Depois da demissão do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, os desafios para o partido no poder são muitos. O novo chefe de Estado, Cyril Ramaphosa, tem a tarefa de reconquistar a confiança de muitos eleitores.
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A demissão de Jacob Zuma demorou. O ex-Presidente da África do Sul só se retirou quando ficou claro que não sobreviveria a uma nova moção de censura. Assim que o fez, abriu caminho a uma nova era, aguardada por muitos sul-africanos.
Makhosi Khoza, ex-dirigente do Congresso Nacional Africano (ANC), era uma das pessoas que reivindicava há anos a substituição de Jacob Zuma. Saiu do partido no poder devido a esse posicionamento, criando o seu próprio movimento político. "Precisamos urgentemente de uma recuperação da economia", afirma Khoza. "Foram nove anos de trauma, com um escândalo atrás do outro; não sabíamos onde tudo iria acabar", acrescenta.
Aumenta pressão para Zuma sair da Presidência
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ANC em queda livre
A Presidência de Zuma esteve envolvida em escândalos desde o primeiro minuto - até antes de assumir o cargo, Jacob Zuma já fora acusado de corrupção no âmbito de contratos de armas no final dos anos 1990. O Presidente foi ainda alvo de alegacões de favorecimento de empresários da família Gupta, seus aliados. Mas o ANC nunca o conseguiu afastar do cargo.
Isso deveu-se à boa rede de conhecimentos de Jacob Zuma, explica o jornalista sul-africano Philip de Wet, algo que também terá influenciado a transição. "O objetivo principal do líder do ANC, Cyril Ramaphosa, é evitar que o partido se divida. Para isso, Zuma tinha mesmo de ser substituído. Ramaphosa tentou fazê-lo, não pondo em causa a reputação de Zuma. Os problemas, no entanto, agudizaram-se, e Cyril Ramaphosa poderá vir a enfrentar uma derrota do ANC nas próximas eleições gerais", comenta de Wet em entrevista à DW.
Descontentamento generalizado
Nova era na África do Sul
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O ANC é o partido mais influente da África do Sul. Foi fundado em 1912 com o propósito de conquistar o direito de voto para a maioria negra. Mais tarde, o partido liderou a resistência contra o regime segregacionista do apartheid. Em 1994, o ANC venceu as primeiras eleições pós-apartheid e iniciou uma nova fase na história do país, sob a liderança de Nelson Mandela.
Mas a euforia esmoreceu e deu lugar a um descontentamento generalizado. Uma grande parte dos sul-africanos negros é de opinião que as suas condições de vida não melhoraram e que ainda existem demasiadas injustiças e discriminações. "Muitos dizem que o próprio Nelson Mandela devia ter feito mais pela estabilidade económica do país", afirma o jornalista de Wet. "Em vez de retirar o poder económico às elites brancas, diz-se que ele teria contribuído para a situação que vivemos hoje na África do Sul. A falta de oportunidades, a pobreza: tudo isso se verifica hoje."
O antigo Presidente sul-africano, Jacob Zuma, prometeu transformar radicalmente o sistema económico - chegou mesmo a falar numa "revolução económica" - mas assustou, com este discurso, potenciais investidores estrangeiros. Zuma nunca chegou a transformar o sistema - terá tentado aproveitar-se dele pessoalmente, nota de Wet.
Nova era, caras conhecidas
Nos últimos anos, o ANC tem perdido cada vez mais militantes, cansados da corrupção crescente no país e da falta de renovação partidária. Tal como Julius Malema, dirigente da juventude do ANC até 2012, muitos jovens sul-africanos viraram as costas ao partido. Malema lidera agora os Combatentes pela Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês), o terceiro partido mais votado nas eleições legislativas de 2014.
Agora, a nova era África do Sul começa com Cyril Ramaphosa na Presidência. Os desafios são enormes, mas muitos sul-africanos estão confiantes: "Ramaphosa vai ser bom para o nosso país, para a economia, para cada um de nós, negros e brancos", afirmou Sipho Ngwanye, um jovem de 23 anos. "É um recomeço, vamos começar uma nova vida."
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.