Comerciantes temem o aumento do desemprego e a perda de parte dos negócios com a nova lei do álcool sancionada pelo Presidente Jorge Carlos Fonseca. Lei proíbe venda de bebidas alcoólicas em quiosques e barracas.
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A contestada nova lei do álcool entrou em vigor este sábado (05.10) em Cabo Verde com muitos comerciantes a recear a perda de grande parte dos seus negócios e a temer o aumento do desemprego.
A nova lei proíbe a venda de bebidas alcoólicas em quiosques, barracas e cantinas, além do consumo na via pública e nos locais de trabalho públicos e do setor privado. A venda de bebidas alcoólicas é também proibida a menores de 18 anos.
"Vinho, cerveja, aguardente, tudo isso vai ser proibido. Podemos ficar apenas com sumo e água", lamentou em declarações à agência Lusa a comerciante Marisa Tavares Gonçalves, que gere um quiosque no Sucupira, o maior mercado a céu aberto de Cabo Verde, situado na cidade da Praia.
"Para não prejudicar muito, pelo menos deveriam proibir apenas aguardente, e deixar vinho e cerveja, para acompanhar o almoço", sugeriu Marisa, garantindo que se o negócio não render, o único remédio vai ser fechar as portas.
A nova lei foi aprovada pelo Parlamento cabo-verdiano em março e promulgada a 1 de abril pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, promotor da campanha "Menos Álcool, mais Vida", que visa contribuir para a diminuição do uso abusivo e da dependência do álcool no país.
O vice-primeiro-ministro cabo-verdiano, Olavo Correia, disse que o Governo e o Parlamento vão analisar os resultados concretos da implementação da lei para tomar alguma posição. "Vamos acompanhar a implementação da lei. Como qualquer político modesto, quando se aprova uma lei, temos de estar atentos para analisar os resultados da sua aplicação e em função desses resultados podemos falar sobre o assunto", declarou.
"Fechar as portas"
O taxista Adilson Ferreira, que trabalha entre as sete horas da noite e as sete horas da manhã, disse que vai ser "obrigado" a fechar o expediente mais cedo, porque o movimento nas ruas e nos estabelecimentos de diversão noturna vai reduzir.
"Vamos ver todas as situações, porque a IGAE [Inspeção Geral das Atividades Económicas] está no terreno, juntamente com os policiais. Vamos ver se as propostas vão ao encontro das nossas expetativas. Se piorar, preferimos fechar para não ficarmos com problemas", sublinhou.
Em vez de proibir o consumo por meio de uma lei, o jovem cabo-verdiano sugeriu ao Governo maior fiscalização e mais rigor e qualidade na produção de bebidas alcoólicas no país.
A comerciante Ana Paula Fernandes não tem dúvidas que muitos colegas vão ficar prejudicados com a nova lei. "Por isso, peço a quem de direito para ir ao terreno para ver, ou quem que aprovou a lei para se consciencializar um pouco, porque muita gente está revoltada", disse.
A lei proíbe igualmente a disponibilização de bebidas alcoólicas em máquinas automáticas, em postos de abastecimento de combustível localizados nas estradas ou fora das localidades e a quem se apresente notoriamente embriagado ou aparente ser portador de anomalia psíquica.
A venda ambulante e qualquer forma de publicidade de bebidas alcoólicas, a venda e colocação à disposição de bebidas alcoólicas em clubes, salas ou recintos desportivos, festas académicas, comícios e eventos de frequência de jovens e menores também estão proibidos.
Os dez músicos brasileiros que mais se empenharam para fazer a ponte África-Brasil
A música torna-se um dos maiores aliados para eliminar diferenças e polémicas como, por exemplo, se o samba é brasileiro ou de Angola. Estes dez artistas colocam África em destaque de forma inovadora e revolucionária.
Foto: W. Montenegro
Viagens em livros e muita música
Martinho da Vila faz um verdadeiro manifesto anti-racista no livro "Kizombas, Andanças e Festanças", lançado pela primeira vez em 1972. O cantor e compositor, que assina alguns dos maiores sucessos da música brasileira, aparece no topo da lista dos músicos brasileiros que mais contribuíram para a ponte Brasil-África de acordo com diferentes instituições e especialistas ouvidos pela DW África.
Foto: Getty Images/R. Dias
"Marrom" graças ao amor pelas origens
Alcione Dias Nazareth, a Marrom, viajou diversas vezes para apresentações em países africanos, como Angola e Moçambique. Depois de 25 anos sem ir a Cabo Verde, a maranhense fez uma apresentação, em 2011, para celebrar os seus 40 anos de carreira. Do arquipélogo, inclusive, gravou "Regresso" (Mamãe Velha), composição histórica de Agostinho José que usou um poema de Amílcar Cabral.
