Etiópia: Primeiro-ministro Abiy Ahmed tem novos inimigos?
Benita van Eyssen | tms
11 de dezembro de 2019
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, recebeu terça-feira o Prémio Nobel da Paz, pelos esforços em prol da resolução do conflito com a Eritreia. Mas tem criado muitas inimizades no seu país pelas suas reformas.
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O primeiro-ministro Abiy Ahmed é o rosto da transição da Etiópia para uma nova democracia desde abril de 2018. Em outubro, após o anúncio do Prémio Nobel da Paz de 2019, Ahmed voltou a sua atenção para a reestruturação do partido no poder - e com a violência a explodir nas ruas, outros dois nomes do grupo étnico Oromo foram o centro das atenções.
Naquele mês, o ativista Jawar Mohammed, dono da Oromia Media Network (OMN), acusou as forças de segurança de tentar orquestrar um ataque contra ele. Vários atos de violência foram registados. Em novembro, o ministro da Defesa, Lemma Megersa, criticou abertamente o novo Partido da Prosperidade Etíope (PPE) de Abiy Ahmed. E outros concordaram.
Etiópia: Primeiro-ministro Abiy Ahmed tem novos inimigos?
Os jovens, que estavam esperançosos em relação ao primeiro-ministro no início do Governo, hoje já têm dúvidas em relação ao futuro. "Ao comparar o antes e o depois da reforma política, os jovens tinham mais esperança no Governo há seis meses. Mas depois vê-se a polarização da opinião até mesmo dos jovens. Uns do lado do primeiro-ministro e outros das demais figuras políticas", explica o jornalista Merga Yonas Bula.
A viagem do primeiro-ministro a Oslo para a entrega do Prémio Nobel da Paz fez com que os ânimos se acalmassem na Etiópia, após semanas de violência. Mas o facto de Abiy Ahmed ter dito que não falaria com a imprensa na Noruega provocou uma enxurrada de críticas em casa.
Os meios de comunicação social etíopes ainda esperam que o primeiro-ministro fale com a imprensa pelo menos uma vez por mês, conforme prometeu ao assumir o Governo no ano passado.
Uma plataforma influente
A plataforma do ativista Jawar Mohammed, no entanto, torna-se cada vez mais influente. O blogger Befekadu Hailu lembra que Mohammed foi fundamental nos protestos de 2016 que levaram Abiy Ahmed ao poder.
O ativista Jawar Mohammed tem quase dois milhões de seguidores no Facebook "e tem grande influência sobre a juventude Oromo", explica o blogger Befekadu Hailu. "A sua influência no partido no poder, especialmente no braço Oromo do partido, é também significante, mas no nível mais baixo, não no topo das lideranças. Mesmo assim, ele pode criar certa resistência na juventude", diz.
Clionadh Raleigh, professora de Geografia Política da Universidade de Sussex, no Reino Unido, chama a atenção para a influência do ativista Jawar Mohammed. "Jawar Mohammed tem uma influência incrível, mas o mesmo não se pode dizer de Abiy Ahmed. Estou impressionada com a confluência de fatores: Abiy Ahmed abriu o Governo e o país à competição política, mas vai pensar duas vezes antes de abrir este espaço para alguém que tenha os seus próprios meios de comunicação social", sublinha.
Apesar das tensões e inimizades criadas recentemente em casa, analistas lembram que o primeiro-ministro também tem a sua parcela de apoiantes, tanto na Etiópia como no exterior, e estabelecer laços com outros países desde que conseguiu pôr fim no conflito com a Eritreia.
Prémio Nobel: Os representantes da Paz em África
Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, recebe o Prémio Nobel da Paz de 2019. Trata-se do décimo africano a ser reconhecido pelo trabalho de reconciliação. O Nobel da Paz foi para África pela primeira vez em 1960.
