Primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, Prémio Nobel da Paz deste ano, pediu, em Oslo, unidade nacional contra divisões e extremismos, para que se garanta a democracia na Etiópia.
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"Gostaria de pedir a todos os meus colegas etíopes que deem as mãos e ajudem a construir um país que ofereça justiça, direitos e igualdade de oportunidades para todos os seus cidadãos", disse Abiy Ahmed num discurso proferido esta terça-feira (10.12) na cerimónia em que recebeu o prémio, falando da necessidade de se neutralizar a "toxina" do ódio com inclusão, civismo e tolerância.
Abiy, a quem foi atribuído este ano o Prémio Nobel, pelos seus esforços em prol da paz e da cooperação internacional, bem como pela sua iniciativa e empenho na resolução do conflito fronteiriço entre a Etiópia e a Eritreia, defendeu os ideais de Medemer, em amárico - a principal língua etíope - que alude à coexistência e à unidade, baseadas no amor e no perdão.
Nobel da Paz vai para primeiro-ministro etíope Ahmed Ali
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Tensões étnicas
O dirigente etíope destacou os esforços "históricos" em prol da paz feitos em menos de dois anos que está no poder: a libertação de "todos" os presos políticos, o encerramento dos centros de tortura, a promoção da liberdade de imprensa e o lançamento das bases de uma "verdadeira democracia multipartidária", que, em poucos meses, deverá traduzir-se em eleições.
Mas não fez referência às tensões étnicas ou à falta de federalismo, assuntos pelos quais é mais criticado, num país que no ano passado foi o que registou maior número de deslocados internos no mundo.
Na realidade, grande parte do seu discurso centrou-se no acordo com a Eritreia, que pôs fim a um conflito de décadas, e incluiu vários elogios ao Presidente do país vizinho, Isaias Afwerki, "parceiro" e "camarada da paz", cuja "vontade, confiança e compromisso foram vitais para acabar com um impasse" de duas décadas após a guerra.
"Ponte de amizade"
Abiy, que também recebeu o prémio em nome dos etíopes, eritreus e afrodescendentes, afirmou que o fim do conflito tinha sido uma das suas prioridades desde que tomou posse como primeiro-ministro.
Nobel da Paz: Abiy Ahmed apela à unidade nacional
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"Acreditava que a paz entre a Etiópia e a Eritreia estava ao seu alcance, estava convencido de que o muro imaginário, que durante demasiado tempo separou os nossos países, devia ser derrubado e, em vez disso, devia ser construída uma ponte de amizade, colaboração e boa vontade", disse num discurso em inglês.
Num discurso antes de Abiy falar, o presidente do Comité do Nobel da Noruega, Berit Reiss-Andersen, descreveu o primeiro-ministro etíope como o "principal arquiteto" das negociações de paz entre os dois países, mas destacou que importantes postos fronteiriços permanecem fechados bem como a falta de progresso nos aspetos culturais, sociais e económicos do acordo.
Reiss-Andersen recordou os "múltiplos desafios" da Etiópia, como a falta de desenvolvimento económico e os milhões de deslocados, mas elogiou as iniciativas tomadas para promover a paz e a democracia, como a amnistia política, a luta contra a corrupção, a formação de um governo conjunto e o anúncio de eleições.
Prémio Nobel: Os representantes da Paz em África
Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, recebe o Prémio Nobel da Paz de 2019. Trata-se do décimo africano a ser reconhecido pelo trabalho de reconciliação. O Nobel da Paz foi para África pela primeira vez em 1960.
Foto: Getty Images/AFP/E. Soteras
Primeiro laureado
Albert Luthuli foi o primeiro africano a receber o Prémio Nobel da Paz, em 1960, pela sua luta pacífica contra a segregação racial na África do Sul. Ele era presidente do ANC na ocasião da premiação, e o movimento de libertação funcionava na clandestinidade. Ele recebeu o prémio em Oslo um ano depois do seu nome ser escolhido, porque a proibição de deixar o país foi suspensa por dez dias.
