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PolíticaCamarões

Macron denuncia "hipocrisia" em África e critica Rússia

mjp | com agências
27 de julho de 2022

Emmanuel Macron, de visita aos Camarões, criticou "a hipocrisia" em África por não se culpar a Rússia pela guerra na Ucrânia. No entanto, PR francês garantiu que "França continuará empenhada na segurança do continente".

Presidente Emmanuel Macron com o seu homólogo camaronês, Paul Biya, em YaoundéFoto: Saabi Jeakespier/AA/picture alliance

No balanço da primeira etapa da visita de três dias do Presidente francês ao continente africano, nos Camarões, Emmanuel Macron anunciou, esta terça-feira (26.07), que, a pedido do seu homólogo Paul Biya, os dois países planeiam ampliar a sua cooperação em matéria de segurança e defesa, sobretudo no treinamento de tropas para combater o extremismo islâmico.

"França continuará empenhada na segurança do continente. Continuaremos ao lado dos países da bacia do Lago Chade, para os ajudar a combater os terroristas que têm estado a mergulhar o norte dos Camarões no luto há tantos anos", assegurou o chefe de Estado francês.

A visita de Macron é vista como uma tentativa de reforçar a cooperação bilateral francesa, numa altura em que dirigentes russos têm estado a deslocar-se ao continente em busca de apoio. Em África, esta semana, está também o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov.

Ao mesmo tempo, as crescentes ligações de diversos países ao Grupo Wagner, uma organização paramilitar russa envolvida em vários conflitos armados, têm feito soar os alarmes na União Europeia.

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Numa conferência conjunta com o Presidente dos Camarões, esta terça-feira, o chefe de Estado francês não escondeu: "Esta presença russa híbrida, que passa pela desinformação, milícias e novas formas de cooperação, com a cumplicidade de poderes políticos enfraquecidos ou mesmo totalmente ilegítimos, quando se trata de juntas militares, causa preocupação".

"(...) Vamos garantir que este padrão não se alastra demasiado, porque não me parece bom, especialmente para a população", ressaltou Macron.

Camarões admitem efeitos da guerra na Ucrânia

O Presidente Paul Biya admitiu que as consequências do conflito na Ucrânia já chegaram ao seu país. "Aproxima-se a inflação galopante, há dificuldades de transporte e o povo está ansioso", constatou.

Por outro lado, Biya não negou as relações com a Rússia: "É uma relação de longa data e assinámos um acordo de cooperação que expirou e nós renovámo-lo e assinámo-lo".

Mesmo assim, "os Camarões vão fazer o possível para acabar com este conflito". "Quando começarem as negociações [entre a Rússia e a Ucrânia], a paz regressa", garantiu o chefe de Estado.

"Hipocrisia" em África

Por sua vez, o Presidente francês criticou o que classifica como "hipocrisia" no continente africano por não se culpar a Rússia pela guerra na Ucrânia devido a "pressões diplomáticas".

Emmanuel Macron acusou Moscovo de usar alimentos e combustível como "armas de guerra", numa altura em que já se faz sentir a falta de cereais.

"Estamos a ser atacados por alguns que culpam as sanções europeias pela crise alimentar mundial e, por conseguinte, a crise alimentar africana. É totalmente falso. Os alimentos e a energia tornaram-se armas da guerra russa. Por outro lado, isso torna as nossas responsabilidades cada vez mais claras: temos de ajudar o continente africano a produzir mais para si", afirmou o PR francês num trecho da conferência partilhado no seu perfil no Twitter.

Direitos humanos e conflito separatista fora da agenda

Ao contrário do que alguns círculos políticos camaroneses esperavam, o Presidente francês quase não mencionou a crise nas regiões de língua inglesa dos Camarões, palco de violência separatista há mais de cinco anos, afirmando apenas que é necessária uma concertação das partes envolvidas.

A libertação dos presos políticos do país também ficou de fora da agenda do encontro com o homólogo camaronês, no poder há quatro décadas.

Depois dos Camarões, Macron viaja para o Benim esta quarta-feira (27.07). Cerca de 75 deputados franceses de esquerda alertaram o Presidente para "excessos autoritários" neste país e a situação "alarmante" dos presos políticos.

"Gostaríamos de chamar a sua atenção para a situação política neste país", escrevem os deputados numa carta a Emmanuel Macron, a que a agência AFP teve acesso.

A deslocação ao continente termina na sexta-feira, na Guiné-Bissau, que acaba de assumir a presidência rotativa da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.

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