Brasil: Nove mortos em rutura de barragem em Minas Gerais
Marina Costa | EFE | Lusa | rl
26 de janeiro de 2019
O desastre aconteceu, esta sexta-feira (25.01), em Brumadinho, Minas Gerais. Presidente da empresa mineradora Vale, proprietária da barragem, diz desconhecer ainda as causas do acidente.
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Pelo menos nove pessoas morreram e entre 200 e 300 estão desaparecidas na sequência da rutura de uma barragem da empresa mineira brasileira Vale em Brumadinho, Minas Gerais, no Brasil. Este é o balanço mais recente do Corpo dos Bombeiros, dá conta o jornal Globo.
Em comunicado, a mineradora Vale, que também conta com atividades em Moçambique, afirmou que foi ativado um plano de emergência e destacou que a prioridade é preservar e proteger "a vida de empregados e de integrantes da comunidade".
A rutura da barragem, cujas causas são ainda desconhecidas, causou um rio de lama e de resíduos minerais, soterrando as instalações da empresa e destruindo diversas casas na zona. A maioria das pessoas que se encontram desaparecidas estavam, no momento do desastre, no restaurante, que ficou soterrado.
Numa conferência de imprensa, Fábio Schvartsman, presidente da Vale, afirmou que, no momento do desastre, estavam 300 funcionários na empresa. "Não sabemos o que aconteceu com a barragem. É muito cedo para ter essa informação", disse Schvartsman, acrescentando que a tragédia humana será muito maior do que foi Mariana".
Há quase três anos, uma das barragens da empresa Samarco, controlada pelos acionistas Vale e BHP, rebentou na cidade de Mariana, no estado de Minas Gerais, originando uma torrente de lama que destruiu fauna, flora e construções ao longo de 650 quilómetros. Um desastre que causou 19 mortos, além de ter deixado desalojadas milhares de famílias. Ninguém foi preso como responsável por aquela que foi a maior catástrofe ambiental do Brasil. Três anos depois, os atingidos ainda aguardam a reparação dos danos.
Atividade suspensa
A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais já decretou a suspensão imediata de todas as atividades da mineradora Vale na região de Brumadinho. A justiça brasileira determinou também o bloqueio de cerca de 232 milhões deuros das contas da empresa mineira. Segundo a imprensa brasileira, a decisão foi tomada pelo juiz da Vara de Economia Pública de Belo Horizonte Renan Carreira Machado em resposta a uma ação do Governo Estadual de Minas Gerais, na qual pedia a responsabilização da Vale pelo desastre que, até ao momento, matou nove pessoas.
"Evidenciado o dano ambiental, na espécie agravado pelas vítimas humanas, em número ainda indefinido, cabe registar que a responsabilidade da Vale S/A é objetiva (...)", declarou o juiz, acrescentando que concede "indisponibilidade e bloqueio de um bilhão de reais da Vale ou de qualquer uma das suas filiais indicadas [...] com imediata transferência para uma conta judicial a ser aberta especificamente para esse fim".
A decisão determina ainda que a Vale apresente num prazo de até 48 horas um relatório de socorro às vítimas, mapeie áreas de risco, comece a retirada da lama, adote medidas para não contaminar nascentes e elabore um plano de controlo de epidemias, segundo o jornal Folha de São Paulo.
Por sua vez, Romeu Zema, governador de Minas Gerais, considerou ser muito difícil resgatar pessoas com vida dos escombros. "A polícia, o corpo de bombeiros e os militares fizeram tudo para salvar os possíveis sobreviventes, mas sabemos que as hipóteses são mínimas e provavelmente apenas encontraremos os corpos", disse.
Já o presidente Jair Bolsonaro garantiu que o Governo vai "tomar todas as medidas ao seu alcance" para minimizar o sofrimento "dos familiares das possíveis vítimas" e também das questões ambientais.
"Tragédia anunciada”
Para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MBA), a rutura da barragem em Brumadinho era uma "tragédia anunciada". A organização não governamental salientou que, desde 2015, quando ocorreu a tragédia na cidade de Mariana, tem vindo a alertar para os riscos na mina em que ocorreu o acidente na barragem e cuja ampliação foi aprovada apesar das advertências. "Desde 2015 que inúmeras denúncias foram efetuadas sobre o risco de rompimento de barragens do complexo em Brumadinho, mas mesmo assim teve a sua ampliação aprovada pelo Conselho Estadual de Política Ambiental em dezembro passado", referiu a organização em comunicado.
