Nova ronda de negociações sobre barragem do Nilo Azul
Lusa
3 de janeiro de 2021
Sudão anunciou que participará hoje (3.1) numa nova ronda de negociações com Egito e Etiópia sobre a controversa barragem do Nilo Azul, noticiou agência oficial Suna. Últimas conversações terminaram sem progressos.
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As negociações entre os três países sobre este projeto etíope, lançado em 2011 e destinado a tornar-se a maior instalação hidroelétrica em África, estão bloqueadas há meses. As últimas conversações, realizadas por videoconferência no início de novembro, terminaram sem progressos.
"O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Omar Qamareddine, e o Ministro da Água, Yasser Abbas, participarão numa reunião ministerial de negociações sobre a Grande Barragem Etíope do Renascimento (GERD, na sigla em inglês)", adiantou a Suna.
O encontro será mediado pela África do Sul, atualmente à frente da presidência rotativa da União Africana (UA).
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"Papel mais importante"
O Sudão irá propor que seja atribuído aos peritos da União Africana "um papel mais importante" nas negociações para alcançar um acordo vinculativo sobre o enchimento e o funcionamento da barragem, acrescentou Suna, citando, sob anonimato, um funcionário sudanês.
O projeto da GERD lançado pela Etiópia, está a causar tensões, em particular com o Egito, um país de mais de 100 milhões de habitantes que depende em 97% do Nilo para o seu abastecimento de água.
Cairo e Cartum, que se situam a jusante do rio, querem um acordo juridicamente vinculativo sobre a gestão da barragem e sobre o calendário de enchimento do reservatório, temendo que se for demasiado rápido possam ser privados da água que precisam.
Addis Abeba, por seu lado, considera a barragem essencial para o seu desenvolvimento, fez saber que pretende avançar com o enchimento do reservatório no mais curto espaço de tempo, e está relutante em assinar o acordo, mantendo que o abastecimento de água aos restantes países não será afetado.
Grande risco
O Sudão, que sofreu inundações mortais no verão passado, espera que a barragem ajude a regular o fluxo do rio, mas também avisou que milhões de vidas estariam em "grande risco" se não se chegasse a um entendimento.
As tensões entre os países vêm aumentando desde o início do verão, tendo o Egito endereçado queixas ao Conselho de Segurança da ONU em junho.
Para além do patrocínio da União Africana, as discussões estão também a ser acompanhadas pela União Europeia (UE), o Fundo Monetário Internacional (FMI), os Estados Unidos e o Banco Mundial.
O Nilo, que percorre cerca de 6 mil quilómetros, é uma fonte vital de água e eletricidade para 10 países da África Oriental.
A possível retoma das negociações foi já saudada pela União Europeia que considera que, a realizar-se, a reunião "oferece uma importante oportunidade de progresso no sentido de um acordo sobre o enchimento e operações afins da barragem".
"Como observador das conversações, a União Europeia encoraja todas as partes a mostrar vontade política para se envolverem nesta ronda de conversações num espírito construtivo e aberto", adiantou, em comunicado, a diplomacia europeia.
As maiores barragens de África
Nilo, Congo, Zambeze: os rios africanos guardam grande potencial para a produção de energia. Os governos reconhecem isso e apostam cada vez mais em megaprojetos. Um panorama das maiores centrais hidroelétricas de África.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Grande Represa do Renascimento, na Etiópia
No sudoeste da Etiópia, está a ser erguida aquela que será a maior barragem de África. A construção da Grande Represa do Renascimento começou em 2011 e deve ser concluída em 2017. A barragem localiza-se perto da fronteira com o Sudão, no Nilo, e terá uma potência de 6.000 megawatts (MW). O reservatório será um dos maiores do continente, com capacidade para armazenar 63 quilômetros cúbicos de água.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Represa Alta de Assuão, no Egito
A Represa Alta de Assuão é atualmente a barragem mais potente de África. Está localizada perto da cidade de Assuão, no sul do Egito. O lago atrás da barragem pode armazenar até 169 quilómetros cúbicos de água. Seu maior afluente é o Rio Nilo. As turbinas têm uma capacidade de 2.100 megawatts. A construção durou onze anos e a inauguração foi em 1971.
Uma das maiores barragens do mundo está localizada na província de Tete. A hidroelétrica Cahora Bassa, no rio Zambeze, tem uma potência de 2.075 megawatts, pouco menos que a Represa Alta de Assuã, no Egito. A maior parte da energia gerada é exportada para a África do Sul. No entanto, sabotagens durante a guerra civil impediram a produção de eletricidade por mais de dez anos, a partir de 1981.
Foto: DW/M. Barroso
Represa Gibe III, na Etiópia
A barragem Gilgel Gibe III fica 350 quilômetros a sudoeste da capital etíope, Addis Abeba. Foi concluída em 2016 e pode gerar um máximo de 1.870 megawatts, tornando-se a terceira maior barragem em África. A construção durou quase nove anos e foi financiada a 60% pelo Banco de Exportação e Importação da China, China Exim Bank.
Foto: Getty Images/AFP
Kariba, entre a Zâmbia e o Zimbabué
A barragem de Kariba fica na garganta do rio Zambeze, entre a Zâmbia e o Zimbabué. Tem 128 metros de altura e 579 metros de comprimento. Cada país tem sua própria central eléctrica. A estação norte, da Zâmbia, tem capacidade total de 960 megawatts. A estação sul, do Zimbabué, tem capacidade total de 666 megawatts. As obras de expansão em 300 megawatts começaram em 2014 e devem terminar em 2019.
Foto: dpa
Inga I e Inga II na RDC
As barragens Inga consistem de duas represas. Inga I tem capacidade para produzir 351 megawatts e Inga II, 1424 megawatts. Foram encomendadas em 1972 e 1982, como parte do plano de desenvolvimento industrial do ditador Mobutu Sese Seko. Mas, atualmente, atingem apenas 50% de seu potencial energético.
Foto: picture-alliance/dpa
Inga III
Inga I e Inga II localizam-se perto da foz do rio Congo e ligadas às cataratas Inga. O governo congolês já planeia o lançamento de Inga III, com custo de 13 mil milhões de euros e capacidade de 4.800 megawatts. Juntas, as três barragens seriam a central hidroelétrica mais potente de África.
Merowe no Sudão
O Sudão também depende fortemente de energia eólica com duas grandes barragens no país: Merowe no Rio Nilo (na foto) tem uma capacidade de 1.250 MW e foi construída por uma empresa chinesa. Ainda maior é a barragem de Roseires no Nilo Azul, que desde a sua construção em 1966 foi várias vezes ampliada e conta atualmente com turbinas que têm uma potência total de 1.800 MW.
Foto: picture-alliance/dpa
Akosombo, no Gana
A oitava maior barragem de África é Akosombo, no Gana. Construída na garganta do Rio Volta, a represa teve como resultado o Lago Volta - o lago artificial do mundo, com área de 8.502 quilómetros quadrados. As seis turbinas têm uma capacidade combinada de 912 megawatts. Além de gerar eletricidade, a barragem também protege contra inundações.
Foto: picture-alliance / dpa
Represa Tekezé, na Etiópia
Outra represa grande de África está localizada na Etiópia. A barragem Tekeze encontra-se entre as regiões de Amhara e Tigré. Apesar de seus impressionantes 188 metros de altura, a capacidade máxima da hidrelétrica é de 300 megawatts e, assim, apenas um vigésimo da potência da Grande Represa do Renascimento. A represa entrou em funcionamento em 2009.