Comunidade islâmica no norte de Moçambique preocupada
Lusa | ar
11 de outubro de 2017
Comunidades da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, estão a ser mobilizadas para se insurgirem contra as instituições do Estado e instituírem uma visão radical, afirma um dos líderes muçulmanos da região.
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"Proíbem as crianças de ir à escola oficial, de ir aos hospitais", incitam os residentes "a não ter nenhuma documentação" e a desafiar a autoridade policial, aponta Nassurulahe Dulá, líder do Congresso Islâmico em Pemba, capital da província.
A presença de supostos doutrinadores tem motivado alertas daquela organização às autoridades desde há pelo menos três anos. Propagam uma visão deturpada da religião, refere Dulá, que atribui a estes grupos radicalizados o ataque armado da última semana a postos de polícia em Mocímboa da Praia.
Dois polícias, 14 atacantes e um civil morreram na vila costeira e imediações durante os tiroteios ocorridos entre quinta-feira e sábado (05./07.2017) que levaram ao encerramento de todas as atividades e à retirada por helicóptero de cerca de duas dezenas de profissionais ligados aos projetos de exploração de gás natural, em preparação na região, disse à Lusa fonte ligada à operação.
"Já fizemos muitas vezes um trabalho de combate a estes grupos", alertando "as pessoas para que não se juntem a eles", mas o aliciamento resulta, sobretudo em zonas de fraca escolaridade e baixo rendimento. O recrutamento tem decorido de forma discreta, refere.
Desconhecidos insistem numa doutrina radical
Macomia, Mucojo, Pemba e Palma são outros locais apontados de onde a organização islâmica já recebeu alertas acerca de desconhecidos a insistir numa doutrina radical.Aquele responsável recorda, de memória, um episódio ocorrido em Pemba, em 2016, em que alguns dos supostos doutrinadores foram repatriados pelas autoridades moçambicanas por estarem em situação ilegal no país, retornando à Tanzânia, a algumas dezenas de quilómetros - mas podendo ter tido origem noutras paragens.
Noutro caso, foi intercetado na região um angariador de crianças a cujos pais era prometida educação e bons tratos, mas cujo destino, passando por Nampula, capital provincial a sul, eram escolas corânicas com o fim de radicalização, refere.
Pontualmente, os registos de ocorrências policiais na região incluem detenções de pessoas que propagam a insurgência contra as instituições do Estado, num rol de atritos que, segundo Nassurulahe Dulá, culminou nos ataques da última semana aos postos de polícia.
Ataque com apoio de "mão externa"
Tal como as autoridades, Nassurulahe Dulá acredita que o ataque só foi possível com apoio de "mão externa", a avaliar pela organização da força e pelas armas usadas (metralhadoras AK47).
"A maioria das pessoas [do grupo] são moçambicanas. Não sei quem os ajuda no exterior", uma investigação que "cabe ao governo", sublinha, sendo certo que Cabo Delgado é a província mais a norte de Moçambique (a par do Niassa), com fronteiras porosas para o Índico e Tanzânia, país em redor do qual gravita boa parte das trocas comercias conhecidas e das suspeitas de contrabando.A ligação ao país vizinho é visível no quotidiano, enquanto Maputo, capital moçambicana, está a uns dois mil quilómetros de distância.
As ações que visam moldar os residentes fogem dos olhares públicos, sem um líder que se evidencie e sem reivindicações, relata o líder do Congresso Islâmico.
"Quando tentamos confrontá-los com o alcorão, eles fogem", trabalham "às escondidas, têm medo de enfrentar as pessoas" e a influência revela-se de outras formas: "Sabemos que fazem três orações por dia" em vez das cinco tradicionais, exemplifica.
"Não aceitam a lei do Governo", só aceitam ditas leis islâmicas, que as instituições religiosas dizem desconhecer e cuja natureza "contradiz o que está no alcorão".
