Detenção de 18 observadores eleitorais da Nova Democracia em Gaza é "violação grosseira dos direitos humanos", diz o presidente do partido em entrevista à DW. Amnistia Internacional também condena detenção dos jovens.
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Os 18 militantes do partido Nova Democracia não deviam ter passado sequer uma noite na prisão, escreve Deprose Muchena, diretor regional para a África Austral da Amnistia Internacional (AI), num comunicado publicado esta segunda-feira (18.11). Mas já passou mais de um mês desde que os jovens foram detidos na província de Gaza, sul de Moçambique, acusados de apresentarem credenciais falsas no dia das eleições gerais.
A AI pede a "libertação imediata e incondicional" dos 18 e condena a sua "transferência secreta", na noite de domingo (17.11) de Guijá, onde estavam detidos, para uma prisão em Xai-Xai, a 154 quilómetros. A organização de defesa dos direitos humanos escreve que esta atitude é "alarmante e parece uma tentativa deliberada das autoridades de ocultar detalhes sobre o paradeiro" dos jovens e sobre a forma como estão a ser tratados.
Para o presidente da Nova Democracia, Salomão Muchanga, esta situação é um "atentado às liberdades democráticas". Mais de um mês depois da detenção dos 18, os advogados dos detidos nem sequer foram notificados para terem acesso aos processos, afirma Muchanga, contrariando uma informação avançada anteriormente pela mandatária nacional do partido, Quitéria Guirengane.
Em entrevista à DW África, o presidente da Nova Democracia pede igualmente a libertação dos jovens e condena o estado da Justiça em Moçambique: "Aqueles que encheram as urnas já estão livres. E aqueles que estavam à procura da legalidade do processo continuam detidos injustamente."
DW África: Os advogados já tiveram acesso aos procesos dos detidos?
Salomão Muchanga (SM): Não há notificação para ir ao tribunal. Os nossos advogados não tiveram acesso aos processos, os presos foram transferidos da cadeia de Guijá para a cadeia de Xai-xai sem nenhuma explicação. Continuamos a exigir a libertação imediata desses presos. Isto é continuamente um atentado às liberdades democráticas, um derrube à convivência harmoniosa da nossa sociedade. Estamos perante uma situação de violação grosseira dos direitos humanos, porque, mais do que os 18 jovens, aqui a mensagem que se emite é de intimidação à juventude moçambicana, a uma geração inteira, de que é proibido participar na vida política nacional.
Nova Democracia pede libertação imediata de jovens detidos
DW África: o que dizem os advogados perante esta situação?
SM: Que é uma detenção ilegal, injusta, desumana. Temos advogados desde a primeira hora e, neste momento, estamos a reforçar com outros advogados para fazermos uma frente mais ampla. Estamos a conectar mecanismos internacionais mais amplos de denúncia e pressão a esta violação dos direitos humanos. A posição dos advogados é de utilizar todos os meios ao seu dispor para que estes jovens sejam libertados imediatamente e gozem na plenitude da sua vida. É por isso que estamos a dizer a cada momento que este combate diário significa o reencontro que nós exigimos entre esses presos e a liberdade.
DW África: Volto a insisitir na pergunta - os advogados foram ou não notificados para ter acesso aos processos dos detidos?
SM: Nao há notificação nenhuma que foi feita. Temos certeza disto. Os nossos advogados estão posicionados para que, durante toda esta semana, possam interagir com estas instituições e, o mais rápido possível, haver esclarecimento público, nacional e internacional, sobre esta problemática.
DW África: Faz sentido que os jovens continuem detidos mesmo depois de trinta dias?
SM: Não faz sentido - mais de 30 dias detidos, em condições desumanas, transferidos de um lugar para o outro sem nenhum conhecimento [dos advogados e de familiares]. Quer dizer, não podemos continuar a fazer de contas que estamos a viver numa democracia. E a exigência que os nossos advogados vão continuar a fazer junto dos tribunais e da procuradoria é no sentido de que, urgentemente, de forma imediata e incondicional, possam ser libertados.
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DW África: Há contactos entre os familiares dos detidos e o partido? O que têm estado a abordar nesses contactos?
SM: Falamos todos os dias, exigimos a libertação desses jovens juntos e todos os dias. As famílias e a luta que temos estado a desencadear é a mesma. Somos parte desta luta. Há clareza no papel das famílias e aquilo que tem sido o esforço sincero que a liderança e os membros da Nova Democracia estão a desenvolver.
DW África: Como é que estes casos de ilícitos eleitorais devem ser tratados?
SM: Tinha que ser de forma célere. Mas esta é a natureza típica da nossa Justiça. A justiça para os fracos é muito forte e para os soberanos do país é extremamente fraca. Aqueles que encheram as urnas já estão livres. E aqueles que estavam à procura da legalidade do processo continuam detidos injustamente. É preciso refazer, repensar, todo o nosso sistema eleitoral. E dizer: vale a pena ter um processo democrático, mas tem de ser sério, tem de ser com eleições sérias, livres, justas, transparentes e limpas, porque o que queremos efetivamente é que a paz de que falamos seja fruto da justiça.
