Pelo menos 13 civis morreram num ataque dos rebeldes das Forças Democráticas Aliadas (ADF) no nordeste da República Democrática do Congo (RDC). Reino Unido desaconselha viagens à região. OMS retira funcionários do local.
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"É exatamente o que acabámos de viver e ver. Os corpos foram transportados para o hospital de Boikene, perto da cidade de Beni. Alguns corpos ainda estavam a sangrar quando os primeiros socorros chegaram ao local", confirmou este sábado (30.11), em declarações à agência espanhola EFE, um ativista local, identificado como Angelus Kavuthirwaki.
O ataque aconteceu na sexta-feira (29.11) à tarde em Maleki, na província do Kivu Norte, e ocorreu três dias depois de outro ataque na mesma localidade, também atribuído às ADF, que matou outros 14 civis.
Em declarações via telefone, Angelus Kavuthirwaki precisou que as vítimas civis do ataque de sexta-feira (29.11) - oito mulheres, duas crianças e três homens - estão na morgue do hospital de Boikene, que está atualmente sob a proteção das forças da Missão da ONU na República Democrática do Congo (MONUSCO) e de unidades policiais congolesas.
Entretanto, este sábado (30.11), em Beni, populares lincharam um homem e uma mulher que, segundo eles, pertenceiam à milícia da ADF. Os dois alegados membros foram mortos por um grupo de cidadãos que aguardavam entre a multidão a chegada de um comboio militar da MONUSCO. Os dois membros neutralizados carregavam mochilas com munições, escreve a AFP.
Os ataques das ADF têm surgido em reação à ofensiva lançada pelo exército congolês contra estas forças rebeldes, manobras que têm causado protestos por parte da população local devido à falta de segurança.
As ADF iniciaram a sua campanha de violência em 1996 no oeste do Uganda, país que faz fronteira com a RDC, como uma resposta política ao regime do presidente ugandês, Yoweri Museveni.
A pressão militar do regime ugandês forçou a deslocação do grupo rebelde para a fronteira com a RDC, onde tem levado a cabo várias ações, nomeadamente pilhagens, na província do Kivu Norte.
Reino Unido desaconselha viagens
O Governo do Reino Unido emitiu na sexta-feira (29.11) um boletim em que desaconselhou a realização de viagens ao extremo-norte e a toda a região leste da RDC.Num comunicado divulgado no portal do Governo, são desaconselhadas "todas as viagens às províncias de Kasai, Kasai Central, Kasai Oriental, Alto Uele, Alto Lomami, Ituri, Kivu-Norte (exceto a cidade de Goma), Kivu-Sul (exceto cidade de Bukavu), Maniema e Taganyika", no leste da RDC".
As recomendações e alertas estão contidos num comunicado do Departamento de Estrangeiros e da Comunidade Britânica. No documento, as autoridades britânicas alertam para a possibilidade de concentrações públicas e manifestações que "podem ser convocadas com pouco ou nenhum aviso prévio", acrescentando que estas "rapidamente se podem tornar violentas na RDC".
A missiva aponta que a situação de segurança na RDC "continua instável", citando que "a contínua presença de grupos armados, operações militares contra estes, a violência comunitária e o fluxo de refugiados de países vizinhos" contribui para "a deterioração da situação política, humanitária e de segurança".
OMS também suspendeu resposta ao surto de ébola
Na quinta-feira (28.11), a Organização Mundial de Saúde (OMS) informou que suspendeu as operações na cidade congolesa de Biakato após dois ataques a centros de prevenção do ébola na região.
O ataque ao campo de prevenção e resposta, em Biakato, na sequência do qual um membro da equipa de vacinação e dois motoristas morreram, fez com que muitos dos funcionários da OMS e outras agências a trabalhar na zona, num total de cerca de 200 pessoas, fossem retirados de Biakato, disse então o diretor da organização para emergências na área da saúde, Michael Ryan.
Os ataques são, segundo a OMS, os piores sofridos este ano pelas unidades sanitárias, dependentes desta e de outras organizações internacionais no combate ao surto de ébola naquela zona, onde este ano ocorreram centenas de incidentes deste tipo, que causaram sete mortos e 77 feridos, recordou Ryan.
O atual surto de ébola, que abala a RDC desde agosto de 2018, já causou 2.199 mortes e infetou 3.304 pessoas, é o segundo pior desde que a doença foi conhecida, superado apenas pela epidemia que atingiu a África Ocidental entre 2014 e 2016.