Nassurulahe Dulá dá voz a um receio da comunidade islâmica no norte de Moçabique, cuja imagem diz estar a ser afetada pela ação dos novos recrutas insurgentes, temendo que "a situação se possa radicalizar" numa altura em que a FRELIMO, partido no poder, e RENAMO, maior força da oposição, se aproximam de um novo acordo de paz no país. À beira de um momento histórico, dispensam-se perturbações, defende.
Pemba: degradação em tempos de boom
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios históricos de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Casas históricas em ruínas
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios do centro histórico de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação. A degradação não poupa prédios com elevado valor histórico como esta casa, que foi na era colonial e até 1979 a residência do governador da província de Cabo Delgado.
Foto: Eleutério Silvestre
Mercado central de Pemba
O mercado localiza-se na cidade baixa da cidade desde 1940. Foi uma atração turística de Pemba, que em tempos coloniais era chamada Porto Amélia. Os números e as letras na placa por cima da fachada da entrada, resistem as intempéries naturais e ainda testemunham o quanto foi importante o mercado para os colonos portugueses.
Foto: Eleutério Silvestre
Negócio parado: as bancas do mercado
Nestas bancas simples eram expostos cereais, leguminosas e outros produtos alimentares. Antes do total abandono nos anos 2000, o mercado era frequentado por cidadãos da classe média de diferentes bairros de Pemba, atraídos pelo nível de higiene que caraterizava na exposição dos produtos. Vendia-se o melhor peixe e a melhor carne da cidade de Pemba.
Foto: Eleutério Silvestre
Abandono total: o cinema de Pemba
O cinema de Pemba, localizado na periferia da cidade baixa, era o único da cidade. Até 1990, eram projetados filmes na sala: das 14 às 16 horas os filmes para menores e das 17 às 21 horas as longas metragens para maiores de 18 anos. O cinema era ponto de encontro de cidadãos de diferentes idades de Pemba. O edifício funcionou também como ginásio de 2008 a 2012.
Foto: Eleutério Silvestre
Novas construções na vizinhança
Em vez de renovar e adaptar edifícios históricos já existentes, constroem-se novos prédios em Pemba, a capital da província moçambicana de Cabo Delgado. Este projeto do anfiteatro de Pemba é fruto de uma parceria público privada, entre o Hotel Wimbe Sun e o Conselho Municipal de Pemba. Mais um exemplo de que os investimentos vão para a construção e não para a reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Construir de raiz em vez de reabilitar
Mesmo para escritórios, que facilmente poderiam ser instalados em prédios históricos renovados, a opção preferida é construir de raiz. Assim sendo, o "boom" económico causado pela descoberta de grandes quantidades de gás na Bacia do Rovuma na província de Cabo Delgado não beneficia o centro histórico da cidade de Pemba. Este edifício é destinado para albergar uma filial bancária.
Foto: DW/E. Silvestre
Antiga delegação da Cruz Vermelha
Esta casa localiza-se na principal via de acesso à cidade baixa de Pemba. Serviu em regime de arrendamento como primeira delegação da Cruz Vermelha na província. A partir deste edifício, a Cruz Vermelha desencadeou ações humanitárias durante a guerra civil de Moçambique. Em 1999, a Cruz Vermelha de Moçambique abandonou a casa e mudou para infraestruturas próprias modernas.
Foto: Eleutério Silvestre
Armazém histórico de Pemba
Este armazém na cidade baixa faz parte dos edifícios históricos abandonados. Durante a guerra civil, serviu para o armazenamento de alimentos. Foi aqui que os residentes do bairro mais antigo de Pemba, Paquitequete, compravam produtos de primeira necessidade. Teve um papel muito importante durante a emergência de fome que assolou a população de Pemba durante a guerra civil no ano de 1980.
Foto: Eleutério Silvestre
Porto de Pemba
Quando o centro histórico está em degradação, uma das zonas mais dinámicas de Pemba é o porto. Do lado direito, as antigas instalações, do lado esquerdo a zona de ampliação destinada a carga do material da exploração do gás. O cais flutuante foi construído pela empresa francesa Bolloré. A esperança é que o boom do gás ajuda a reabilitar para além do porto também os edifícios históricos de Pemba.