Há mais de 10 anos que o novo aeroporto de Luanda está em construção. Previa-se que fosse concluído este ano, mas uma equipa técnica detetou falhas e a conclusão foi adiada para 2022. Analistas pedem investigação.
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As obras do novo aeroporto de Luanda parecem não ter fim. Há mais de 10 anos que o novo aeroporto está em construção. Previa-se que fosse finalmente concluído este ano. Mas uma equipa técnica detetou falhas e a conclusão do projeto foi adiada para 2022.
Analistas ouvidos pela DW África querem saber em concreto o que se passa no aeroporto, e quanto é que este novo adiamento vai custar. Pedem ainda uma "investigação para eventual responsabilização" judicial da empreiteira e dos cidadãos envolvidos na primeira fase do projeto.
2022 é a nova data apontada para a conclusão do novo aeroporto internacional de Luanda. O aeroporto devia abrir portas este ano, mas, segundo o ministro dos Transportes, a construção está atrasada, e é preciso mais tempo para fazer correções de engenharia e funcionalidade.
O ministro Ricardo de Abreu disse, na semana passada, em conferência de imprensa, que é preciso garantir que o novo aeroporto seja moderno e confortável.
É preciso mais transparência
Mas, para o economista angolano Josué Chilundulo, só estas justificações não chegam. Chilundulo acusa o Governo angolano de falta de transparência em relação ao projeto.
"Uma vez que, a comunicação traz um conjunto de limitações não só por ausência de dados reais como também a clareza, se este redesenho decorre de uma falha inicial ou apenas é uma questão de atualização contextual do projeto, porque estamos a falar de um projeto que tem mais de 10 anos de execução", contesta o economista.
Segundo o Chilundulo, uma das razões para adiar o projeto pode ter sido a necessidade de redesenhar a nova estrutura aeroportuária, tendo em conta o crescimento económico da região e do continente africano na última década. Mas é preciso que o Governo diga aos angolanos as razões concretas para o adiamento, diz ainda o economista.
E o preço do adiamento?
E também é preciso saber quanto é que este adiamento vai custar, exige Chilundulo: "Ou seja, nós queremos ouvir do Governo, do ponto de vista real, o que é que isso vai custar mais para o Orçamento Geral do Estado. Que implicações isso terá a nível da linha de financiamento, já que o aeroporto está a ser financiado por uma linha de financiamento chinesa."
A consultora Fitch Solutions estima que a China emprestou a Angola mais de 6 mil milhões e meio de dólares para financiar o projeto.
Foi a empresa chinesa China Internacional Fund (CIF) que começou a construir o novo aeroporto internacional de Luanda, em 2004. As obras foram, no entanto, interrompidas "por inconformidades e incapacidade declarada desta entidade", segundo o ministro dos Transportes.
Falta transparência no caso do novo aeroporto de Luanda?
Gestão danosa?
O jurista angolano Agostinho Canando é de opinião que se deve começar por uma fiscalização económica e financeira por parte do Tribunal de Contas, para se apurar uma eventual gestão danosa dos recursos iniciais disponibilizados para a obra do novo aeroporto internacional de Luanda.
"Indícios esses que deverão ser confirmados. ou não, pela Procuradoria-Geral da República, que poderá remeter o assunto no âmbito penal e económico, para se apurar a veracidade dos factos quanto a má gestão ou a gestão danosa e não eficiente do novo aeroporto."
O economista Josué Chilundulo concorda que é preciso investigar o caso: "Do ponto de vista da contratação pública, quais serão as empresas que estarão envolvidas no processo, se há necessidade de algumas responsabilização de algum erro arquitetónico que tenha sido cometido pela empresa anterior."
Agora, é a empreiteira chinesa AVIC que é responsável pela finalização do novo aeroporto internacional de Luanda. Mas, segundo o economista, o Governo angolano também tem de dar mais explicações sobre o processo de contratação pública desta empresa.
De fortalezas a cinemas: o património colonial português em África
A colonização portuguesa nos países africanos deixou edificações históricas, que vão desde fortificações militares, igrejas, estações de comboio, até cinemas. Boa parte deste património ainda resiste.
Foto: DW/J.Beck
Calçada portuguesa
Na Ilha de Moçambique, antiga capital moçambicana, na província de Nampula, a calçada portuguesa estende-se à beira mar. A herança colonial que Portugal deixou aqui é imensa e está presente num conjunto de edificações históricas, entre fortalezas, palácios, igrejas e casas. Em 1991, este conjunto foi reconhecido como Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
A Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, começou a ser erguida pelos portugueses em 1554. O motivo: a localização estratégica para os navegadores. Ao fundo, vê-se a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, de 1522, que é considerada a mais antiga estrutura colonial sobrevivente no sul de África.
