Normalidade regressa a Sofala com o fim das hostilidades em Moçambique
27 de agosto de 2014 Os consensos alcançados nas últimas rondas negociais, envolvendo o Governo moçambicano dirigido pela FRELIMO e o maior partido da oposição, a RENAMO, e que resultaram na assinatura da declaração do termo das hostilidades no país foram bem recebidos pelos moçambicanos, que já clamavam pelo retorno à paz que se vivia já há 20 anos.
Em entrevista à DW África, José João Rocha, investidor na área de turismo em Moçambique, afirma que a crise político-militar que se fez sentir em peso na província central de Sofala afastou significativamente os turistas, que temiam ataques naquela região.
“Os poucos que vêm só se deslocam de avião, não andam de carro, têm medo de ir ao Parque [Nacional da Gorongosa], apesar de o director afirmar que o local está estável”, explica. “Os confrontos são sempre naquela zona. Como se chama tudo Gorongosa e como para os turistas Gorongosa é o parque, têm receio porque não fazem ideia daquilo que se passa lá dentro”, acrescenta José João Rocha.
"Não se sente insegurança", dizem turistas ouvidos pela DW
Nelson e Bárbara Conceição, um casal de nacionalidade portuguesa que visitava o país pela primeira vez, contou à DW África ter agendado a visita a Moçambique “já há bastante tempo” mas “receava os ataques que frequentemente se anunciavam em alguns troços nas estradas de Sofala”.
“Uma das grandes preocupações que eu tinha, antes de vir, prendia-se precisamente com a questão da segurança”, começa por dizer Bárbara, exemplificando com “aquilo que via muitas vezes na televisão”. “Não tenho sentido nenhuma insegurança a esse nível. Não se sente a guerra, felizmente”, explica.
“Antes de virmos informámo-nos sobre a situação. Ouvimos falar em conflitos, a muitos quilómetros aqui da Beira, alguns confrontos nas colunas, mas sempre nos disseram que aqui na cidade era muito pacífico”, diz Nelson Conceição, por sua vez. “Agora, com o cessar-fogo, de certeza que as coisas serão ainda mais fáceis. Não me parece que venha a surgir algum problema. Achamos que é para ficar”, conclui.
Troço Muxungué-Save está "calmo"
João António, camionista de longa data a frequentar a EN1, lembrou que, ao longo desta via, a situação esteve caótica num passado muito recente. Frequentemente, os camiões de carga e transportes de pessoas e bens eram preferencialmente abatidos pelos guerrelheiros da RENAMO, impondo assim a subida de preços de produtos alimentares nas zonas centro e norte do país que eram fornecidos a partir dos grandes mercados das cidades de Maputo e da vizinha África do Sul.
João António afirma agora que, nos últimos três meses, tem reinado a calma. Ainda assim, o camionista apela à retirada das tropas governamentais daquela via, de modo a poder realizar-se a travessia a qualquer hora, sem coluna militar. “Dizem que Muxungué mudou. Mas, enquanto se mantiverem as colunas, as pessoas não se sentirão à vontade”, explica.
Com o conflito armado, os serviços de educação, agricultura e turismo nos distritos de Gorongoza, Machanga, Buzi e Maringue, na província central de Sofala, ficaram praticamente paralisados, bem como a reabilitação dos pouco mais de cem quilómetros na Estrada Nacional número 1, no troço entre o posto administrativo de Save e Muxungué. Com o recém-declarado cessar-fogo, os moçambicanos ouvidos pela DW África afirmam estarem agora criadas todas condições para a aparição pública do líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, para que possa prosseguir o processo político com vista às eleições de 15 de outubro próximo.