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ConflitosNigéria

Nigéria teme mais violência perto das eleições

Henry-Laur Allik
9 de junho de 2022

Um ataque contra fiéis católicos trouxe à tona o fracasso dos líderes da Nigéria em pôr fim aos conflitos no país. À medida que se aproxima a campanha para as eleições de fevereiro de 2023, a violência poderá agravar-se.

Cinco crianças estão entre as vítimas do ataque na Igreja Católica de São Francisco, em OwoFoto: Rahaman A Yusuf/AP/picture alliance

Pelo menos 40 pessoas morreram e muitas ficaram feridas no ataque de domingo numa igreja católica em Owo, no sudoeste da Nigéria, segundo o Governo do estado de Ondo, onde o incidente teve lugar.

Nenhum grupo reivindicou a responsabilidade pelo massacre e as autoridades ainda não identificaram os atacantes, disse um porta-voz da polícia à agência noticiosa AP.

Até ao ataque de domingo, o estado de Ondo era tido por relativamente pacífico.

Mas, segundo o perito em segurança da África do Sul, Ryan Cummings, Ondo tem vindo a assistir a uma tensão crescente entre agricultores, que são predominantemente cristãos, e pastores, que são principalmente muçulmanos.

Confrontos entre pastores e agricultores

O Governo do estado de Ondo aprovou um projeto de lei anti pastoreio que protegia os agricultores e limitava severamente a utilização de pastagens por pastores nómadas.

Estes pastores são em grande parte os Fulani do norte, que foram empurrados para o sul pelas alterações climáticas e degradação das terras de pastagem.

"Neste contexto, assistimos a um aumento significativo da violência comunal", diz Cummings, o diretor da consultoria sul-africana em gestão de riscos de segurança Signal Risk.

Agricultores e pastores estão a formar milícias armadas e a envolver-se cada vez mais em confrontos, segundo Ryan Cummings.

Os confrontos entre agricultores e pastores têm aumentado significativamenteFoto: Luis Tato/AFP

O papel da etnicidade e da religião neste conflito permanece, no entanto, pouco claro. Muitos analistas descrevem a um ciclo vicioso, em que o conflito em torno da terra e outros recursos naturais, como a água, alimenta a inimizade entre os agricultores e os pastores. Por sua vez, a filiação étnica e religiosa das pessoas envolvidas assume maior significado à medida que a violência aumenta.

Conflitos por todo o país

O Presidente nigeriano Muhammadu Buhari condenou o ataque à igreja, que qualificou de "assassinato hediondo de fiéis".

Buhari prometeu devolver a paz à Nigéria durante a sua campanha eleitoral, mas o líder nigeriano de 79 anos que se aproxima do fim do seu segundo, e último, mandato como Presidente, falhou o cumprimento. Em vez disso, a ciol'encia aumentou um pouco por todo o país. 

A insurreição do Boko Haram no nordeste, que dura há 12 anos, não tem fim à vista. Um grupo dissidente, o Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP, na sigla em inglês), está a afirmar-se na mesma região.

Bandos criminosos, frequentemente ligados a grupos terroristas, atacam as populações e procedem a raptos em massa nas regiões noroeste e centro-norte do país.

Vítimas de jihadistas na Nigéria: entre a dor e a esperança

02:04

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O sudeste está a assistir a uma série de assassinatos e ataques perpetrados por militantes separatistas que atacam para ter sucesso no resto da Nigéria.

"Os nigerianos estão a viver uma deteriortação do ambiente de segurança," disz Cummings à DW.

Avisos de catástrofe alimentar 

Os civis são as principais vítimas da situação de insegurança na Nigéria.

Até à data, o terrorismo no nordeste matou 40.000 e deslocou dois milhões de pessoas.

É também um fator importante que contribui para a terrível situação económica da região, que está agora a piorar devido à guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Um relatório divulgado na segunda-feira pelas agências da ONU Programa Alimentar Mundial e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura colocou a Nigéria entre seis nações ameaçadas de carências alimentares "catastróficas".

Crise de combustível na Nigéria

01:43

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Grande exportador de petróleo bruto, a Nigéria não consegue beneficiar do atual aumento dos preços dos combustíveis fósseis para aliviar as dificuldades do seu povo, diz o analista nigeriano Kabir Adamu. Assim, a violência desempenha um papel importante na redução da produção.

Como a Nigéria não refina o seu próprio petróleo, é forçada a importar combustível a preços elevados, o que coloca ainda mais pressão sobre a economia já afetada, o que, por sua vez, inflama os vários conflitos do país.

Violência pode ter impacto nas eleições

Alguns nigerianos foram às redes sociais para protestar contra o partido no poder Congressos dos Progressistas (APC, na sigla em inglês), alegando insensibilidade ao sofrimento em Owo.

Acusam o APC de proceder de desrespeitar a tragédia, por não ter cancelado um banquete planeado para celebrar a nomeação de um candidato presidencial para as eleições de fevereiro de 2023.

A ACP iniciou as suas primárias na segunda-feira, um dia após o ataque a igreja em Ondo.

Na quarta-feira, o antigo governador do estado de Lagos, Bola Tinubu, foi escolhido pelos delegados ACP para concorrer à Presidência.

O analista de segurança Ryan Cummings acredita que a insegurança em toda a Nigéria terá impacto nas próximas eleições.

"A intensificação da insurreição em 2015 que conduziu às eleições gerais foi uma das principais razões pelas quais o Presidente Goodluck Jonathan não foi reeleito", avalia.

O candidato da oposição Buhari foi então um vencedor surpresa das eleições de 2015.

"E, obviamente, a promessa de Buhari de trazer paz e estabilidade à Nigéria foi uma questão que repercutiu em muitos eleitores", acrescenta Cummings.

É provável que grupos armados utilizem as eleições para promover os seus objetivos através de perturbações.

"Penso certamente que, entrando no ciclo eleitoral da Nigéria, veremos um aumento da violência", conclui Cummings.

Nigéria: Jogo de xadrez para mudar vidas

02:03

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