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PolíticaGuiné Equatorial

Guiné Equatorial: Novo Governo favorece filho de Obiang

Lusa
3 de fevereiro de 2023

O Presidente afastou um dos filhos, Gabriel Obiang Lima, da pasta dos Petróleos no novo Governo e entregou-a a um próximo do filho 'Teodorín', que "reforça a ascensão ao poder", segundo opositores e ativistas.

Äquatorialguinea | Vizepräsident Teodoro Nguema Obiang Mangue
Foto: Michele Spatari/AFP/Getty Images

"O que mais salta à vista neste novo Governo é o sinal de força que dão 'Teodorín' [Teodoro Nguema Obiang Mangue, vice-presidente, filho mais velho do Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo] e a sua mãe [Constancia Mangué Nsue Okomo], com o poder que passaram a ocupar dentro do regime", sublinhou em declarações à Lusa o líder da oposição da Guiné Equatorial, Andrés Esono Ondo, líder da Convergência para a Democracia Social (CPDS).

De acordo com um decreto presidencial que nomeia os 32 novos membros do Governo em Malabo, divulgado esta quinta-feira (02.02) à noite, Gabriel Obiang Lima passa a ocupar a pasta da Planificação e Diversificação Económica, o que, na expressão de um ativista defensor dos direitos humanos, que falou sob condição de anonimato, significa que "foi defenestrado".

"A primeira-dama e o seu filho moveram uma peça importante, afastando do Ministério das Minas um dos possíveis sucessores do Presidente, e colocaram nesse lugar uma pessoa do círculo próximo", reforçou Andrés Esono.

Gabriel Obiang Lima esteve dez anos à frente do Ministério das Minas e Hidrocarbonetos, que assumiu em 2012 e no qual foi reconduzido em 2016 com a restruturação da administração do país, mas trabalha no setor do petróleo e gás desde 1997, tendo ocupado os cargos de vice-ministro, secretário de Estado das Minas e Hidrocarbonetos e conselheiro presidencial para os Hidrocarbonetos.

Filho da segunda mulher de Teodoro Obiang - a são-tomense Celestina Lima -, Gabriel Obiang Lima é licenciado em Economia pela Universidade de Alma Dallas no Texas, Estados Unidos, e passa a ocupar a pasta do Planeamento e Diversificação Económica, porque "não podia ser deixado de fora", segundo um ativista do Centro de Estudos e Iniciativas para o Desenvolvimento (CEID, uma organização de desenvolvimento e defesa dos direitos humanos na Guiné Equatorial), que pediu para não ser identificado.

"A perda do Ministério das Minas por Gabriel Obiang Lima é um facto a ter em conta, é uma manifestação clara de posicionamento do núcleo do vice-presidente Teodoro Obiang Mangue e da sua mãe, que neste governo sai muito reforçado na guerra pela sucessão do patriarca”, afirmou à Lusa Joaquín Elo Ayeto, coordenador da plataforma Somos+, uma organização equato-guineense defensora dos direitos humanos.

Líder da oposição da Guiné Equatorial, Andrés Esono Ondo, presidente da Convergência para a Democracia Social (CPDS)Foto: DW/M. Samuel Obiang Mbana

Afastamento de Gabriel Obiang Lima

A pasta dos Hidrocarbonetos vai ser liderada por Antonio Oburu Ondó, até agora presidente executivo da GEPetrol, a petrolífera nacional equato-guineense. Oburu é casado com Cándida Okomo Nsue Mensa, uma sobrinha de Constancia Mangue, que era até agora vice-presidente da GEPetrol.

Para o afastamento de Gabriel Obiang Lima, aventou Elo Ayeto, poderá ter tido influência "a construção da refinaria de petróleo, um projeto do vice-presidente ['Teodorín'] com o apoio da GEPetrol [Oburu Ondó], que não teve o apoio do Ministério das Minas e Hidrocarbonetos [Gabriel Obiang Lima]”.

O mais relevante, no entanto, é que "há um reforço do poder de 'Teodorín', que está a ganhar o espaço necessário para a qualquer momento chegar à liderança do país”, assinalou, igualmente sob condição de anonimato, um analista, membro da APROFOR - uma plataforma apoiada pela União Europeia de apoio, proteção e fortalecimento de ativistas e organizações da sociedade civil na defesa dos direitos humanos na Guiné Equatorial.