Foto: DW/J.Beck
Hospital de Moçambique
O Hospital de Moçambique, na Ilha de Moçambique, data de 1877. O edifício de estilo neoclássico foi durante muito tempo a maior estrutura hospitalar da África Austral. Atualmente, compõe o património de construções históricas da antiga capital moçambicana.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de Maputo
A Fortaleza de Maputo situa-se na baixa da capital moçambicana e é um dos principais monumentos históricos da colonização portuguesa no país. O espaço foi ocupado no início do século XVIII, mas a atual edificação data do século XX.
Foto: DW/J.Beck
Estação Central de Maputo
Desde a construção da Estação Central dos Caminhos-de-Ferro (foto) na capital moçambicana, no início do século XX, o ato de apanhar um comboio ganhou um certo charme. O edifício, que pode ser comparado a algumas estações da Europa, ostenta a uma fachada de estilo francês. O projeto foi do engenheiro militar português Alfredo Augusto Lisboa de Lima.
Foto: picture-alliance / dpa
Administração colonial portuguesa em Sofala
Na cidade de Inhaminga, na província de Sofala, centro de Moçambique, a arquitetura colonial portuguesa está em ruínas. O antigo edifício da administração colonial, com traços neoclássicos, foi tomado pela vegetação e dominado pelo desgaste do tempo.
Foto: Gerald Henzinger
"O orgulho de África"
Em Moçambique, outro de património colonial moderno: o Grande Hotel da Beira, que foi inaugurado em 1954 como uma das acomodações mais luxuosas do país. O empreedimento português era intitulado o "orgulho de África". Após a independência, em 1975, o hotel passou a ser refúgio para pessoas pobres. Desde então, o hotel nunca mais abriu para o turismo.
Foto: Oliver Ramme
Cidade Velha e Fortaleza Real de São Filipe
Em Cabo Verde, os vestígios da colonização portuguesa espalham-se pela Cidade Velha, na Ilha de Santiago. Entre estas construções está a Fortaleza Real de São Filipe. A fortificação data do século XVI, período em que os portugueses queriam desenvolver o tráfico de escravos. Devido à sua importância histórica, a Cidade Velha e o seu conjunto foram consagrados em 2009 Património Mundial da UNESCO.
Foto: DW/J. Beck
Património religioso
No complexo da Cidade Velha está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, conhecida por ser um dos patrimónios arquitetónicos mais antigos de Cabo Verde, com mais de 500 anos. Assim como em Cabo Verde, o período colonial português deixou outros edifícios ligados à Igreja Católica em praticamente todos os PALOP.
Foto: DW/J. Beck
Palácio da Presidência
Na cidade da Praia, em Cabo Verde, a residência presidencial é uma herança do período colonial português no país. Construído no século XIX, o palácio abrigou o governador da colónia até a independência cabo-verdiana, em 1975.
Foto: Presidência da República de Cabo Verde
Casa Grande
Em São Tomé e Príncipe, é impossível não reconhecer os traços da colonização portuguesa nas roças. Estas estruturas agrícolas concentram a maioria das edificações históricas do país. A imagem mostra a Casa Grande, local onde vivia o patrão da Roça Uba Budo, no distrito de Cantagalo, a leste de São Tomé. As roças são-tomenses foram a base económica do país até a indepência em 1975.
Foto: DW/R. Graça
Palácio reconstruído em Bissau
Assim como em Cabo Verde, na Guiné-Bissau o palácio presidencial também remonta o período em que o país esteve sob o domínio de Portugal. Com arquitetura menos rebuscada, o palácio presidencial em Bissau foi parcialmente destruído entre 1998 e 1999, mas foi reconstruído num estilo mais moderno em 2013 (foto de 2012). O edifício, no centro da capital guineense, destaca-se pela sua imponência.
Foto: DW/Ferro de Gouveia
Teatro Elinga
O Teatro Elinga, no centro de Luanda, é um dos mais importantes edifícios históricos da capital angolana. O prédio de dois andares da era colonial portuguesa (século XIX) sobreviveu ao "boom" da construção civil das últimas décadas. Em 2012, no entanto, foram anunciados planos para demolir o teatro. Como resultado, houve fortes protestos exigindo que o centro cultural fosse preservado.
Foto: DW
Arquitetura colonial moderna
O período colonial também deixou traços arquitetónicos modernos em alguns países. Em Angola, muitos cinemas foram erguidos nos anos 40 com a influência do regime ditatorial português, o chamado Estado Novo. Na foto, o Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes), um dos mais antigos do país, é um exemplo. Foi o primeiro edifício de arquitetura "art déco" na cidade de Namibe.