No poder desde 2005, Gnassingbé pode ser reeleito no Togo
Katrin Gänsler | kg
20 de fevereiro de 2020
No próximo sábado (20.02), mais de 3 milhões de eleitores vão às urnas no Togo para escolher o novo Presidente. Faure Gnassingbé, no poder desde 2005, é o favorito para a reeleição.
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O Presdiente Faure Gnassinbé é considerado favorito para a reeleição no Togo. Mais de 30 milhões de pessoas foram convocadas para o pleito no país da África Ocidental, que está marcado para este sábado (20.02). Gnassinbé está á frente do Executivo togolês há quase 15 anos.
Os seis candidatos da oposição que concorrem às eleições presidenciais são quase invisíveis. Na capital Lomé, os cartazes de campanha do atual Presidente, que é do partido União para a República (UNIR), estão por toda parte.
"Se eu fosse Presidente, eu criaria mais empregos para os jovens. Eles têm um diploma universitário, mas não conseguem encontrar um emprego. É também preciso ajudar aqueles que não têm apoio para completar os estudos. Nem todos têm a chance de ir à escola aqui", diz Djabara Moustapha, aponhante de Gnassinbé no distrito de Kodjoviakopé.
Os desafios do Presidente
Seja quem for o eleito, terá de enfrentar desafios imensos à frente do Governo togolês. O Togo é um dos países mais mal classificados no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Além de falta de financiamento para a saúde, faltam infraestruturas e perspetivas para os jovens.
Mais da metade da população vive abaixo da linha da pobreza. O poder político também baseia-se na violência. Segundo a Amnistia Internacional, 25 pessoas foram mortas em protestos desde as últimas eleições, em 2015.
Para o professor Roger Folikoue, da Universidade de Lomé, o Governo do Togo usa a violência e a pobreza como armas contra a população.
"Além de usar a violência como uma arma, o Estado lança mão de outra: a pobreza. Deixam a população viver na miséria para poder dominá-la melhor. Quem quiser superar a pobreza, precisa colaborar com o sistema", diz Folikoue.
No poder desde 2005, Gnassingbé pode ser reeleito no Togo
Quase uma dinastia
A família Gnassingbé governa o Togo desde 1967. Isto faz do país o único na África Ocidental a ser comandado por uma ditadura familiar.
Depois da morte do pai, Eyadéma, Faure Gnassingbé assumiu o poder em 2005 e foi reeleito duas vezes. Uma emenda constitucional aprovada em 2019 limitou o cargo de Presidente a dois mandatos, mas vai ter efeitos apenas nas eleições subsequentes. Assim, o atual Presidente pode concorrer nesta e nas próximas eleições.
Jean-Pierre Fabre, o candidato favorito da oposição que compete terceira vez contra o Presidente, acusa o partido UNIR de ataques durante a campanha eleitoral. O candidato refere-se à cidade de Sotouboua, no norte do país, onde parte da população apoia Gnassingbé.
"Houve ataques violentos do partido no poder. Também disseram-me que 'aqui é Sotouboua'. 'Não perdeste nada aqui'."
A oposição fragmentada do Togo não conseguiu escolher um candidato comum. Alguns partidos chegaram a pedir um boicote às eleições deste sábado.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.