Também para este analista, a nomeação do "agora ministro das Minas, que esteve envolvido em vários casos de corrupção dentro e fora da Guiné Equatorial" tem "o dedo" da primeira-dama, cuja influência é "igualmente clara na nomeação da nova primeira-ministra, Manuela Roka Botey”.

"Em relação à primeira-ministra, uma pessoa próxima da primeira-dama, há duas coisas importantes: é mulher e é de etnia bubi, natural da ilha de Bioko. Há anos que os bubi pediam a condução do governo, porque historicamente os chefes de Governo eram sempre da ilha, até que há uma década e meia começaram a nomear gente que não era dali”, apontou a fonte da APROFOR.

Joaquín Elo Ayeto sublinhou igualmente o objetivo duplo pretendido com a escolha de Manuela Roka Botey para coordenar o próximo Governo: "A inclusão da minoria étnica bubi, e assim atenuar tensões internas; e jogar a carta da igualdade de género para seduzir a opinião pública internacional, tão crítica” em relação ao poder na Guiné Equatorial.

De acordo com Elo Ayeto, a divulgação nas últimas semanas de um vídeo nas redes sociais em que três homens armados de etnia bubi, completamente encobertos, declaram o início de uma rebelião pela independência da ilha de Bioko, "adquire maior importância” com a nomeação de Roka Botey.

Gabriel Obiang Lima passa a ocupar a pasta da Planificação e Diversificação EconómicaFoto: DW/C. Vieira Teixeira

Influência de 'Teodorín' na constituição do novo governo

Andrés Esono acrescentou outros exemplos da influência de Constancia Mangué e do filho 'Teodorín' na constituição do novo governo. É o caso do novo ministro da Justiça, Sergio Esono Abeso Tomo, antigo presidente do Supremo Tribunal, advogado de 'Teodorín' no processo dos bens mal adquiridos em França, que recentemente conheceu um novo desenvolvimento com a venda de património confiscado ao vice-presidente pelo Estado francês na ordem dos 10 milhões de euros.

Outro dos exemplos apontados pelo político é o da nova ministra da Informação, Pamela Nze Eworo, ex-diretora da Fundação Constancia Mangué Nsue Okomo.

"A primeira-dama colocou nessa função uma pessoa muito próxima, que conduzia a direção e as relações públicas da sua fundação”, afirmou Andrés Esono. "Entrega-lhe controlo dos meios de comunicação, rádio e televisão, que são os instrumentos de propaganda do regime”, disse.

O novo ministro das Finanças, Fortunato Ofa Mbo Nchama, foi diretor do Banco de Desenvolvimento dos Estados da África Central (BDAC) e também "é um colaborador próximo da primeira-dama”, recordou Esono.

"É a pessoa que conseguiu que o BDAC concedesse um crédito importante à Guiné Equatorial para a promoção dos pequenos empreendedores, e o que se fez com esse crédito foi convertê-lo numa obra da primeira-dama”, que o "geriu diretamente", segundo o líder da CPDS. "Esses bons ofícios valeram-lhe agora o cargo de ministro das Finanças”, acrescentou.

"Os governos de Obiang não servem para resolver problemas, servem para manter o nepotismo e a rede de clientes políticos, são cada vez mais. De tal forma que o regime vê-se obrigado a criar mais cargos para manter estas pessoas. É o exemplo do novo Ministério da Eletricidade, que não existia”, ilustrou Esono Ondo.

Gervasio Engonga Mba é o novo ministro do novo Ministério da Eletricidade e Energias Renováveis. Com Benjamín Bakale Nkar, novo ministro do Comércio, Indústria e Promoção Empresarial, e de Norberto Bartolomé Monsuy Mañe, novo ministro da Aviação Civil, faz parte do núcleo de "jovens endinheirados" saídos da ASHO, uma associação juvenil do Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE, no poder), criada e dirigida por 'Teodorín', que lhes ofereceu os cargos ministeriais, segundo a fonte da CEID.

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