Novas salas de aulas para 8.400 alunos em Moçambique
Lusa
17 de junho de 2021
Um total de 8.357 alunos passam a ter aulas em salas convencionais em dois distritos de Manica, centro de Moçambique, com a entrega de 11 escolas reabilitadas, depois dos danos causados pelo ciclone Idai, em 2019.
Publicidade
As crianças tinham aulas ao relento ou em barracas precárias nos distritos de Gondola e Macate depois do ciclone Idai, em 2019, e recebem agora escolas construídas à prova de ciclones e com autonomia elétrica, graças a painéis solares.
As 11 escolas, oito reabilitadas e três construídas de raiz, fazem parte da última intervenção da organização não-governamental (ONG) internacional Save The Children em resposta ao impacto do Idai.
O objetivo é assegurar que todas as crianças tenham "o direito de receber um ensino de qualidade e inclusivo", segundo a diretora da organização na província de Manica, Ana Dulce Guizado.
As infraestruturas de ensino estão entre as mais afetadas pelo Idai, de tal forma que ainda hoje se sentem os efeitos, pelo que a ONG disponibilizou também 935 carteiras para as salas de aula.
Combater abandono escolar
As autoridades locais esperam que as escolas renovadas sirvam para combater o abandono escolar, referiu o porta-voz da direção provincial de Educação de Manica, João Tricamo.
Sem infraestrutura, distritos de Manica ficam isolados
01:36
As novas salas vão evitar paragens que aconteciam "sempre que chovesse ou houvesse mau tempo", referiu.
O Conselho Executivo Provincial prevê este ano construir mais 40 salas de aulas para o ensino primário e 10 para o secundário com o apoio de vários parceiros, além da distribuição de 6.675 carteiras, referiu a governadora de Manica, Francisca Tomas.
"Está em curso a construção de 43 espaços temporários para minimizar o défice de salas de aulas (resultante da redistribuição de turmas devido à covid-19), estando para breve o início das obras de construção de 71 salas mistas, aproveitando o material local", acrescentou.
O ciclone Idai atingiu o centro de Moçambique em março de 2019, provocou 604 mortos e 1,8 milhões de pessoas foram afetadas. Foi um dos ciclones mais mortíferos de que há registo no hemisfério sul, com ventos fortes e inundações cujos prejuízos sociais e económicos ainda hoje se sentem.
Ciclone Idai: Viver numa tragédia
Centenas de milhares de pessoas precisam de ajuda urgente no centro de Moçambique, depois do ciclone Idai. Enquanto buscas por vítimas continuam, desalojados sobrevivem como podem.
Foto: DW/B. Jequete
Famílias refugiam-se no asfalto após ciclone
Depois do ciclone Idai, 40.000 pessoas precisam de ajuda na província de Manica, centro de Moçambique. Milhares ficaram sem casa e dezenas de famílias preferem acomodar-se no asfalto da EN6 do que ir para os centros de acomodação do Governo. Dizem que aqui é mais seguro, porque alguns centros estão lotados. Trouxeram para aqui os pertences que conseguiram resgatar, incluindo pilões para o milho.
Foto: DW/B. Jequete
Há casas inundadas até hoje
A extensão da devastação do ciclone Idai é grande. O Governo moçambicano estima que o ciclone destruiu uma área superior a 3.000 quilómetros quadrados. Mais de 90 mil casas foram afetadas; 50 mil ficaram totalmente destruídas. Muitas casas, construídas em zonas pantanosas, continuam inundadas quase duas semanas depois da passagem do ciclone. As autoridades tentam drenar as águas, mas é difícil.
Foto: DW/B. Jequete
Pobres ainda mais pobres
Milhares de pessoas estão em vários centros de acomodação. Quem tem casas de alvenaria foi menos afetado pelo ciclone do que outros cidadãos, com casas precárias, que perderam praticamente tudo e vieram para aqui. Rosa Ferro, uma anciã no centro de acomodação de Matarara, no distrito de Sussundenga, diz que nunca viu algo assim: "O ciclone Idai devastou tudo o que tínhamos. Reduziu-nos a zero."
Foto: DW/B. Jequete
Cada um por si, Deus por todos
No centro de acomodação de Matarara, muitas vezes o lema é "cada um por si e Deus por todos". Cada família cozinha o que tem, e as que não têm comida, na sua maioria, não são servidas quando chega a hora da refeição.
Foto: DW/B. Jequete
Apoio a vítimas vai chegando
O apoio às vítimas do ciclone Idai tem chegado à província de Manica. Tanto apoio de fora, como de dentro de Moçambique. A rede italiana de organizações não-governamentais AIFO acaba de apoiar as vítimas do Idai com víveres e material escolar. A AIFO desembolsou dois mil euros para a compra de donativos para desalojados em dois centros de acomodação.
Foto: DW/B. Jequete
40 toneladas de ajuda
Uma associação de caridade constituída por empresários em Manica, chamada "The All Heart Foundation", já disponibilizou 40 toneladas de produtos básicos, incluindo alimentos, para as vítimas do ciclone Idai nas províncias de Sofala e Manica. Mussa Laher, representante da associação, disse estar a receber o apoio de outros empresários, que ficaram sensibilizados com a causa.
Foto: DW/B. Jequete
Chima com feijão
Nos centros de acomodação, a chima com feijão é o prato mais cozinhado. Não há outra alternativa. As doações que mais chegam aqui são precisamente a farinha de milho e o feijão. Quem não consegue comer, porque está doente, passa fome.
Foto: DW/B. Jequete
Buscas continuam
As buscas por sobreviventes continuam tanto na província de Manica, como na província de Sofala. Só em Manica morreram, pelo menos, 148 pessoas devido ao ciclone Idai. 60 pessoas continuam desaparecidas, segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC). Vários parceiros de cooperação têm dado apoio nas buscas. Os abutres também têm ajudado a encontrar cadáveres.
Foto: DW/B. Jequete
Utentes da EN6 já respiram de alívio
A EN6, que liga as províncias de Manica e Sofala, já está desbloqueada. Foram feitos desvios, para que os carros pudessem passar. Até domingo passado (24.03), a passagem era feita através de barcaças ou moto-táxis, que cobravam taxas altíssimas.
Foto: DW/B. Jequete
Água dura em pedra dura…
Ninguém pensava que o projeto de ampliação e reabilitação da EN6 acabaria assim. Depois do ciclone Idai, a fúria das águas destruiu quase todas as infraestruturas. Até as pontes tombaram.
Foto: DW/B. Jequete
Sem aulas
A Escola Primária e Completa de Inchope ficou sem tecto devido ao ciclone Idai. Todos os documentos ficaram ensopados, incluindo os processos dos alunos e certificados. Mais de 3 mil alunos estão sem aulas.
Foto: DW/B. Jequete
Perigo de vida
As dezenas de pessoas que estão a viver na EN6 fizeram do asfalto o seu pátio de sua casa. Debulham o milho ou estendem a roupa paredes meias com as viaturas - e correm perigo de vida. Se uma viatura perde a direcção, pode varrer as cabanas à beira da estrada e matar alguém.