Foto: Getty Images/F.Calfat
Sons e política em oração
Gilberto Gil, músico e ex-ministro da Cultura do Brasil, procurou desconstruir equívocos na música "Mão da Limpeza", em 1983, levando em conta o pejorativo termo de que "negro quando não suja na entrada, suja na saída". Cantada ao lado de Chico Buarque, valoriza a contribuição dos afro-brasileiros na gastronomia e cultura brasileiras. Em 1985, lançou a "Oração Pela Libertação da África do Sul".
Foto: FAO/Giulio Napolitano
"A carne mais barata do mercado é a carne negra"
Elza Soares é militante assumida numa carreira de mais de 60 anos e apresenta em muitas das suas músicas a realidade do negro, tomando como ponto central a mulher. Nascida na favela da Moça Bonita, Rio de Janeiro, em 1937, Elza não perde oportunidade para gravar canções como "A Carne", de Seu Jorge, Marcelo Yuca e Wilson Capellette. O mais recente trabalho é "A Mulher do Fim do Mundo" (2016).
Foto: Getty Images/K.Betancur
Composições e inspiração para novos artistas
Mateus Aleluia (esq.) morou 20 anos em Angola e sempre procurou ligações com outros artistas para dar vida à África perdida na história do Brasil. O músico nascido no estado brasileiro da Bahia inspira trabalhos de nomes como Carlinhos Brown, Nação Zumbi e Cidade Negra. Aleluia integrou o legendário "Tincoãs", nos anos 1970. Na foto, está ao lado de Bule-Bule (centro) e Raimundo Sodre (dir).
Foto: picture-alliance/ dpa/S.Creutzmann
Morena de Angola, Moçambique e Brasil
Clara Nunes (1942-1983) fascina quem pesquisa sobre o Brasil e está em África. O inédito nela é ter cantado sobre elementos fora do dia-a-dia das pessoas, como em "Mãe África", do marido Paulo César Pinheiro e Sivuca. Foi desta forma que rompeu paradigmas, vendendo mais de 100 mil cópias. É retratada no documentário Clara Estrela (2017), dirigido pelos brasileiros Susanna Lira e Rodrigo Alzugui.
Foto: W. Montenegro
O Sul do mundo em lágrimas
Milton Nascimento compôs a Missa dos Quilombos, em 1981, para denunciar as consequências da escravidão e do preconceito no Brasil. Criado por pais adotivos brancos, impulsionou a criação dos Tambores de Minas, nos anos 1990, e trabalhou com projetos envolvendo novos talentos. Com mais de 50 anos de carreira, escreveu Lágrima do Sul, ao lado de Marco Antônio Guimaraes, do grupo Uakti.
Foto: picture-alliance/dpa/M.Cruz
Afro-brasileiro fora da África e do Brasil
Desde o início da sua carreira, nos anos 1960, Jorge Ben Jor manteve-se mais próximo dos aspectos afro-brasileiros, afastando-se da Bossa Nova que dominava a cena musical brasileira. O guitarrista, cantor e compositor gravou "África Brasil", em 1976. É deixando-se ser marcado por esta influência que se apresenta em diversos pontos do planeta, como no Festival de Montreux, na Suíça (foto).
Foto: picture-alliance/dpa/S.Campardo
Sem dar adeus à Àfrica
Naná Vasconcelos (1944-2016) já começou sua carreira intitulando o primeiro disco de "Africadeus", em 1973. Respeitado no mundo inteiro por valorizar as culturas africana e negra em seu trabalho, ganhou oito prémios Grammy. De 1983 a 1990, foi o Melhor Percussionista do Ano, da revista Down Beat. Em 2010, o pernambucano reuniu meninas e meninos de Angola, Brasil e Portugal no projeto Língua Mãe.
Foto: picture-alliance/dpa/S.Moreira
Revolução em lugares inesperados
Já no início da carreira, nos anos 1960, Maria Bethânia fazia invocações africanas e revolucionou aglutinando dois continentes dentro de boates! Com uma trajetória sólida, em 1986, gravou com o grupo sul-africano Lady Smith Black Mambazo. Ao lado de Mingas, Mia Couto e Agualusa, a intérprete baiana acaba de lançar o documentário "Karingana, Licença para Contar" (2017), de Monica Monteiro.