Nampula: População de Angoche insatisfeita com contributos de mineradora chinesa
Contributos dados pela mineradora Haiyu Mozambique Mining Company não são suficientes, diz a população. Problemas relacionados com serviços básicos mantêm-se, não se antevendo melhorias.
Foto: DW/S. Lutxeque
Poucos benefícios para população
As populações de Angoche, considerada a terceira maior da província de Nampula e onde está instalada a mineradora chinesa Haiyu Mozambique Mining Company, continuam, depois de cerca de oito anos depois do início da exploração das areias pesadas, a enfrentar sérios problemas relacionados com serviços básicos, nomeadamente, acesso a água, corrente eléctrica e maus acessos rodoviários.
Foto: DW/S. Lutxeque
Comunidades pobres em zonas ricas
No distrito, as comunidades de Sangache, Murrua e Namue, são exemplo da pobreza extrema que assola esta região de exploração de minérios. As habitações são, maioritariamente, de construção precária, feitas com base em tijolos menos resistentes, paus e folhas de coqueiros.
Foto: DW/S. Lutxeque
Muita produção para pouco retorno
A mineradora chinesa iniciou a exploração das areias pesadas em Sangache, em 2010. E, até à data, a produção continua em alta, apesar da oscilação dos preços no mercado internacional. No entanto, a população diz continuar a não ver o retorno da exportação dos valiosos minerais explorados nas suas terras, como são o ilmenite e o zircão.
Foto: DW/S. Lutxeque
Défice de água potável
A água potável de qualidade e em quantidade, para consumo humano, é um dos problemas que tira o sossego aos milhares de habitantes destas regiões. Nos populosos bairros de Murrua e Namue, por exemplo, existem poucos furos de água potável, apesar de, nos últimos meses, a mineradora ter construído dois poços.
Foto: DW/S. Lutxeque
Degradação de estradas
Outro dos problemas é a degradação das estradas. No interior do distrito de Angoche, assim como nas suas vias de acesso, desde Nampula, as estradas não estão em boas condições. São todas de terraplanagem e, consoante a estação do ano, apresentam poeira, buracos ou lamas. A população queixa-se de falta de sensibilidade da mineradora na resolução deste problema, que também afeta a sua atividade.
Foto: DW/S. Lutxeque
Reabilitação para benefício próprio
Para além de desiludidos com a empresa chinesa, os citadinos sentem-se também enganados. Enquanto a população se queixa das dificuldades provenientes do mau estado da estrada que liga Angoche a Nampula, a mineradora está a reabilitar um troço - inferior a dez quilómetros - que dá acesso ao porto local, de forma de facilitar o transporte dos produtos da sua fábrica ao porto.
Foto: DW/S. Lutxeque
Armazéns cheios
Nos armazéns da Haiyu Mozambique Mining Company, os produtos continuam a entrar e a capacidade de armazenamento revela-se cada vez mais esgotada. Não há espaço no interior do armazém da empresa, localizado no porto de Angoche. É daqui que saem os recursos que são exportados para o mercado internacional.
Foto: DW/S. Lutxeque
Pressão popular
Apesar das promessas, a contribuição das multinacionais para a população tem sido fraca. Os líderes comunitários dizem-se desapontados. À DW, Lopes Vasco, líder comunitário de Angoche, diz que estas empresas "não estão, até agora, a responder às suas obrigações. Não se justifica que as populações continuem pobres enquanto elas fazem muito dinheiro com os nossos recursos".
Foto: DW/S. Lutxeque
Iluminação
Depois de muita pressão por parte dos líderes comunitários, e depois de uma reunião com o governo, a mineradora celebrou, em setembro de 2018, um memorando para a criação de um plano estratégico de responsabilidade social para o período de 2017-2020. A construção desta Rede de Baixa Tensão, que custou cerca de dez milhões de meticais, cerca de 140 mil euros, foi uma das ações acordadas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mais emprego
Desde 2010, quando iniciou a sua atividade em Sangache, a empresa chinesa tem vindo também a apostar na mão-de-obra nacional, em detrimento da estrangeira, tendo já levado dezenas de moçambicanos para formação técnico-profissional na China. Atualmente, a empresa conta com 500 trabalhadores, dos quais apenas 30 são estrangeiros, na sua maioria de nacionalidade chinesa.
Foto: DW/S. Lutxeque
Melhorias na saúde
Além da abertura de alguns furos de água e expansão da corrente elétrica, a mineradora está também a dar o seu contributo ao setor da saúde. No final do ano passado, a Haiyu Mozambique Mining Company comprou uma ambulância equipada para as comunidades de Angoche, avaliada em mais de quatro milhões de meticais, cerca de 56 mil euros.