Distúrbios deixaram rasto de destruição nos arredores de Joanesburgo. Várias lojas foram saqueadas, montras partidas e carros queimados no bairro de Malvern, onde a maioria dos negócios está nas mãos de estrangeiros.
Publicidade
"Ligaram-me a dizer que havia pessoas a invadir a minha loja. Quando cheguei, todos os acessos estavam bloqueados e eles estavam aqui em grande número. Fiquei ali a assistir ao que estava a acontecer. Queimaram carros, saquearam lojas. Foi de facto um caos. Nunca vi nada assim desde que me lembro de ser pessoa". O relato é de um nigeriano que pede para não ser identificado. É uma das vítimas da mais recente onda de ataques xenófobos na África do Sul.
A situação permanece tensa. No mês passado, várias mensagens circularam nas redes sociais alertando os estrangeiros para a eminência de ataques caso não abandonassem o país até 31 de agosto.
Samantha Pillay é sul-africana, mas o cunhado é estrangeiro e tem uma loja no leste de Joanesburgo que também foi saqueada. A jovem pede ao Governo que coloque o exército a patrulhar a área. "Não há nada na loja. Não há absolutamente nada. Está tudo partido no chão, queimado... Ouviram-se tiros, carros incendiados. As lojas também foram queimadas. Essas pessoas chegam em batalhões e são mais do que os polícias. Já não já nada na rua Jules. É uma espécie de campo de retiro do Diabo, porque já lá não existe nada", afirma.
Três mortos e cem detidos
Nova onda de ataques xenófobos na África do Sul
A polícia da África do Sul confirmou na segunda-feira (02.09) a detenção de 100 pessoas, após a pilhagem de estabelecimentos comerciais nos arredores de Joanesburgo. Em comunicado, as autoridades referem que "os incidentes eclodiram na semana passada em Pretória, na sequência do homicídio de um condutor de uma carrinha táxi por um traficante de droga".
Segundo a polícia, os confrontos dos últimos dias provocaram a morte de pelo menos três pessoas. O porta-voz do comando de Joanesburgo Mavele Masondo não garante no entanto que as detenções sejam apenas por agressão a cidadãos estrangeiros: "Não podemos confirmar que as detenções estão relacionadas com os ataques a estrangeiros porque, se dermos como exemplo, uma das lojas que foi danificada ou incendiada é a Pep's Store. Temos uma Shoprite que também foi danificada".
Ao que parece, estes estabelecimentos que pertencem a sul-africanos também não escaparam à fúria dos revoltosos.
A polícia está ainda a investigar um caso de homicídio em Hillbrow, no centro de Joanesburgo, onde um homem foi alegadamente morto a tiro durante uma concentração de pessoas.
Entretanto, os ataques a estrangeiros alastraram a outras localidades das províncias de Gauteng e de KwaZulu-Natal.
África do Sul: Comida que é um perigo para a saúde
Pelo menos, metade dos sul-africanos tem excesso de peso. Muitas pessoas, sobretudo nas zonas mais pobres, consomem comida "fast food". A DW visitou o bairro de Hillbrow, em Joanesburgo.
Foto: Lungile Hlatshwayo
'Fast food' famosa
Nos bairros mais pobres da África do Sul, o "kota" é quase uma comida básica para miúdos e graúdos. Trata-se de pão torrado com batatas fritas e queijo e enchidos processados. É barato e enche. O preço depende do que leva; varia entre o equivalente a 30 e 90 cêntimos de euro.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Comida barata e perigosa
Mas o valor nutricional do "kota" deixa muito a desejar. E, para poupar, os vendedores costumam mudar poucas vezes o óleo. No ano passado, o pior surto de listeriose de sempre matou 183 pessoas - a bactéria foi encontrada numa "salsicha" artificial.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Pobreza e desnutrição
Comida pouco saudável - com poucos nutrientes, mas muita gordura, açúcar e sal - está a causar uma nova epidemia na África do Sul e noutros países em desenvolvimento. Má alimentação provoca obesidade e pode levar a mais complicações, como diabetes, cancro e doenças cardiovasculares, responsáveis por metade das mortes prematuras na África do Sul.
Foto: Lungile Hlatshwayo
46% de carne
A comida pouco saudável é mais barata. Neste supermercado, um quilo desta salsicha processada custa o equivalente a três euros. Mas se olharmos para a lista de ingredientes, é isto que aparece: 46% de carne de porco e frango "desossada à máquina". O resto é água, estabilizantes, amido e aditivos químicos.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Xima vs. muesli
Aqui, "o que se vende melhor é a Mealie Meal", diz o gerente do supermercado. Em muitas famílias, a xima (funge) é algo que se come a todas as refeições. Muitos clientes compram também leite de longa duração e açúcar. Mas em supermercados de zonas mais ricas, as prateleiras estão recheadas com outros produtos: flocos de cereais com frutos secos, arroz, massa e pão. Mais caros.
Foto: Lungile Hlatshwayo
"'Pap' to go"
A xima, ou "pap", como se diz aqui, é a base da alimentação dos mais pobres. "Comemos sobretudo 'pap'", afirma Thema Masuku, um cliente de um restaurante em Hillbrow, um bairro de Joanesburgo. "Comemos 'pap' e carne, que é o que as pessoas daqui conseguem comprar". Mas muitas não sabem que este tipo de alimentação é pouco rico em nutrientes, e isso pode ter consequências para a saúde.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Novos hábitos alimentares
Nos últimos anos, os hábitos alimentares mudaram em muitos países em desenvolvimento. As pessoas comem sobretudo refeições já feitas ou alimentos processados industrialmente. Em muitos desses países, a cozinha tradicional tem sido colocada a um canto, tanto por miúdos como por graúdos. Aqui, em Hillbrow, depois da escola terminar, os jovens costumam fazer fila para comprar "kotas".
Foto: Lungile Hlatshwayo
O perigo aumenta
Diabetes, ataques cardíacos ou hipertensão não eram frequentes em África. Mas o cenário está a mudar rapidamente. Os ingredientes do "kota" - gordura, açúcar e sal - provocam esse tipo de problemas. A Organização Mundial de Saúde estima que, em 2030, estas doenças serão a principal causa de morte.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Vegetais, mas poucos
"Mesmo quando as pessoas compram vegetais, cozinham-nos de forma pouco saudável", diz Thandi Puoane, da Universidade do Cabo Ocidental. Num dos seus estudos, a universidade descobriu que muitas pessoas cozinham espinafres, tomates ou couve com restos de carne e muita gordura. E intensificadores de sabor. Ou seja, comida que poderia ser saudável pode transformar-se numa bomba de calorias.
Foto: Lungile Hlatshwayo
Único prato do menu
"Mama Dombolo" é um restaurante em Hillbrow. E aqui só há um prato no menu: "pap" com "matambo", ensopado de ossos de carne de vaca. Normalmente é acompanhado de uma porção de "morogo", espinafres africanos. Em suma, um prato pouco nutritivo, como noutros locais que vendem comida neste bairro.