Foto: Getty Images/Keystone/Hulton Archive
Líder espiritual
O arcebispo Desmond Tutu foi um dos líderes morais da África do Sul, com uma trajetória de defesa dos direitos humanos e contra a discriminação racial. É do religioso a expressão: "Somos uma nação arco-íris". Em 1984, o sacerdote anglicano recebeu o Prémio Nobel. Amigo de Nelson Mandela, Tutu é conhecido pelo bom humor. Um dos seus admiradores é o líder espiritual tibetano Dalai Lama.
Foto: picture-alliance/dpa
Amandla!
Esta imagem percorreu o mundo. Quando o herói anti-apartheid Nelson Mandela foi libertado, em 1990, após 27 anos de prisão, a África do Sul prendeu a respiração. Era um momento histórico. A luta incansável de Madiba contra a opressão abriu caminho para a democracia na África do Sul. Um ano antes, Mandela recebeu o Prémio Nobel da Paz juntamente com o chefe do Governo, Fredrik Willem de Klerk.
Foto: AP
Dois adversários unidos
Coragem, paciência e perseverança conduziram estes dois homens a algo que parecia impossível. Nelson Mandela e Fredrik Willem de Klerk, então Presidente da África do Sul, receberam em conjunto o Prémio Nobel da Paz, em 1993, antes mesmo de Mandela ter sido eleito o primeiro Presidente negro. A revolução pacífica foi um sucesso, mas o processo de paz na África do Sul está longe de terminar.
Foto: AP
Pela paz em todo o mundo
Em 2001, o então secretário-geral e a instituição Nações Unidas receberam o Prémio Nobel pelo compromisso com um mundo "mais organizado e mais pacífico". A carreira brilhante de Kofi Annan tem uma ressalva, que veio à tona com as acusações de que a ONU teria sido omissa durante o genocídio no Ruanda. Annan era o chefe das Forças de Paz da ONU em 1994 e admitiu que falhou.
Foto: Reuters
Mama Miti: "A mãe das árvores"
Em 2004, uma mulher negra recebeu pela primeira vez o Prémio Nobel da Paz: Wangari Maathai. A queniana lutou pelos direitos das mulheres e contra a pobreza no seu país. Maathai foi vice-ministra do Meio Ambiente e era chamada de "Mãe das Árvores" pelo "Movimento Cinturão Verde", que ela mesma criou. Ela celebrou o prémio à sua maneira, escrevendo na sua autobiografia: "Plantei uma árvore."
Foto: Getty Images/AFP/T. Bendiksby
Três mulheres agraciadas
Em 2011, três mulheres foram laureadas em conjunto: a Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf (à direita), a sua compatriota, a ativista de direitos humanos Leymah Gbowee (ao centro), e a jornalista Tawakkul Karman, do Iémen. As duas liberianas foram homenageadas pelos seus esforços para salvar o seu país da violência da guerra civil.
Foto: dapd
"Doutor Milagre"
O médico e defensor dos direitos humanos, o congolês Denis Mukwege, fez do apoio às vítimas de violência sexual o trabalho de uma vida inteira. Durante muitos anos, o ginecologista foi o cirurgião-chefe do Hospital Panzi, em Bukavu, que ele próprio fundou em 1999. Ele oferece esperança e renova a coragem das vítimas. Por isso foi premiado em 2018, juntamente com a ativista yazidi Nadia Murad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Norwegian Church Aid
Iniciativa corajosa
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, será laureado pelo empenho para a paz com a vizinha Eritreia. A insistência pela reconciliação no seu próprio país também impressionou os jurados do Prémio Nobel, apesar da concretização desse objetivo ser longa e difícil. O processo corajoso de reforma no conturbado Estado multiétnico da Etiópia impressionou o júri do prémio.