dos seus três filhos foi atropelado enquanto os terroristas a raptavam. Durante a operação de resgate um soldado nigeriano atingiu-a numa perna, porque os membros do Boko Haram usam as mulheres como escudos humanos. "Ainda dói, mas talvez agora o pior já tenha passado", espera Halima Hawu.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Poucos alimentos para as crianças
Babakaka, de três anos, teve de passar seis meses com o Boko Haram. Só raramente havia algum milho para as crianças, contam antigos prisioneiros. Quando foram libertados pelos soldados, Babakaka estava quase a morrer de fome. Babakaka continua extremamente fraco e ainda não recebeu tratamento médico adequado no acampamento.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Sobrevivência por um triz
A mãe de Babakaka foi levada para o Hospital de Yola juntamente com cerca de outras vinte pessoas gravemente feridas. Durante a fuga, alguém que seguia à sua frente pisou uma mina. A explosão foi tão forte que a mulher ficou gravemente ferida. Perdeu o bebé que carregava.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Roupas usadas do Ocidente
Exceptuando algumas doações de roupas velhas, ainda não chegou muita ajuda internacional às mulheres e crianças do acampamento de Malkohi. Aqui há falta de muitas coisas, sobretudo de pessoal médico. Não há qualquer vestígio do médico de serviço no acampamento. Apenas duas enfermeiras e uma parteira mantêm em funcionamento o posto de saúde temporário.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Dependentes de voluntários
"Não entendo por que motivo o nosso serviço de emergência nacional não faz mais", reclama a assistente social Turai Kadir. Por sua própria iniciativa, Turai Kadir chamou uma médica para tratar das crianças mais desnutridas. Na verdade, essa é a tarefa da NEMA, a agência nigeriana de gestão de emergências, que está sobrecarregada.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
"Incrível capacidade de resistência"
Regina Musa voltou há poucos meses dos Estados Unidos para dar aulas de Psicologia na Universidade de Yola. Agora, a psicóloga presta aconselhamento psicológico a mulheres e crianças. "As mulheres têm demonstrado uma incrível capacidade de resistência", diz Musa. Durante o período traumático, muitas delas também se preocupavam com os filhos de outras pessoas. Autor: Jan-Philipp Scholz (em Yola)