RDC: A luta dos bonobos pela sobrevivência
Estes chimpanzés são os parentes mais próximos dos humanos. Mas o homem é o seu maior inimigo. Na República Democrática do Congo (RDC), cientistas e ambientalistas tentam evitar a extinção dos primatas.
Os bonobos – os chimpanzés-anões da República Democrática do Congo – estão ameaçados de extinção. Há 40 anos, ainda havia cerca de 100.000, mas hoje restam apenas 20.000. A maior ameaça é o homem. Os bonobos são capturados e vendidos como animais de estimação. A carne é considerada "exótica" e vendida nos mercados locais. Com a desflorestação, estes animais estão a perder o seu habitat natural.
Os bonobos existem apenas na República Democrática do Congo. Esses chimpanzés vivem na Bacia do Congo, uma enorme floresta no oeste do país que tem quase três vezes o tamanho da França. Esta região faz fronteira com vários rios, incluindo o rio Congo. Os pesquisadores acreditam que os macacos nunca saíram da região porque não sabem nadar.
Segundo cientistas, 98% do DNA dos bonobos são idênticos ao dos humanos. Isso significa que os bonobos são mais próximos de nós do que os gorilas. Este facto também explica as muitas semelhanças entre estes chimpanzés e os humanos. Mas existem algumas diferenças significativas. Por exemplo, os bonobos podem sofrer de doenças como a SIDA, mas são imunes à malária.
Foto: picture-alliance/imageBROKER/I. Kuzmin
"Façam amor, não façam guerra"
Os bonobos vivem deste princípio: "façam amor, não façam guerra". Estes chimpanzés evitam lutar. E em situações conflituosas, procuram a pacificação social. Eles abraçam-se e compartilham, em vez de lutar. O principal método para resolver as tensões é fazer sexo ou trocar carícias. A principal razão pela qual os bonobos são tão pacíficos é que as mulheres estão no comando.
"O paraíso dos bonobos" é como é chamada a única área protegida do mundo para os bonobos órfãos. Este sítio fica a pouco mais de meia hora de carro da capital, Kinshasa. O chamado "Lola ya Bonobo" foi fundado em 1994 por Claudine Andre. Os bonobos que são recuperados antes de serem vendidos nos mercados locais recebem cuidados e depois são reintegrados na floresta.
Foto: DW/S. Fröhlich
Preparação para a selva
A reserva "Lola ya Bonobo" tem 75 hectares de floresta tropical e é o lar de mais de 60 bonobos. Os animais encontrados e capturados recebem cuidados e depois são preparados juntamente com outros membros da reserva para um futuro em liberdade. Desde 2009, os funcionários da área de proteção colocaram dois grupos de bonobos órfãos de volta à vida selvagem.
Foto: DW/S. Fröhlich
A terra dos bonobos
Assim que os bonobos se tornam adultos o suficiente, eles regressam à selva. São levados em grupos para uma reserva protegida de mais de 20.000 hectares na província de Équateur. Essa reserva chama-se "Ekolo ya Bonobo", que significa "terra dos bonobos". O objetivo é expandir essa área para cerca de 100.000 hectares, a fim de proteger os bonobos a longo prazo.
Os bonobos que perderam as suas mães por causa da violência ficam frequentemente traumatizados. Os pequenos chimpanzés precisam do amor das mães até que completem quatro anos de idade, caso contrário, morrem devido ao stress. Por esse motivo, os bebés recebem uma mãe substituta humana, que cuida deles o dia inteiro e lhes dá segurança para sobreviver. Ela até coloca os bonobos na cama.
Foto: DW/S. Fröhlich
Educação contra extinção
Mais de 30.000 pessoas visitam a reserva a cada ano. A maioria são crianças congolesas em atividades escolares. A iniciativa por trás da "Lola ya Bonobo" centra-se na educação e no esclarecimento para acabar com a caça aos bonobos. Os visitantes são orientados por um guia e educados pelos guardiões locais sobre a vida dos chimpanzés.
Foto: DW/S. Fröhlich
De inimigos a amigos?
Ambientalistas estimam que restam apenas 75 anos de sobrevivência aos bonobos. Se os seres humanos não mudarem o seu comportamento e não garantirem um futuro seguro a esses animais na República Democrática do Congo, os bonobos poderão ser extintos o mais tardar até 2100. Portanto, é importante que o maior inimigo dos bonobos, o homem, se torne o seu melhor amigo.