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Nova era na África do Sul após demissão de Zuma

Philipp Sandner | Subry Govender | Ineke Mules
16 de fevereiro de 2018

Depois da demissão do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, os desafios para o partido no poder são muitos. O novo chefe de Estado, Cyril Ramaphosa, tem a tarefa de reconquistar a confiança de muitos eleitores.

Da esquerda para a direita, Jacob Zuma, Winnie Madikizela-Mandela e Cyril RamaphosaFoto: picture-alliance/AP Photo/T. Hadebe

A demissão de Jacob Zuma demorou. O ex-Presidente da África do Sul só se retirou quando ficou claro que não sobreviveria a uma nova moção de censura. Assim que o fez, abriu caminho a uma nova era, aguardada por muitos sul-africanos.

Makhosi Khoza, ex-dirigente do Congresso Nacional Africano (ANC), era uma das pessoas que reivindicava há anos a substituição de Jacob Zuma. Saiu do partido no poder devido a esse posicionamento, criando o seu próprio movimento político. "Precisamos urgentemente de uma recuperação da economia", afirma Khoza. "Foram nove anos de trauma, com um escândalo atrás do outro; não sabíamos onde tudo iria acabar", acrescenta.

Aumenta pressão para Zuma sair da Presidência

01:20

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ANC em queda livre

A Presidência de Zuma esteve envolvida em escândalos desde o primeiro minuto - até antes de assumir o cargo, Jacob Zuma já fora acusado de corrupção no âmbito de contratos de armas no final dos anos 1990. O Presidente foi ainda alvo de alegacões de favorecimento de empresários da família Gupta, seus aliados. Mas o ANC nunca o conseguiu afastar do cargo.

Isso deveu-se à boa rede de conhecimentos de Jacob Zuma, explica o jornalista sul-africano Philip de Wet, algo que também terá influenciado a transição. "O objetivo principal do líder do ANC, Cyril Ramaphosa, é evitar que o partido se divida. Para isso, Zuma tinha mesmo de ser substituído. Ramaphosa tentou fazê-lo, não pondo em causa a reputação de Zuma. Os problemas, no entanto, agudizaram-se, e Cyril Ramaphosa poderá vir a enfrentar uma derrota do ANC nas próximas eleições gerais", comenta de Wet em entrevista à DW.

Descontentamento generalizado

Nova era na África do Sul

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O ANC é o partido mais influente da África do Sul. Foi fundado em 1912 com o propósito de conquistar o direito de voto para a maioria negra. Mais tarde, o partido liderou a resistência contra o regime segregacionista do apartheid. Em 1994, o ANC venceu as primeiras eleições pós-apartheid e iniciou uma nova fase na história do país, sob a liderança de Nelson Mandela.

Mas a euforia esmoreceu e deu lugar a um descontentamento generalizado. Uma grande parte dos sul-africanos negros é de opinião que as suas condições de vida não melhoraram e que ainda existem demasiadas injustiças e discriminações. "Muitos dizem que o próprio Nelson Mandela devia ter feito mais pela estabilidade económica do país", afirma o jornalista de Wet. "Em vez de retirar o poder económico às elites brancas, diz-se que ele teria contribuído para a situação que vivemos hoje na África do Sul. A falta de oportunidades, a pobreza: tudo isso se verifica hoje."

O antigo Presidente sul-africano, Jacob Zuma, prometeu transformar radicalmente o sistema económico - chegou mesmo a falar numa "revolução económica" - mas assustou, com este discurso, potenciais investidores estrangeiros. Zuma nunca chegou a transformar o sistema - terá tentado aproveitar-se dele pessoalmente, nota de Wet.

Julius Malema, líder dos EFF na campanha eleitoral de 2014Foto: picture-alliance/dpa

Nova era, caras conhecidas

Nos últimos anos, o ANC tem perdido cada vez mais militantes, cansados da corrupção crescente no país e da falta de renovação partidária. Tal como Julius Malema, dirigente da juventude do ANC até 2012, muitos jovens sul-africanos viraram as costas ao partido. Malema lidera agora os Combatentes pela Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês), o terceiro partido mais votado nas eleições legislativas de 2014.

Agora, a nova era África do Sul começa com Cyril Ramaphosa na Presidência. Os desafios são enormes, mas muitos sul-africanos estão confiantes: "Ramaphosa vai ser bom para o nosso país, para a economia, para cada um de nós, negros e brancos", afirmou Sipho Ngwanye, um jovem de 23 anos. "É um recomeço, vamos começar uma nova vida."