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Nova ofensiva: Rússia quer semear "terror psicológico"

10 de outubro de 2022

Em entrevista à DW, o jornalista e historiador José Milhazes defende que a Rússia quer semear o "terror psicológico" para forçar Kiev a conversações de paz sob as suas condições.

Cenário de destruição esta segunda-feira (10.10) na capital ucraniana, KievFoto: Adam Schreck/AP Photo/picture alliance

A Rússia bombardeou esta segunda-feira (10.10) as regiões ucranianas de Kiev, Khmelnytskiy, Lviv, Dnipro, Vinnitsia, Zaporijia, Sumy, Kharkiv e Jitomir, provocando dezenas de feridos e mortos, bem como cortes de energia. A capital ucraniana não era atacada desde 26 de junho.

Os ataques aconteceram dois dias depois de uma explosão sobre a ponte que liga a Rússia e a Crimeia, e o Presidente russo já admitiu que ordenou os bombardeamentos.

Vladimir Putin prometeu "respostas severas" em caso de novos "ataques terroristas" contra a Rússia.

Em entrevista à DW África, o jornalista e historiador José Milhazes acredita que esta ofensiva é um aviso de Putin que não permitirá qualquer ataque a territórios russos. Milhazes defende ainda que a Rússia quer semear o "terror psicológico" para forçar Kiev a conversações de paz nas condições que quer impor.

Jornalista e historiador, José MilhazesFoto: DW/J.Carlos

DW África: Quais são as reais intenções da Rússia com estes novos ataques?

José Milhazes (JM): Uma delas, é claro, é dirigida para o mundo e para os cidadãos russos, de que a Rússia sabe responder de forma dura e assimétrica quando algum "edifício" no seu território é atacado. Neste caso, a ponte que liga a Rússia à Crimeia. Putin tinha que reagir porque as vozes críticas já eram muitas. Eram também muitos os que pediam retaliação, sangue e o bombardeamento das cidades ucranianas, a destruição de infraestruturas vitais e a destruição dos chamados centros do poder. E foi o que aconteceu na última madrugada e esta manhã, em praticamente todo o território da Ucrânia.

DW África: Olhando para estes últimos acontecimentos, pode-se dizer que são também uma espécie de aviso de que, se houver algum ataque - inclusive nas regiões que recentemente foram proclamadas como áreas russas - a resposta também será dura…

JM: Claro que sim. No entanto, surge outro problema, que é o da capacidade que as tropas russas terão para realizar operações militares, porque neste momento está em guerra nas regiões que diz serem regiões russas, embora uma parte continue na mão dos ucranianos. Aí tem lugar uma verdadeira guerra.

Mas, se nessa região, a Rússia vai passar a uma contraofensiva ou a forte ataque, é isso que temos de ver.

Ataques um pouco por toda a Ucrânia resultaram em dezenas de feridos e mortosFoto: Gleb Garanich/REUTERS

DW África: Nos últimos dias ressaltou-se que a Rússia estaria a perder força no teatro operacional na Ucrânia. Esta nova ofensiva é uma demonstração da força de Putin e de que esta não foi abalada?

JM: Sim, claro que também é isso. No meio de tantas derrotas e do aumento do avanço das tropas ucranianas para leste e sul, é natural que a Rússia tenha que reagir. E o que aconteceu hoje penso que é apenas o emprego de mísseis contra cidades ucranianas como fator de terror psicológico. O que as tropas russas tentaram fazer foi lançar o caos e o terror nessas grandes cidades.

DW África: Este "terror psicológico" que a Rússia estará a tentar impor é para fazer com que a população se vire contra Kiev, por exemplo?

JM: Exatamente. Ou então para fazer com que peça conversações de paz nas condições que a Rússia quer impor. Mas, do que conheço dos ucranianos, creio que vão aguentar.

DW África: Tendo em conta os últimos desenvolvimentos, o que podemos perspetivar para os próximos dias?

JM: Acho que vamos assistir a um aumento da tensão, um aumento dos combates. E é uma guerra cada vez mais acesa e mais intensa.

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