Foto: Getty Images/AFP/E. Soteras
Primeiro laureado
Albert Luthuli foi o primeiro africano a receber o Prémio Nobel da Paz, em 1960, pela sua luta pacífica contra a segregação racial na África do Sul. Ele era presidente do ANC na ocasião da premiação, e o movimento de libertação funcionava na clandestinidade. Ele recebeu o prémio em Oslo um ano depois do seu nome ser escolhido, porque a proibição de deixar o país foi suspensa por dez dias.
Foto: Getty Images/Keystone/Hulton Archive
Líder espiritual
O arcebispo Desmond Tutu foi um dos líderes morais da África do Sul, com uma trajetória de defesa dos direitos humanos e contra a discriminação racial. É do religioso a expressão: "Somos uma nação arco-íris". Em 1984, o sacerdote anglicano recebeu o Prémio Nobel. Amigo de Nelson Mandela, Tutu é conhecido pelo bom humor. Um dos seus admiradores é o líder espiritual tibetano Dalai Lama.
Foto: picture-alliance/dpa
Amandla!
Esta imagem percorreu o mundo. Quando o herói anti-apartheid Nelson Mandela foi libertado, em 1990, após 27 anos de prisão, a África do Sul prendeu a respiração. Era um momento histórico. A luta incansável de Madiba contra a opressão abriu caminho para a democracia na África do Sul. Um ano antes, Mandela recebeu o Prémio Nobel da Paz juntamente com o chefe do Governo, Fredrik Willem de Klerk.
Foto: AP
Dois adversários unidos
Coragem, paciência e perseverança conduziram estes dois homens a algo que parecia impossível. Nelson Mandela e Fredrik Willem de Klerk, então Presidente da África do Sul, receberam em conjunto o Prémio Nobel da Paz, em 1993, antes mesmo de Mandela ter sido eleito o primeiro Presidente negro. A revolução pacífica foi um sucesso, mas o processo de paz na África do Sul está longe de terminar.
Foto: AP
Pela paz em todo o mundo
Em 2001, o então secretário-geral e a instituição Nações Unidas receberam o Prémio Nobel pelo compromisso com um mundo "mais organizado e mais pacífico". A carreira brilhante de Kofi Annan tem uma ressalva, que veio à tona com as acusações de que a ONU teria sido omissa durante o genocídio no Ruanda. Annan era o chefe das Forças de Paz da ONU em 1994 e admitiu que falhou.
Foto: Reuters
Mama Miti: "A mãe das árvores"
Em 2004, uma mulher negra recebeu pela primeira vez o Prémio Nobel da Paz: Wangari Maathai. A queniana lutou pelos direitos das mulheres e contra a pobreza no seu país. Maathai foi vice-ministra do Meio Ambiente e era chamada de "Mãe das Árvores" pelo "Movimento Cinturão Verde", que ela mesma criou. Ela celebrou o prémio à sua maneira, escrevendo na sua autobiografia: "Plantei uma árvore."
Foto: Getty Images/AFP/T. Bendiksby
Três mulheres agraciadas
Em 2011, três mulheres foram laureadas em conjunto: a Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf (à direita), a sua compatriota, a ativista de direitos humanos Leymah Gbowee (ao centro), e a jornalista Tawakkul Karman, do Iémen. As duas liberianas foram homenageadas pelos seus esforços para salvar o seu país da violência da guerra civil.
Foto: dapd
"Doutor Milagre"
O médico e defensor dos direitos humanos, o congolês Denis Mukwege, fez do apoio às vítimas de violência sexual o trabalho de uma vida inteira. Durante muitos anos, o ginecologista foi o cirurgião-chefe do Hospital Panzi, em Bukavu, que ele próprio fundou em 1999. Ele oferece esperança e renova a coragem das vítimas. Por isso foi premiado em 2018, juntamente com a ativista yazidi Nadia Murad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Norwegian Church Aid
Iniciativa corajosa
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, será laureado pelo empenho para a paz com a vizinha Eritreia. A insistência pela reconciliação no seu próprio país também impressionou os jurados do Prémio Nobel, apesar da concretização desse objetivo ser longa e difícil. O processo corajoso de reforma no conturbado Estado multiétnico da Etiópia impressionou o júri do prémio.