Dia de eleições em Moçambique em imagens
De norte a sul de Moçambique, grande afluência de eleitores marcou primeiras horas de votação. 13,1 milhões de moçambicanos foram chamados a escolher Presidente da República, 250 deputados e 10 governadores provinciais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Filipe Nyusi abre votação em Maputo
As primeiras assembleias de voto abriram às 07:00 para as sextas eleições gerais. Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique e candidato a um segundo mandato, abriu a votação em Maputo. Depois de votar na Secundária Josina Machel, em direto na televisão pública, pediu ao país para mostrar ao mundo que Moçambique "apoia a democracia". "Vamos acreditar e vamos confiar", sublinhou o candidato da FRELMO.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Ossufo Momade vota na Ilha de Moçambique
O candidato presidencial da RENAMO, Ossufo Momade, disse que "nunca" vai aceitar "resultados eleitorais manipulados", assinalando que a negação da vontade popular levou o país a hostilidades militares no passado. "Estamos determinados em fazer qualquer coisa que o povo nos indicar", declarou Momade. O candidato falava após votar na sua terra natal, na Ilha de Moçambique, província de Nampula.
Foto: Getty Images/A. Barbier
Daviz Simango apela ao voto de todos
Daviz Simango, candidato à presidência pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), votou no bairro de Macuti. "Aproveito esta oportunidade para lembrar a todos os moçambicanos que não votarem que vão ter a oportunidade de ser dirigidos por aqueles que não escolheram", advertiu. Pediu ainda às autoridades para "criarem condições para que estas eleições sejam transparentes livres e justas".
Foto: DW/A. Sebastião
Tentativas de fraude a favor da FRELIMO
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), registaram-se já vários "casos de tentativas de enchimento de urnas" nos dois maiores círculos eleitorais do país. Os casos, a favor da FRELIMO, ocorreram nas assembleias de voto instaladas nas escolas primárias completas Eduardo Mondlane de Angoche, em Nampula, e 16 de Junho, em Mopeia, na Zambézia, precisou a ONG.
Foto: DW/L. da Conceição
UE: Observação eleitoral "em boas condições"
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) considera que a abertura das mesas de voto decorreu de modo ordeiro. "Havia muitas filas, mas os procedimentos foram seguidos em grande parte", disse Sànchez Amor. O chefe da missão da UE informou ainda que "a observação está a realizar-se em boas condições" e, por enquanto, "o processo desenrola-se conforme o previsto".
Foto: DW/L. Matias
Quelimane: Zambezianos em peso nas urnas
Assembleias de voto em Quelimane, província central da Zambézia, registam grande afluência de eleitores desde as primeiras horas. A DW encontrou vários cidadãos que não conseguiram votar por problemas com o cartão de eleitor. Luís Boavida, cabeça de lista do MDM, e Manuel de Araújo, da RENAMO, apelaram aos zambezianos para irem às urnas. Pio Matos, da FRELIMO, garantiu que está "tudo tranquilo".
Foto: DW/N. Issufo
Gaza: Ambiente calmo e ordeiro
A tranquilidade marcou a abertura das mesas de voto em Mandlakazi, na província de Gaza, no sul. Gaza foi notícia nos últimos meses porque foi aqui que os órgãos eleitorais moçambicanos recensearam cerca de 230 mil eleitores a mais do que o número da população em idade eleitoral anunciada pelo INE. Irregularidades muito contestadas por oposição e sociedade civil.
Foto: DW/C. Matsinhe
Nampula: Eleitores impedidos de votar
Em Mulila, no populoso bairro de Namicopo, na cidade de Nampula, pelo menos oito eleitores foram impedidos de votar, alegadamente porque os seus nomes não constavam dos cadernos eleitorais. O bairro de Namicopo é na sua maioria habitado por apoiantes da RENAMO. Já a Sala da Paz condenou a "falta de vontade dos órgãos eleitorais" em credenciar observadores na província de Nampula.
Foto: DW/S. Lutxeque
Tete: Balanço positivo da Sala da Paz
A Sala da Paz faz um balanço positivo das primeiras horas de votação em Tete, apesar de se verificaram longas filas de eleitores e de alguns membros desta plataforma eleitoral não terem sido credenciados pelos órgãos de administração eleitoral para a observação do pleito. Nestas eleições, Tete elege 21 deputados para a Assembleia da República e 82 membros para a Assembleia Provincial.
Foto: DW/A. Zacarias
Inhambane: Prioridade para eleitores idosos
Idosos em Inhambane estão a ter prioridade nas mesas das assembleias de voto. Nesta província, as mesas abriram à hora prevista, com milhares de eleitores nas filas para exercerem o seu direito cívico. A afluência às urnas diminuiu ao final da manhã. Os concorrentes ao cargo de governador votaram cedo e aguardam os resultados nas suas residências, sob fortes medidas de segurança.
Foto: DW/L. da Conceição
Pemba: Longa espera para votar
Ao contrário de Inhambane, em Pemba, província de Cabo Delgado, alguns idosos queixam-se da longa espera para votar e lamentam que não lhes seja concedida prioridade, como preconiza a lei. "Há lutas na fila e como nós somos mais velhas não conseguimos ficar paradas, por isso ficamos sentadas", disse à DW África a idosa Albertina Navaia, que vota na Escola Primária de Cariacó.
Foto: DW/D. A. Uatanle
Manica: Votação sem sobressaltos
Em Manica, a votação tem sido sobressaltos nem registo de ilícitos eleitorais. Apesar de, no geral, os partidos darem nota positiva ao arranque do processo na província, o delegado do MDM, Humberto Escova, lamentou a circulação de automóveis blindados, na zona de Pinanganga, no distrito de Gondola, e acusou o contingente policial de semear o medo entre os eleitores.